Carlos César critica "conduta estúpida" de Hugo Mendes, elogia Pedro Nuno e desafia Marcelo
LUÍS FORRA / Lusa
Quase uma semana depois das revelações feitas na comissão de inquérito da TAP, o presidente do PS critica “conduta perniciosa” de ex-secretário de Estado “sem juízo” mas sai em defesa de ex-ministro Pedro Nuno Santos, que está associado aos lucros da companhia aérea. A Marcelo, César deixa uma bicada, desafiando-o a cortar com agência de viagens que terá metido 'cunha" à TAP. E lembra ainda que o Governo tem tantos votos quanto o Presidente
Hugo Mendes, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, teve uma “conduta estúpida e perniciosa”, mas Pedro Nuno Santos tem mérito nos bons resultados da TAP. E o Governo tem uma maioria absoluta que só deve ser julgada no fim da legislatura - é assim que o presidente do PS, Carlos César, faz, nas redes sociais, o ponto de situação política sobre a TAP e as revelações já feitas na comissão parlamentar de inquérito. Mas, como muitas vezes tem feito quando há polémica que envolva o Presidente da República, é o presidente do partido que deixa recados ao chefe de Estado e, desta vez, para tentar dissipar sombras de dissolução.
“Santana Lopes, corroborado pelo comentador do PSD Marques Mendes, entre outros, relançou a ideia de demissão do governo pelo Presidente da República, lembrando a sua demissão por Jorge Sampaio. Mas…não há quem o lembre que Santana era primeiro-ministro por procuração e não pela legitimidade de eleição? Não há quem os lembre que o PS obteve há pouco mais de um ano 41% dos votos expressos e sensivelmente o mesmo número de votos do actual Presidente da República”, questiona César. “Acresce que vivemos um período especialmente sensível nos planos nacional, europeu e internacional, quer nos perigos quer nos desafios. O que importa, por isso, como reconheceu e aflorou o Presidente da República, é o bom governo de Portugal e que as oposições também sejam bem melhores do que são”, acentua o dirigente socialista, para quem não está em causa qualquer irregular funcionamento das instituições, que é causa constitucional para demitir o Governo.
"Não há quem os lembre que os resultados desta governação com apoio parlamentar devem ser avaliados pelo povo no tempo próprio do termo da legislatura? Não há quem reconheça que só se conhecem e debatem casos que suscitam dúvidas ou críticas porque as instituições estão a funcionar regularmente e a democracia no seu adequado exercício?”, escreve Carlos César, que deixa a questão da dissolução do Parlamento para o post scriptum.
Numa publicação nas redes sociais intitulada “Sobre o bom Governo, a meia verdade da reunião com a CEO da TAP e sobre o ex-governante sem juízo…”, Carlos César é o primeiro dirigente de topo do PS a reagir às polémicas revelações feitas pela ainda presidente executiva da TAP na comissão parlamentar de inquérito. Para Carlos César, revelações como a do e-mail que o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, enviou à CEO a pedir a alteração de um voo onde viajaria Marcelo Rebelo de Sousa revelam uma “conduta perniciosa” e “estúpida”. Mas há outros lados da moeda que têm sido “omitidos”: os bons resultados da TAP, que César associa à gestão da era Pedro Nuno Santos, e o papel do Presidente da República no "episódio colateral" do pedido de mudança de voo: O dirigente socialista aproveita para dar mais um recado ao Presidente, sugerindo que. se Marcelo não teve nada a ver com o pedido de alteração de voo, então que se “queixe” da agência de viagens que trabalha com a Presidência.
“Comportamentos como o que foi revelado na matéria e no teor político do mail escrito pelo antigo secretário de Estado – ainda por cima, segundo se diz, na sequência de um contacto, ou sugestão, de uma agência de viagens da qual, certamente, a presidência da República também tem de se queixar – não são aceitáveis e revelam uma conduta perniciosa e, digo mesmo, estúpida. Como socialista, que acredita no governo em funções e no seu desempenho mesmo nas condições difíceis com que se tem confrontado, já que o membro do governo já não o é, ou seja, que não é possível ele se demitir ou demiti-lo agora, só resta pedir desculpas ao Presidente e às pessoas em geral”, escreve Carlos César no Facebook.
