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Como fracassaram as promessas de abundância e felicidade. Um ensaio de Francisco Louçã

IMAGINAÇÃO “A Última Ceia” (1495-1498), de Leonardo da Vinci. Na imagem icónica da refeição de Jesus com os discípulos só se vê pão, vinho e um guisado repartido entre todos
IMAGINAÇÃO “A Última Ceia” (1495-1498), de Leonardo da Vinci. Na imagem icónica da refeição de Jesus com os discípulos só se vê pão, vinho e um guisado repartido entre todos

Viver uma vida feliz é uma aspiração que move muitos humanos. Esse desejo choca contra barreiras poderosas. Perante a limitação, imaginamos a afluência; perante a incerteza, esperamos segurança

Como fracassaram as promessas de abundância e felicidade. Um ensaio de Francisco Louçã

Francisco Louçã

Economista, Professor Catedrático

Há quase 3000 anos, talvez na segunda metade do século VIII antes da nossa era comum, um profeta hebraico anónimo, que foi o primeiro escritor do Livro de Isaías (seguiram-se dois outros que foram conhecidos pelo mesmo nome num intervalo de 500 anos), registou um convite universal que não tem paralelo na Bíblia Hebraica e contrasta com a sua narrativa guerreira e identitária: todos os povos serão acarinhados num banquete copioso, “Nestas montanhas o Senhor Sabaoth [o deus dos exércitos] fará/ para todas as nações./ Beberão alegria/ Beberão vinho” (Isaías 25:6-8).

Um século depois e dirigindo-se somente ao povo israelita, os compiladores do Deuteronómio insistiram no acesso a essa abundância: “O Senhor, teu Deus, vai-te conduzir para uma terra maravilhosa, onde há rios, fontes e nascentes que brotam nas planícies e nas montanhas. É terra de trigo e cevada, de vinha, de figueiras e de romãzeiras, terra de muito azeite e mel. É uma terra onde podes comer à vontade, pois lá não haverá falta de comida. (...) Ali comerás até ficares satisfeito” (Deuteronómio 8:7). A explicação detalhada da promessa é reveladora: água e vinho, trigo e cevada, figos e romãs, azeite e mel, é a descrição de camponeses para camponeses em tempos de angústia e fome. Mais ainda, a toda a gente era garantida a abundância, no nosso destino se comerá à vontade, ficarás satisfeito.

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