Sociedade

“A mistura de químicos no nosso corpo não deve ser subestimada”, diz toxicologista alemã

“A mistura de químicos no nosso corpo não deve ser subestimada”, diz toxicologista alemã
Kirill Kukhmar/Getty Images

Sangue, urina e cabelo de milhares de europeus estão a ser analisados num grande estudo europeu para esclarecer como é que as substâncias químicas entram no corpo humano e como se transformam em cocktails com impactos na saúde. O Expresso falou com a toxicologista Marike Kolossa-Gehring, uma das coordenadoras deste estudo de biomonitorização humana, conhecido pela sigla HMB4EU

“A mistura de químicos no nosso corpo não deve ser subestimada”, diz toxicologista alemã

Carla Tomás

Jornalista

Mais de 450 toxicologistas, epidemiologistas e outros peritos envolvidos no maior estudo europeu de biomonitorização humana — conhecido pela sigla HMB4EU — já recolheram sangue, urina e outras amostras biológicas de milhares de crianças, adolescentes e adultos de diferentes estratos sociais em 20 países europeus, incluindo Portugal. O objetivo é esclarecer como é que as substâncias químicas entram no corpo humano e como se transformam em cocktails com impactos na saúde. Os resultados finais serão divulgados em 2020. Através dos dados já recolhidos “sabemos que podemos encontrar cerca de 200 componentes diferentes em amostras de sangue e urina” da população que vive na Europa, lembra em entrevista ao Expresso a toxicologista Marike Kolossa-Gehring, uma das coordenadoras deste estudo. Uma variedade de químicos são absorvidos diariamente pelas pessoas através do que comem, bebem, respiram, vestem, colocam na pele ou manuseiam. Na passada semana, a maior rede europeia de organizações ambientalistas — a European Environmental Bureau — alertou: “As autoridades europeias não estão a controlar suficientemente este crescente problema de saúde pública e ambiental”. A especialista em toxicologia e saúde na Agência Alemã do Ambiente lembra que “o efeito da mistura destes químicos no nosso corpo não deve ser subestimada”.

Podemos afirmar que todos os residentes na Europa estão contaminados com químicos que não deviam ter nos seus organismos?
Do conhecimento que temos hoje, é expectável que todas as pessoas na Europa tenham entre dezenas e algumas centenas de químicos nos seus corpos que fisiologicamente não deviam lá estar. A partir de vários estudos representativos da população europeia, sabemos que podemos encontrar cerca de 200 componentes diferentes em amostras de sangue e urina. Químicos como os ftalatos (antes correntemente usados como plastificantes e hoje praticamente banidos), o bisfenol A , ou os bifenilos policlorados (PCBs) foram encontrados em todas as amostras analisadas na Alemanha nos últimos anos.

A Comissão Europeia e os governos europeus estão a fazer o suficiente para travar o problema?
A Comissão Europeia estabeleceu um bem elaborado sistema de avaliação e gestão de riscos, criando as agências ECHA (Agência Europeia das Substâncias Químicas) e EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) e a regulamentação REACh (Regulamento de Registro, Avaliação, Autorização e Restrição de Substâncias Químicas). Nestes instrumentos reúne-se continuamente o conhecimento europeu sobre os químicos em circulação. E adicionalmente, a CE apoia novas investigações e uma política precaucionária em relação aos químicos. O programa europeu HBM4EU é disso exemplo, já que foi desenhado para responder às questões mais relevantes sobre estas contaminações e sobre o seu impacto na saúde humana, respondendo também a questões sobre como é que a mistura destes químicos prioritários nos afetam e o surgimento de novos químicos. Este estudo permite recolher dados abrangentes sobre a exposição interna das pessoas que vivem no espaço europeu. O programa conta com um financiamento de €500 milhões da UE.

Quais as substâncias mais perigosas que estão a circular e que mal estão a fazer à nossa saúde?
Há muitos químicos nocivos para a nossa saúde, uns são carcinogénicos, outros têm impactos na fertilidade, outros no funcionamento de vários órgãos. Quão perigosos são, depende das concentrações existentes no corpo. Certo é que o efeito da mistura destes químicos no nosso corpo não deve ser subestimada”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ctomas@expresso.impresa.pt

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