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“Não foram 10 pessoas que foram ameaçadas, foram 10 milhões.” Manifestação antifascista juntou jovens que não querem “perder Abril”

“Não foram 10 pessoas que foram ameaçadas, foram 10 milhões.” Manifestação antifascista juntou jovens que não querem “perder Abril”
José Fernandes

Centenas de pessoas juntaram-se domingo à tarde na Praça Luís de Camões, em Lisboa, para garantir a todo o país que os fascistas portugueses “não passarão”. Autoridades admitiram a presença da extrema-direita - pode ter estado, mas o ódio permaneceu em silêncio. Uma manifestação que “não devia ter de acontecer no século XXI”, mas necessária: “Em Portugal, o fascismo é uma doença adormecida”, disse uma estudante de 21 anos ao Expresso. Gil Garcia concorda: “Há que sair à rua antes que seja tarde demais”

“Não foram 10 pessoas que foram ameaçadas, foram 10 milhões.” Manifestação antifascista juntou jovens que não querem “perder Abril”

Tiago Soares

Jornalista

Carlos Barros foi o primeiro a chegar. “Estava em casa, soube do que ia acontecer pela televisão, vim a correr. Nunca fui a nenhuma manifestação, mas nos últimos tempos tenho dado mais atenção à política e não concordo com o que está a acontecer”, explica ao Expresso o jovem de 20 anos, estudante, trabalhador, “parte da comunidade LGBT”, brasileiro no papel, português no coração. Recusa-se a falar do problema em abstracto: aponta o dedo ao discurso de André Ventura, à intolerância que demonstra, às medidas que o líder do Chega propõe - como a castração química. “Nada daquilo faz sentido, estamos na Europa, no século XXI...”

O jovem garante que André Ventura está a contribuir para o ressurgir da extrema-direita em Portugal. “A vigília que fizeram em frente ao SOS Racismo, e as ameaças por e-mail a deputadas e ativistas... Aquilo deixa-me tão triste e afetam a minha relação com o país. Comecei a pensar: será que estou confortável a viver cá?”.

Carlos começa a ganhar conforto e a vencer a timidez quando chegam membros da Frente Unitária Antifascista (FUA), a associação que organizou este domingo a manifestação antifascista, na Praça Luís de Camões, em Lisboa. O evento, que também aconteceu no Porto, teve o objetivo de ripostar contra os acontecimentos das últimas semanas: dez cidadãos portugueses foram ameaçados de morte por grupos nacionais de extrema-direita (Resistência Nacional e Nova Ordem de Avis). “Não passarão”, letras negras em fundo branco em harmonia, é a primeira tarja - e a primeira mensagem que o grupo mostra.

Todos os membros da FUA têm máscaras covid-19, mas alguns usam máscaras ou cachecóis para resguardar a cara. Não falam com jornalistas, com duas excepções: “Estou a usar máscara para salvaguardar a minha identidade. O meu nome não está na lista e não quero que vá lá parar”, diz uma jovem em palavras rápidas e incisivas, vestida de negro, bandeira vermelha “ANTIFA” às costas, 28 anos, portuguesa e acabada de chegar do Reino Unido, onde trabalhou até ao início da pandemia.

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