De seguida, Carlos César lamenta que “episódios colaterais” como esse manchem a “relação límpida e eficiente envolvendo a empresa”, de que é prova os bons resultados financeiros que foram alcançados este ano, e que se estimava apenas serem possíveis em 2025. É aí que César sai em defesa de Pedro Nuno Santos. “Não deixa de ser grotesca a omissão que se faz ou procura fazer do facto da TAP ter dado lucro, antecipando esse objetivo que estava previsto no seu plano de reestruturação, a que não é estranha nem a sua gestão nem a sua tutela, nesse período, recorde-se, exercida por Pedro Nuno Santos”, lê-se, numa publicação em que também é elogiado o ministro da Administração Interna.
“Na semana passada, uma vez mais, o governo, em Conselho de Ministros, tomou importantes decisões, designadamente no caso da reforma do SEF e do enquadramento das migrações. A esse propósito é bom lembrar o bom desempenho pessoal que o nosso ministro da Administração Interna está a confirmar”, escreve César, que tenta valorizar outras medidas do Governo como os apoios a famílias e empresas. “Espero que brevemente, outras, a somar às já assumidas, sejam aprovadas incluindo mais diretamente os reformados e pensionistas”, antecipa, antecipando aumentos.
Evitar tropeções e escolher melhor
É por essa “boa governação” que, aliás, o presidente socialista começa a sua publicação para só depois se dedicar aos assuntos que “ensombraram, nestes dias, a imagem do governo”. De um Governo que, escreve, "deve evitar alguns tropeções…e cuidar melhor quem nomeia”, mas que “se pode e deve orgulhar do que tem feito e que deve continuar empenhado em fazer o que é necessário, cumprindo, designadamente, o seu programa e as reformas a que se comprometeu”.
“O primeiro desses assuntos, só atinge a proporção mediática que ganhou, porque é uma habilidosa meia-verdade da oposição e de alguns seus amanuenses e um generalizado exercício de hipocrisia. A verdade deste assunto é que a CEO da TAP reuniu com o grupo parlamentar do PS que estava representado pelo deputado Carlos Pereira (um deputado, aliás, que vale, sozinho, em trabalho e em qualidade, mais do que muitos actuais deputados da oposição juntos!). Não sei quem sugeriu a reunião e não compreendo a importância disso. Mas, a verdade é logo manipulada pelas circunstâncias e pelo embuste”, acusa o presidente do PS na sua longa publicação.
“O primeiro embuste é que isso seria algo de inédito, como se não tivesse sempre acontecido com todos os partidos e não fosse mesmo tido como integrando o exercício informado da função parlamentar de cada. Sempre foi prática fazer essas reuniões informativas e ou preparatórias, com governantes, com gestores de empresas ou institutos públicos, ou simplesmente com outros organismos, associações, entidades e empresas privadas, líderes de opinião ou especialistas nas matérias em apreço. Independentemente, ou antes ou depois de audições parlamentares. Isso nada tem a ver com segredos ou com existirem ou não maiorias absolutas, e muito menos com o governo ser agora do PS. Acontecia, e muito naturalmente, com todos”, explica Carlos César, que foi líder parlamentar do PS na legislatura da ‘geringonça’.
“Nas legislaturas anteriores foram inúmeras essas ocasiões em que isso ocorreu, inclusive com partidos como os agora na oposição à esquerda do PS. O mesmo aconteceu, evidentemente, com o PSD e outros”, escreve o dirigente socialista para quem “a oposição, sobretudo à direita, manifestamente só anda à procura dos enredos e dos lapsos, por mais ou menos relevantes que sejam, que entretenham narrativas contra o Governo”.
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