Sociedade

De onde vem o Dia de São Valentim? Não é bonito

De onde vem o Dia de São Valentim? Não é bonito
Justin Sullivan

Era uma vez um homem que não ligou nenhuma às regras de um imperador romano e que depois se apaixonou

Sem cores de flores, ruído bom nem reservas para dois. Este é um texto sobre hipóteses, ou sobre uma principal hipótese. Não há certezas, embora haja um ligeiro consenso, sobre a origem do 14 de fevereiro, o dia de São Valentim, ou Dia dos Namorados.

O São Valentim poderá ter sido inspirado em dois homens, mas, e embora supostamente tenham sido executados pelo império romano em alturas diferentes, suspeita-se que possam ser a mesma pessoa, a mesma trama, pode ler-se no site do Canal História. Ou seja, o verdadeiro Valentim. E este senhor era um padre ou bispo que, ignorando as regras do império, continuou a celebrar casamentos e matrimónios. Cláudio II, o imperador romano, preferia soldados solteiros, quem sabe despreocupados na hora de fazer sangrar a alma dos corpos alheios. Valentim, ou pelo menos um dos homens mencionados em cima, terá sido preso e depois decapitado a 14 de fevereiro do ano 271.

Há outra versão da história. Entre 13 e 15 de fevereiro, os romanos celebravam a festa de Lupercalia, conta a NPR. Reza a bizarra lenda que sacrificavam uma cabra e um cão antes de as mulheres serem açoitadas com as peles desses animais. Aquela rádio norte-americana, num artigo de 2011, ouviu um historiador da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, e este revelou que os romanos estavam normalmente bêbados. As mulheres, contou Noel Lenski, faziam fila para serem açoitadas por estes homens.

Por alguma razão havia a teoria de que isso contribuiria para a fertilidade. Na altura, havia também um sorteio: os jovens romanos escolhiam à sorte o nome das raparigas num papel que estava numa jarra. O casal pintado de fresco não descolava durante o festival. Uns ficavam-se por ali, outros continuariam juntos, casando até. Este dia festivo seria substituído, algures no século V, pelo Dia de São Valentim. Por isso circula a teoria desse dia estar associado ao romance ou ao início de um amor.

A NPR também admite a já mencionada história dos dois Valentins, decapitados às mãos dos carrascos de Cláudio II, num qualquer 14 de fevereiro. O martírio ganhou então relevo na Igreja Católica e passou a celebrar-se o Dia de São Valentim.

O portal de notícias brasileiro “G1”, da Globo, que também bebe da teoria do padre benfeitor e rebelde, junta uma nova história. Quando estava na prisão, Valentim terá sentido uma pontada no coração. Era amor, a culpa era da filha de um carcereiro. No dia em que seria decapitado, enviou uma carta de amor à rapariga, assinando “do teu Valentim”. É outra hipótese para associarmos as cartas de amor e romance ao 14 de fevereiro.

Nas páginas do Expresso já havíamos observado tal referência. Foi em 2011 (AQUI). “Engaiolado, Valentim recebeu a filha do carcereiro, a bela Asterias”, conta o escriba. “Asterias não via nada. Era invisual. Apaixonou-se por Valentim. Daqui a sabedora constatação, para o fim dos tempos, de que o amor continua cego depois de o ser.” Reza a lenda, mais uma, que Valentim terá devolvido a visão a Asterias, mas isso teve um preço. “O milagre deu-se”, continua. “Mas, como não há milagres perfeitos, Valentim ficou cego de amor por Asterias. (...) Umas simples cartinhas platónicas devem ter ajudado à glorificação do santo.”

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