Enquanto se fazem as contas ao que vai ser necessário investir para reabilitar os mais de 25 mil hectares ardidos no Parque Natural da Serra da Estrela, outros números vão surgindo. E se este ano houve menos ocorrências do que a média (cerca de 9 mil), também é certo que já se ultrapassou a fasquia dos 100 mil hectares ardidos.
Até esta terça-feira, arderam 103.332 hectares em território continental, segundo dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Já se ultrapassou, em muito, a meta dos 60 mil hectares por ano, ambicionada no Plano Nacional de Ação, e a área queimada é quatro vezes maior do que em 2021 (27 mil ha). Recorde-se, porém, que, em 2017, arderam mais de 500 mil ha.
Só no Parque Natural da Serra da Estrela o fogo devastou este ano 25 mil hectares, em duas semanas, “um terço da área devido a uma reativação”, lembra ao Expresso o especialista Paulo Fernandes, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. E esta terça-feira, acrescenta, “houve uma reativação no Alvão, devido também a um mau rescaldo”, que permitiu que as chamas entrassem na área protegida.
“Ontem andaram aqui no Alvão dois aviões Canadair a lançar água numa frente de 100 metros sem conseguir apagar o fogo”, conta o investigador da UTAD, que defende “uma melhor articulação entre os diferentes meios no terreno para conseguir fechar perímetros”.
As imagens de satélite apontam para mais de 4500 hectares ardidos no Alvão, perto de 200 ha após a reativação, e é um dos 18 incêndios ainda em curso no final da tarde desta terça-feira. Além destes, encontravam-se em resolução outros 10 e em conclusão 35, envolvendo 2354 operacionais, 698 meios terrestres e 24 meios aéreos.
Reabilitação da serra da Estrela pode derrapar
Entretanto, estão por apurar os danos e prejuízos do incêndio da Serra da Estrela. O Governo comprometeu-se em avançar em breve com apoios sociais às pessoas afetadas e ajuda para a alimentação dos animais e concluir em 15 dias o levantamento dos danos causados e das medidas que devem ser colocadas no terreno "ao abrigo do 'estado de calamidade'”. E anunciou que numa terceira fase, apontada para setembro, será apresentado "um plano de revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela" para tornar esta área protegida "mais resiliente", nas palavras da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
“É melhor esperar para ver o que vai ser esta reabilitação”, diz Paulo Fernandes. Isto porque, esclarece o investigador, “normalmente são processos longos e o dito trabalho de emergência acaba por ser feito anos depois, quando a natureza já está a reagir sozinha”. A razão para estes atrasos prende-se com a falta de mecanismos expeditos que agilizem os investimentos necessários no tempo certo.
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