“Era um trovador dos anos 60, uma relíquia do folk-rock, um artesão da palavra de tempos idos, um chefe de Estado de ficção de um país que ninguém conhecia. (…) Já não era o meu momento da História. O espelho tinha rodado e conseguia ver o futuro — um velho ator a vasculhar o lixo à porta do teatro dos sucessos passados.” Era este o Bob Dylan de 1987 que ele mesmo desenhava em “Chronicles Volume One”. A salvação (ou o renascimento) chegaria em meados dos anos 90, período captado por mais um volume das suas “Bootleg Series”
“12” é uma terapêutica em doses homeopáticas de essências sonoras finamente decantadas. Um documento de persistência de vida de Ryuichi Sakamoto, em contagem decrescente para o silêncio derradeiro
O veterano John Cale publica esta sexta-feira “Mercy”, primeiro álbum numa década, na companhia de nomes como Weyes Blood, Animal Collective ou Fat White Family. Tal como, uma noite, Rimbaud sentara a Beleza sobre os joelhos e, achando-a amarga, a injuriara, o ‘vanguarda’ dos Velvet Underground não suporta viver sem aquele momento no qual desfigura a harmonia perfeita
No laboratório da artista turca Gaye Sy Akyol encontramos “pop-folk da Anatólia, música clássica turca, rock psicadélico turco, pós-punk, jazz, surf e umas pitadas de disco e de música africana”
“Harvest”, há 50 anos, “foi muito fácil”: Neil Young volta com prazer ao excecional álbum de 1972 que noutros tempos considerou “uma aberração comercial”. Uma reedição apetrechada
Em “The Philosophy of Modern Song”, que em dezembro tem edição portuguesa, acompanhamos Bob Dylan a dissertar sobre os mais improváveis assuntos, de assassinos em série à guerra civil russa. Não é um tratado sobre a filosofia da canção moderna — é um pretexto para filosofar a partir da canção moderna
Escreveu sobre os infinitos ‘highways’ americanos, mas tarde veio a conduziu um carro. Nunca teve um “emprego sério”, mas afirmou-se como voz da ‘working class’. “À vossa frente, está um homem que teve um imenso e absurdo sucesso escrevendo acerca daquilo sobre que nunca teve a mínima experiência pessoal. Inventei tudo”, diria, com bom humor, há uns anos. Agora é diferente: se a soul clássica teve uma origem cultural bem específica, é hoje património coletivo. Bruce Springsteen sabe disso muito bem e prova-o em “Only the Strong Survive”