"Não confundimos empresas públicas com empresas políticas": Costa volta a elogiar relação "exemplar" do Estado com CGD por oposição à TAP
MIGUEL A. LOPES
Primeiro-ministro diz que não sabia da reunião preparatória da audição da CEO da TAP, que ocorreu em janeiro, mas desvaloriza-a. Sobre relação do acionista Estado com empresas públicas, volta a isolar modus operandi do ministério de Pedro Nuno Santos e destaca relação “exemplar” do Governo com Caixa Geral de Depósitos
Regressado da Coreia do Sul, onde esteve afastado dos ecos da comissão de inquérito à TAP, António Costa voltou a ser questionado pelos jornalistas sobre a forma como tem sido revelado que o Governo (através do Ministério das Infraestruturas) se relacionava com a TAP, na qualidade de empresa com capitais públicos. Sem mencionar o nome Pedro Nuno Santos, o ex-ministro que tinha a tutela da companhia aérea, António Costa insistiu na ideia de que “o Governo não deve interferir no dia a dia das empresas” e destacou, por oposição, a relação “exemplar” que o Governo (através do Ministério das Finanças) tem com a “empresa pública mais relevante de todas” que é a Caixa Geral de Depósitos.
“Não confundimos empresas públicas com empresas políticas, e o relacionamento do Governo com as empresas do Estado deve assentar em princípios fundamentais”, começou por dizer, destacando desde logo o princípio de que a gestão empresarial tem de ser assegurada pelas administrações, e não pelo acionista. “As questões laborais é a administração que trata, não o acionista”, insistiu, reiterando que cabe ao Estado confiar nas administrações e, se isso não acontecer, deve demitir a administração.
Nesse sentido, e sem se referir em concreto ao Ministério das Infraestruturas anteriormente tutelado por Pedro Nuno Santos e pelo secretário de Estado Hugo Mendes, António Costa deu dois exemplos daquilo que considera correto na relação do Estado com as empresas, em detrimento do que considera incorreto. Primeiro, a Caixa Geral de Depósitos. “A empresa 100% de capital público mais relevante de todas é a CGD e o relacionamento com a Caixa é exemplar; eu tenho uma conversa com o doutor Paulo Macedo uma vez por ano para ver o andamento, a visão estrategica, os resultados e como se tem vindo a desenvolver”, e tudo o resto fica a cargo da administração. “Compete ao Estado fixar orientações estratégicas, avaliar execução do trabalho e depositar confiança nas administrações”, repetiu.
Depois, a Águas de Portugal, empresa tutelada pelo Ministério do Ambiente, onde a relação também decorre com normalidade e cujo ministro, Duarte Cordeiro, estava ao lado do primeiro-ministro nestas declarações feitas à margem da assinatura de um protocolo do projeto da Fundação Repsol "Motor Verde +Floresta", no Instituto Superior de Agronomia.
E ainda a relação que o próprio António Costa teve com empresas municipais, quando era presidente da Câmara de Lisboa, e onde se relacionava com elas na qualidade de representante do acionista: “Lembro-se quando era presidente da câmara e havia empresas a queixar-se de questões laborais, eu remetia para a administração, não é o accionista que trata dessas questões”, disse, deixando claro que são essas as orientações que o Governo dá aos seus ministros.
“Se há instituições em que o funcionamento nao é esse, então isso não corresponde à forma como o Governo se relaciona com empresas públicas”, disse, em mais uma tentativa de isolar o que se passou na relação Pedro Nuno/TAP como um ato isolado e pontual.
António Costa visita um cemitério na Coreia do Sul
“Não tinha conhecimento” de reunião secreta. Mas reuniões preparatórias são “frequentes”
Questionado sobre se tinha conhecimento da chamada ‘reunião secreta’ que ocorreu em janeiro entre um deputado do PS, membros do ministério das Infraestruturas e dos Assuntos Parlamentares e a CEO da TAP na véspera de esta ser ouvida pela primeira vez numa comissão parlamentar sobre o caso da indemnização de Alexandra Reis, António Costa rejeitou ter tido conhecimento mas desvalorizou a situação.
“Não, não tinha conhecimento da reunião”, começou por dizer, realçando que não é competência do governo apreciar o funcionamento de outro orgão de soberania, como a Assembleia da República.
Ainda assim, o primeiro-ministro esclareceu que a audição em causa não teve nada a ver com a comissão parlamentar de inquérito (foi anterior), e acrescentou que reuniões preparatórias de audições eram “frequentes” no tempo em que foi, durante 4 anos, o governante responsável pelos Assuntos Parlamentares. Também enquanto foi ministro, Costa diz que teve algumas “reuniões preparatórias de audições”.
“Devemos ter noção da devida dimensão das coisas”, disse, procurando desvalorizar o episódio “reunião secreta”. “O verdadeiro problema, e sério, da TAP é que temos de completar o plano de reestruturação, que tem corrido bem, e eu próprio já elogiei o trabalho feito pela administração que cessou funções, e resta-me desejar sucesso à nova administração”, disse.
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