“Escolhi” - foi assim, sem mais justificações, que Miguel Albuquerque respondeu às perguntas dos jornalistas que insistiram para que justificasse o acordo de incidência parlamentar com o PAN e não com a Iniciativa Liberal. Com a sua resposta, mostra que a escolha é sua, pessoal, livre de pressões do PSD nacional, mas também deixa antever que havia outra possibilidade: a Iniciativa Liberal, que seria o parceiro preferido pela direção de Montenegro e também por Pedro Calado, o presidente da Câmara do Funchal, que acabou por também participar nas negociações.
Albuquerque não exclui que possa vir a negociar com a IL “acordos pontuais” em assuntos em que PSD e liberais se aproximem. “Estamos disponíveis para depois falar também com a Iniciativa Liberal”, afirmou o líder do PSD-Madeira nas declarações aos jornalistas, depois de o PAN ter divulgado o acordo alcançado. Mas ficou claro que não são os liberais o parceiro preferencial.
“Estamos muito satisfeitos porque temos uma plataforma de estabilidade para quatro anos”, afirmou Albuquerque, assumindo que as negociações com o PAN começaram logo na noite eleitoral. As negociações, continuou, foram “encetadas e concluídas de boa fé tendo em vista a salvaguarda dos interesses da região e um horizonte de quatro anos”.
O chefe do governo madeirense, que perdeu a maioria absoluta nas eleições de domingo, assumiu que, segundo este acordo, estão garantidos a aprovação do programa de Governo e dos orçamentos regionais, enquanto que o PAN “vai garantir um conjunto de políticas” que fazem parte do seu programa.
Este acordo permite à coligação PSD-CDS “governar num quadro de estabilidade e maioria”, acredita Albuquerque, garantindo que o foi firmado tendo por base “princípios não de politiquice, mas do interesse da população da região”. E o presidente do governo regional não espera “complicações nenhumas”, lembrando que tem um acordo com o CDS que não tem dado problemas.
Quanto a questões concretas - como a estrada das Ginjas e o teleférico do Curral das Freiras, que têm oposição do PAN - Albuquerque respondeu: “Serão analisados por eles e por nós.” Depois, ainda explicou que a estrada é um projeto que está “num tribunal empalhado há 2 anos” e quanto ao teleférico está em fase de concurso.
Negociações por “escolha pessoal”
Depois de perdida a maioria absoluta pela coligação PSD-CDS, na noite eleitoral da Madeira tanto o PAN como a IL mostraram-se disponíveis para conversar. Albuquerque, contudo, quis logo na noite eleitoral conversar com o PAN, sobretudo devido a “questões pessoais” com o cabeça de lista da Iniciativa Liberal, Nuno Morna. A expressão “questões pessoais” não foi usada por Albuquerque, mas declarações tanto de Nuno Melo, líder do CDS, como de Guilherme Silva, antigo deputado do PSD, remetem para essas circunstâncias.
"Num meio eleitoral pequeno como o da Madeira, [há] sempre circunstâncias particulares e pessoais que se jogam nas dinâmicas de campanha e políticas que podem, para além da questão estritamente ideológica, justificar opções. Essa avaliação comete a quem lidera esta coligação, que é o doutor Miguel Albuquerque, e que eu respeitarei sem emitir, a esse propósito, opinião", ressalvou Nuno Melo na segunda-feira. O CDS regional ficou fora destas negociações, num processo semelhante ao que aconteceu nos Açores, em que o partido entrou para o governo regional, mas os acordos com a IL e com o Chega para garantir maioria parlamentar foi negociado apenas pelo PSD regional.
“Foi por moto próprio e iniciativa própria” que Albuquerque assumiu os contactos com o PAN, assumiu o próprio líder madeirense esta terça-feira, quando foi questionado sobre eventuais pressões da direção nacional do PSD que preferiria um acordo com os os liberais. Essa pressão, ao que foi contado ao Expresso, também foi exercida por Pedro Calado, que “forçou” a entrada nas negociações que decorreram esta manhã num hotel do Funchal.
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