Exclusivo

Vícios

A eterna discussão: sim ou não? Entre barricas e castas é só escolher

A eterna discussão: sim ou não? Entre barricas e castas é só escolher
Getty Images

João Paulo Martins revela semanalmente os maiores segredos e curiosidades do mundo dos vinhos

Os vinhos que sugiro esta semana têm algumas características interessantes, com semelhanças e diferenças entre si. Dois deles usam castas que são raras ente nós — Cabernet Franc e Grenache — e todos têm madeira. Mas vamos por partes. A casta Cabernet Franc (CF) é uma das castas emblemáticas da (enorme) zona francesa do Loire. Digo ‘uma das’ porque dada a extensão da região são várias as variedades que vão sendo maioritárias, ora brancas (como Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, entre outras), ora tintas, como a Pinot Noir e a CF. Esta variedade ficou sempre ‘colada’ ao Loire mas ela assume alguma importância na região bordalesa de Saint-Émilion, entrando aí na composição de um dos seus mais famosos châteaux — Cheval Blanc. O sucesso acabou por alargar a área de vinha e hoje a CF está disseminada por todo o mundo. Até por essa razão se pode questionar porque tem tão pouca expressão entre nós. Este Monte d’Oiro é a concretização de um sonho antigo de José Bento dos Santos, grande apaixonado pela casta e pela região do Loire. Mas outra casta merece também a mesma interrogação: porque temos nas nossas vinhas tão pouca Grenache, uma casta que brilha bem alto, nomeadamente em Espanha (Priorato), em França (Châteauneuf-du-Pape) e em Itália (Sardenha)? É uma variedade com grande expressão em termos de área, atingindo perto dos 80.000 ha, quer em Espanha quer em França. Por cá, ainda que autorizada em várias regiões continua a ser ignorada. É mais uma que se disseminou por todo o planeta quando a intenção foi reproduzir, em todas as latitudes, os bons vinhos que se faziam no Velho Mundo. O tinto Tributo inclui mais duas castas francesas que já há muitos anos se adaptaram bem ao nosso clima, caso da Syrah e Viognier. Essas, qualquer dia passam a portuguesas…

Todos os vinhos passaram em madeira e o branco teve mesmo um longo estágio em madeira, juntando aqui colheitas diferentes. A pergunta que se pode fazer é: se estes vinhos brancos tivessem apenas estagiado em inox todos aqueles anos o resultado seria equivalente? O resultado seria diferente e não creio que pudesse ser comparável. Existe hoje alguma conversa entre enófilos sobre o uso das madeiras. Devem ser novas? Devem ser usadas? Deve fazer-se uma combinação entre as duas? Será que um vinho que estagiou apenas em barrica nova é incomparavelmente melhor que outro que apenas passou em madeira usada? E, o que é um pouco mais radical, será que se pode fazer um topo de gama sem que o vinho tenha tido qualquer estágio em madeira, fosse ela qual fosse? Esta última hipótese é avançada pela quinta Dona Matilde (Douro) que fez um unoaked numa perspetiva de se alcandorar a topo de gama da casa. É um assunto complicado mas merece conversa. Seguramente, um vinho de média estrutura, ‘aguentará’ seguramente muito pouca ou mesmo nenhuma madeira nova, uma vez que ela irá sobrepor-se ao vinho; por outro lado um vinho muito poderoso pode precisar de madeira para amaciar taninos, polir arestas e tudo complexificar. Temos então um caso que deverá ser analisado… caso a caso; a regra mais sábia é mesmo não ter regra e tentar perceber se o resultado é melhor, tal como o Vinhas da Teixuga, onde se concluiu que a junção das três colheitas era melhor que cada uma delas por si.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate