Frederico Pinheiro diz que João Galamba “não está a dizer a verdade” e reitera existência de “narrativa montada”
NUNO BOTELHO
Ex-adjunto do ministro das Infraestruturas repete que foi ameaçado por João Galamba, e não o contrário. Em entrevista à TVI/CNN Portugal nesta sexta-feira, Frederico Pinheiro diz existir “matéria jurídica” para avançar com queixa-crime por ter sido difamado pelo ministro e por António Costa
Frederico Pinheiro diz estar a “ponderar” avançar para os tribunais por considerar ter sido difamado pelo primeiro-ministro, António Costa, e por João Galamba, ministro das Infraestruturas. O ex-adjunto reitera que existe “uma narrativa a ser montada” contra si e diz que Galamba “não está a dizer a verdade”, em entrevista à TVI/CNN Portugal na noite desta sexta-feira.
“Tudo o que tem de ser esclarecido deve ser efetuado nas instâncias judiciais apropriadas e é para isso mesmo que servem os tribunais. Estou a ponderar. Estou a recolher todos os elementos. A decisão já não se prende apenas com uma questão de matéria, porque isto é claro. Tanto o primeiro-ministro como o senhor ministro das Infraestruturas difamaram-me publicamente. Existe aqui matéria jurídica para se avançar com uma queixa-crime. Tudo isto depende de uma decisão pessoal”, afirmou o ex-adjunto de Galamba.
Ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP na quarta-feira, Frederico Pinheiro já tinha admitido aos deputados que poderia recorrer à Justiça para se defender de “uma campanha montada pela poderosa máquina” do Estado, em que diz ter sido tratado de forma “insultuosa” e “deplorável”.
Em relação às acusações de se ter exaltado quando o ministro lhe telefonou a comunicar a sua exoneração, Frederico Pinheiro diz, na entrevista, que Galamba “não está a dizer a verdade”. “Não houve nenhuma ameaça da minha parte. O senhor ministro ameaçou-me. Não fiquei exaltado”, garante. Está em causa uma “máquina comunicacional” a “transmitir mentiras”. “O que dá trabalho é montar uma narrativa falsa que seja coerente”, acusa.
Sobre o alegado excesso de fotocópias que tirava, o ex-adjunto justifica que se trata de uma questão de conciliação entre vida familiar e profissional. “Desde que trabalho no Governo que saio mais cedo do trabalho para ir buscar os meus filhos à escola. Voltava mais tarde para trabalhar. Sempre deixei claro que tinha um horário flexível.”
Quanto ao que se passou no Ministério no dia 26 de abril, Frederico Pinheiro refere nunca ter recebido uma “ordem para não entrar” e que tentou “proteger a mochila”, onde estava o computador, que depois se ofereceu para “entregar voluntariamente”. O portátil continha o plano de reestruturação da TAP, que Galamba nunca teve “o cuidado de ler”. “Estamos a falar de nove documentos classificados por minha sugestão, no âmbito do requerimento efetuado pela CPI. A maior parte desses documentos estão no arquivo do Ministério. O plano de reestruturação da TAP apenas estava no meu computador”, indicou.
Na audição de quarta-feira, Frederico Pinheiro contou aos deputados como nesse dia foi “ameaçado” pelo SIS e, no dia seguinte, teve um “contacto cordial” à porta de casa com a PJ, e como ficou “surpreendido e constrangido” com a “falta de articulação” entre as duas entidades. “Senti-me intimidado pelo SIS”, afirmou. A pessoa que lhe ligou do SIS disse-lhe: “É melhor resolvermos isto a bem. Se não isto complica-se.” Na entrevista, assegurou ter três testemunhas desta ameaça.
Ainda sobre o dia 26 de abril, o ex-adjunto de Galamba disse aos deputados que ficou “sequestrado no Ministério”. “Sou o agredido, não sou o agressor”, garantiu. “Não roubei ou fugi com o computador. Não parti nenhum vidro do Ministério com a minha bicicleta ou com qualquer outro objeto.”
Na entrevista, Frederico Pinheiro repetiu, conforme disse na audição, que no dia 5 de abril informou que “tinha notas”. “O envio dessas notas só me é solicitado no dia 24 de abril”, acrescenta. O ex-adjunto assegurou aos deputados que foi a 5 de abril que percebeu que havia intenção do Ministério de ocultar as notas que tinha tirado das reuniões preparatórias com a ex-presidente da TAP à CPI, e que tinha partido do ministro a sugestão para que a então CEO da TAP participasse numa reunião preparatória com os deputados do PS.
Sobre esta reunião, Frederico Pinheiro declarou ainda, na entrevista, não se recordar de “ter participado em reuniões deste género: com a presença do grupo parlamentar, de presidentes de empresas tuteladas e representantes do Ministério das Infraestruturas”. Galamba disse que estes encontros eram normais.
Ainda na audição, o ex-adjunto de Galamba indicou que a chefe de gabinete, Eugénia Correia, terá “ordenado” uma intervenção no seu telemóvel para recuperar mensagens que tinham sido trocadas sobre o caso TAP no início deste ano. “Essa intervenção no meu telemóvel deu um apagão total do meu arquivo de WhatsApp”, referiu.
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