Mudança de hora na madrugada deste domingo: 11 perguntas e respostas sobre um regime que não é consensual
Jordan Lye
Regressa, na madrugada deste domingo, o horário de verão. O Expresso preparou um conjunto de perguntas e respostas sobre a mudança da hora, um tema que tem suscitado debate nos últimos anos, com opiniões que se dividem
A partir deste fim de semana, os dias ficam mais longos. Os relógios são adiantados uma hora na madrugada deste domingo. A mudança da hora em Portugal acontece duas vezes por ano, há mais de 100 anos, com os ponteiros a avançarem uma hora no último domingo de março e a recuarem no último domingo de outubro. Saiba mais detalhes sobre este processo.
1.
Quando muda a hora?
Na madrugada de domingo, dia 29 de outubro. Em Portugal continental e na Madeira, os relógios devem ser atrasados 60 minutos às 2h, passando para a 1h. Nos Açores, a alteração ocorre à 1h, recuando os ponteiros do relógio para a meia-noite.
O regime da mudança da hora é regulado por uma diretiva europeia de 2000, que define que a entrada no horário de verão ocorre no último domingo de março e termina no último domingo de outubro.
3.
Quais as datas de mudança previstas até 2026?
No próximo ano, a alteração será nos dias 31 de março e 27 de outubro. Em 2025, está prevista para 30 de março e 26 de outubro. Já em 2026, fixa-se nos dias 29 de março e 25 de outubro.
Em 2019, o Parlamento Europeu votou a favor do avanço da medida, a implementar a partir de 2021. No entanto, uma vez que a decisão também depende do Conselho, tal não chegou a acontecer: os governos não chegaram a acordo e não há previsão para o assunto ser retomado.
Em 2018, um relatório do Observatório Astronómico de Lisboa defendia que “a melhor solução” para o país é a que “atualmente existe”. Ainda assim, sugeria que “poderia ser ainda melhor se a transição em outubro” fosse antecipada para “finais de setembro”.
Manter o horário de inverno significaria ter o sol “a nascer perto das 5h na altura do verão, ou seja, uma madrugada de sol desaproveitada seguida de um final de tarde com menos uma hora de sol, fatores que não são positivos nas atividades da população”. Ao passo que, mantendo a hora de verão, “o sol nasceria entre as 8h e as 9h durante quatro meses do ano, no inverno, com impactos negativos”, por exemplo nas deslocações para a escola e trabalho, com pouca luz.
Na altura, também o primeiro-ministro considerou que se deveria manter a hora de verão e a de inverno. “Não vejo razão para que se contrarie a ciência e se faça algo de forma discricionária”, afirmou António Costa.
A Associação Portuguesa do Sono defende a abolição da mudança de hora bianual e a permanência no horário de inverno. A organização aponta problemas associados à hora de verão, como a menor duração do sono e a maior frequência de acidentes de viação, além de, a longo prazo, existir uma “maior propensão” para doenças como diabetes, cancro ou obesidade.
Em outubro do ano passado, um grupo de especialistas de organizações internacionais – como a Aliança Internacional pela Hora Natural, a Sociedade Europeia de Ritmos Biológicos e a Associação Médica Europeia – propôs o fim da mudança da hora na União Europeia e o alinhamento dos fusos horários dos diferentes países.
Os peritos já tinham assinado, em 2021, a Declaração de Barcelona sobre Políticas do Tempo, defendendo que as mudanças de hora “não têm efeitos significativos na poupança energética” e que a manutenção do mesmo horário “melhora a saúde, a economia, a segurança e o meio ambiente”.
7.
O que fazer para facilitar a adaptação à alteração?
A mudança não ocorre apenas nos ponteiros do relógio: também tem impacto no ser humano, que tem de adaptar o “relógio interno”, explica a Associação Portuguesa do Sono. Cada pessoa tem um ritmo circadiano que é regulado por diferentes fatores, entre os quais a luz natural, que é dos mais importantes – influencia a secreção da melatonina que regula o grau de sonolência na preparação para a noite.
A adaptação à transição varia conforme as pessoas e pode levar até uma semana, podendo afetar particularmente as crianças. Algumas recomendações passam por seguir as rotinas habituais, nomeadamente de horário para deitar e de refeições, evitar dormir a sesta (especialmente ao fim da tarde), reforçar a exposição à luz natural de manhã e evitar a luz de equipamentos eletrónicos à noite.
Mas quando é que começou a mudança de horário? E porquê?
A primeira mudança de hora aconteceu oficialmente em 1916, quando os relógios do Império Alemão foram adiantados uma hora no dia 30 de abril. O objetivo era minimizar a utilização de iluminação artificial, de forma a poupar combustível para o esforço de guerra – a Primeira Guerra Mundial começara dois anos antes.
9.
O que aconteceu em Portugal?
A ideia alemã foi seguida por outros países, como Reino Unido, França e Portugal. Após o final da guerra, em 1918, a hora de verão continuou a ser implementada no nosso país praticamente sempre até hoje, com exceção de alguns anos (1922, 1923, 1925, 1930 e 1933), de acordo com os dados do Observatório Astronómico de Lisboa.
10.
Quando foi a última vez em que o regime foi diferente?
Em 1992, um decreto-lei do Governo liderado por Aníbal Cavaco Silva estabeleceu que o país passava a estar, durante o horário de inverno, 60 minutos adiantado face ao Tempo Universal Coordenado e, durante a hora de verão, o avanço era de 120 minutos. Ou seja, foi adotada a hora da Europa Central. A decisão foi justificada – num contexto de “convergência económica determinada pela integração” europeia – pela necessidade de Portugal acompanhar, “nos horários de trabalho”, os países com quem mantinha “mais frequentes contactos”. Tal significava que, no inverno, amanhecia tarde e, no verão, o dia podia estender-se até para lá das 22h. Em 1996, já com o então primeiro-ministro António Guterres, o país regressou ao regime anterior – e que ainda se mantém.
11.
Como funciona no resto do mundo?
Depois de várias oscilações ao longo do tempo e entre nações, hoje em dia a maioria dos países europeus muda a hora duas vezes no ano, o que acontece também nos Estados Unidos e no Canadá. Mas esta não é a opção mais comum: atualmente, menos de 40% dos países a nível global fazem a alteração – embora 143 já a tenham adotado em algum momento.