Faltavam 15 minutos para as oito da noite quando foi dado o alerta: uma pequena embarcação com vários homens a bordo estava na praia da Ilha do Farol, em Faro. Ao contrário de qua aconteceu há meses, o caso já não apanha as autoridades completamente desprevenidas: é a quinta vez que isto acontece desde dezembro do ano passado. No total, 48 homens desembarcaram na região do Algarve - só um deles recebeu o estatuto de refugiado em Portugal. Este terça-feira, chegaram mais 21 e sobre eles ainda muito pouco se sabe.
Contactada pelo Expresso, fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) disse ainda não haver informação disponível para confirmar a origem, a nacionalidade ou as idades dos homens. A embarcação “de madeira” onde viajava o grupo era “semelhante” a outras que chegaram anteriormente à costa algarvia, referiu o comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão, citado pela Lusa. Tinha um motor de reserva, traziam alguns telemóveis e comida.
Sabe-se que devem ser do norte de África. “Aparentemente marroquinos", referiu o comandante. E, possivelmente, partiram da mesma cidade de onde saíram quatro grupos antes deles em direção também ao Algarve. El Jadida, não muito longe de Casablanca, Marrocos, tem sido a cidade de onde as embarcações têm partido e, embora o ministro da Administração Interna recuse que esta seja uma nova rota migratória - assim como também a Organização Internacional das Migrações, que justifica ser ainda muito cedo e casos muito esporádicos para assumir que se trata de uma tendência -, “há quem esteja a ganhar dinheiro” com as viagens para Portugal, mas ainda de forma “pouco organizada”.
21 julho | Ilha do Farol
21 homens
À hora de publicação deste texto ainda não estavam oficialmente confirmadas as idades e nacionalidades dos 21 homens. Desconhece-se se pediram asilo.
15 junho | Praia de Vale do Lobo
22 homens
Foram detetados durante a madrugada ainda antes de chegarem ao destino. Ao contrário do que até então tinha acontecido, nenhum deles pediu proteção internacional a Portugal. Foram presentes ao Tribunal Judicial de Loulé, “tendo-lhes sido aplicada a medida de coação de instalação em Centro de Instalação Temporária para afastamento de território nacional no âmbito do processo de expulsão por entrada e permanência irregular”.
6 de junho | Olhão
7 homens
Um barco também com origem em El Jadida trazia sete pessoas a bordo. Tratava-se de um grupo só de homens, com idades entre os 20 e os 30 anos, que foi acolhido pelo Conselho Português para os Refugiados. Todos pediram para serem acolhidos. “Ainda estão à espera para serem ouvidos e aguardam a decisão sobre os pedidos. Mas as audiências já estão marcadas”, garantia o SEF em junho.
29 de janeiro | Ilhas da Armona e Culatra
11 homens
Um novo barco com 11 marroquinos a bordo chegava ao Algarve. Saíram também de El Jadida e haveriam de desembarcar entre as ilhas da Armona e Culatra. Uma vez mais, marroquinos e com idades entre os 21 e 30 anos. “No dia seguinte à chegada já oito tinham desaparecido, não estariam em Portugal”, confirmou o SEF. Nenhum deles chegou a ser ouvido em tribunal. Os outros três pediram asilo mas foi recusado.
10 de dezembro de 2019 | Monte Gordo
8 homens
O primeiro barco de madeira partiu de El Jadida na noite de 8 de dezembro, um domingo. Oito homens (um de 16 anos, outro de 18, dois de 19, outro de 21, dois de 22 e um de 26) fizeram a viagem com sete bidões de combustível, um bote redondo, pouca comida (10 quilos de maçãs e cinco de amêijoas), mochilas com uma muda de roupa para cada um e barbatanas. Fizeram a travessia na velha embarcação, apenas com um GPS “fraquinho” - pouco mais de dois dias depois chegaram à Praia de Monte Gordo.
Todos eles quiseram pedir asilo em Portugal. Apenas um, o jovem de 16 anos, teve o pedido aceite. Os restantes foram recusados e entretanto cinco homens estão desaparecidos enquanto dois recorreram da decisão do tribunal, informa o SEF.
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