Comparando com o Sistelo, em Porto Cova só não há passadiços, restaurantes e autocarros estacionados nas bermas da estrada, à espera dos magotes de turistas que antes ali despejaram. De resto, não faltam os socalcos verdejantes — que estão na origem da notoriedade do Sistelo, conhecido como o “pequeno Tibete português” —, nem as pachorrentas vacas que pastam no restolho dos milheirais, nem tão-pouco a proximidade com as águas límpidas do Vez. E é aqui que Porto Cova leva vantagem, pois nas suas imediações o Vez ainda é um rio de montanha, bravio, em contraste com a maior mansidão que o caracteriza a jusante. Não faltam cascatas e lagoas, que com o tempo quente que nos tem assolado se tornam verdadeiramente irresistíveis para refrescar o corpo. As águas são frias, mas rapidamente nos esquecemos desse pormenor quando abrimos os olhos debaixo de água e vemos a vida que ali pulsa, maioritariamente pequenas trutas — peixe que não se dá em águas poluídas —, frenéticas na procura de alimento. É um rio reconhecido pela pureza das suas águas, sobretudo nesta secção superior, o que se explica pela proximidade da nascente, nos altos da serra do Soajo, e pelo facto de não haver povoações daqui para cima, o que nos tranquiliza quanto às consequências de eventuais pirolitos.
O pequeno percurso que sugerimos — cerca de quatro quilómetros ida e volta —, começa no largo à entrada de Porto Cova, onde devemos estacionar o carro. Já a pé, descemos à esquerda, deixamos as últimas casas para trás e entramos num caminho de grandes lajes, ladeado pelos muros dos socalcos, que bifurca junto à pequena capela das Alminhas de Santo António. Pela esquerda, decorridos 80 metros, estamos na pequena mas bonita cascata da corga do Porto Novo, um ribeiro que desagua 100 metros à frente no Vez; pela direita, 200 metros de uma descida acentuada, levam-nos até à rústica ponte de Tangil. Já no fim do tabuleiro da ponte, vamos ver à direita, a cerca de 50 metros, a maior cascata deste passeio, que nos parece inacessível, dadas as acidentadas escarpas que ladeiam as margens, mas que não é: conseguimos chegar ao topo da queda de água franqueando um portão que está no início da ponte, que dá acesso a uma vereda que pouco depois se distancia da margem, mas que mais à frente nos permite aceder à cascata.
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