“Onde fica a dignidade do PSD e de Montenegro?”: Ventura ataca coligação na Madeira, uma “traição” à direita em Portugal
HOMEM DE GOUVEIA/Lusa
Líder do Chega desafia Montenegro a esclarecer se apoia decisão de Albuquerque. Partido vai apresentar no Parlamento proposta de aumentos salariais igual à da CIP
“Este acordo é a maior traição à direita em muitos anos.” Poucos minutos depois de ter ouvido Miguel Albuquerque anunciar publicamente o novo acordo de incidência parlamentar com o PAN para governar a Madeira nos próximos quatro anos, André Ventura reagiu com palavras violentas à decisão do PSD regional.
“Para o PS e PSD vale tudo para se eternizarem no poder”, lamentou o líder do Chega em conferência de imprensa na sede nacional do partido, falando num “acordo artificial e forjado à última da hora” e pedindo a Albuquerque para cumprir a promessa que fez na campanha e apresentar a demissão. “Está a fugir à palavra dada”, acusou Ventura, enfatizando que o líder regional “vendeu a alma ao diabo”.
Miguel Albuquerque numa ação de campanha para as eleições regionais da Madeira
Ventura deixou duras críticas ao PAN: um partido “que nada tem a ver com as ideias base” dos partidos à direita, nomeadamente o PSD e a Iniciativa Liberal, e que tem “dado a mão” ao PS nos últimos anos. Citando Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do CDS-PP, Ventura lembrou que o PAN “é um partido radical que quer impor o seu modo de vida aos portugueses”. Para o comprovar, elencou vários dos temas que o PAN difere dos partidos à sua direita: a eutanásia, a adoção por casais do mesmo sexo, e a defesa do mundo rural.
“Este acordo fere-me enquanto antigo militante do PSD”, confessou o líder do Chega a certa altura, caracterizando a “tragédia da Madeira” como “um dos dias mais tristes” da história política da direita nacional. “Onde fica a dignidade do PSD e de Montenegro?”, perguntou, apontando que o líder nacional do PSD “se pôs em bicos de pés” e fez uma figura “triste e um pouco ridícula” na noite eleitoral madeirense.
Pedindo a Montenegro para se distanciar publicamente da decisão de Miguel Albuquerque, Ventura garantiu que a coligação na Madeira não vai desviar o Chega do seu objetivo principal: ultrapassar o PSD como o principal partido de direita em Portugal. “Da nossa parte ainda bem, porque fica claro para os eleitores qual é o partido que defende os valores fundamentais da direita”, sustentou, não pondo de parte um futuro acordo de Governo com os sociais-democratas após as próximas legislativas.
Questionado pelo Expresso, Ventura não confirmou se o acordo da Madeira iria influenciar de alguma forma a atuação do Chega nos Açores, atualmente num impasse político e com a discussão do próximo orçamento regional marcada para novembro. O Chega elegeu dois deputados para o parlamento do arquipélago, mas um desfiliou-se do partido no decorrer do mandato – e Ventura remeteu para o outro, José Pacheco, quaisquer decisões sobre um acordo com o Governo regional do PSD.
O líder do Chega anunciou ainda que o partido concorda com as propostas de aumentos salariais apresentadas esta segunda-feira pela CIP, nomeadamente a criação de um 15º mês isento de IRS. Criticando os partidos à esquerda por considerarem a ideia dos patrões um “engodo”, Ventura anunciou que o Chega vai apresentar em breve no Parlamento uma proposta igual à dos patrões.