Do PSD ao PCP, entrevista de Costa não convence: partidos acusam primeiro-ministro de falta de “respostas para o futuro”
Zelensky fala ao parlamento português. O Partido Comunista Português que recusou estar presente na sessão.
TIAGO MIRANDA
As críticas à entrevista de António Costa à RTP são transversais a toda a oposição: faltou propostas para “problemas reais” e para o “futuro” dos portugueses. PSD acusa PM de ser “incapaz” de apresentar “agenda reformadora”, PCP falou num país que só existe “na imaginação” de Costa.
Esta segunda-feira, dia em que assinala um ano de maioria absoluta, António Costa deu uma entrevista à RTP onde admite que Governo "pôs-se a jeito" e "cometeu erros”, defendeu que a negociação com os professores “ainda está em curso” e revelou que irá ser aprovada uma “nova lei” da habitação no dia 16 de fevereiro. No entanto, as respostas do primeiro-ministro não convenceram a oposição. Da esquerda à direita surgiram críticas à falta de respostas para o futuro e acusações de falta de explicações aos casos que têm abalado o Governo desde o início do ano.
Hugo Soares, do PSD, foi um dos primeiros deputados a reagir à entrevista e acusou o primeiro-ministro de ser “incapaz” de apresentar uma “agenda reformadora” e de falar do “futuro do país”. “Frustrou a expetativa dos portugueses. Devia ter sido uma entrevista que perspetivasse o futuro de todos nós”. O social democrata diz ainda tratar-se de um “primeiro-ministro à imagem do Governo, sem capacidade de responder às perguntas”. Quanto a temas como as greves dos professores ou os problemas na saúde, Hugo Soares acusou o Governo de “não dar soluções” e de “gastar mal” o dinheiro dos portugueses. “O PM confunde maioria absoluta com poder absoluto”, remata. E ainda acusa a maioria socialista de funcionar como “rolo compressor” que “inibe” o trabalho dos restantes partidos.
Também Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da IL, acusa o governo socialista de oferecer “incompetência, incapacidade e instabilidade” aos portugueses. O liberal deu exemplos de temas que ficaram por abordar como a “imigração dos jovens” ou a “carga fiscal” dos portugueses. “A pergunta que fica é porque é que o PM deu a entrevista. Não trouxe nada de novo para resolver problemas dos portugueses”.
A partir de Beja, onde decorrem as jornadas parlamentares do PCP, António Filipe defende que a entrevista abordou um “país que só existe na imaginação de PM”. O comunista acusou o Governo de lesar as “condições de vida dos portugueses” e de António Costa “subestimar” problemas e não apresentar “soluções” para os resolver. “O poder de compra continua a diminuir, falta resposta à habitação e nada disto foi reconhecido”. Sobre as consecutivas demissões do Governo, o comunista alega que o “essencial” para os portugueses passa antes pelas respostas às “condições de vida” e não a quem assume as pastas do governo socialista. “[PM] não convenceu”, resume.
Já o Chega, na voz de Pedro Pinto, classificou a entrevista à RTP como “muito poucochinho”. O deputado acusou o PM de fugir às “questões pertinentes”, de não esclarecer as “trapalhadas” com os membros do Governo e de viver no “país das maravilhas”. “Numa entrevista de um ano de maioria absoluta exigia-se mais a António Costa. Exigia-se que falasse aos portugueses e aos profissionais que estão a sofrer”. Pedro Pinto assinalou ainda o “incómodo” de António Costa quando questionado acerca das buscas na câmara de Lisboa que envolvem Fernando Medina. Por último, o deputado do Chega defende que faltou do PM uma “palavra” para agricultores, forças de segurança e idosos.
Rui Tavares mostrou preocupação por “30 dos 52 minutos” da entrevista terem sido sobre “pequena política” e não sobre propostas para o futuro do país. “Num país que tem de se reinventar na próxima década, pode ser a última vez que temos fundos europeus deste vulto em Portugal, é preciso mais estratégias pensadas para futuro”. O deputado único do Livre acusa PM de ter respostas focadas no “passado e no presente”, num momento em que o país tem “poucos anos” para “reinventar a economia” e “aplicar estratégias” reformadoras. Quanto ao reconhecimento dos erros do Governo, Rui Tavares defende que António Costa “só agora” percebeu que “é preciso mostrar alguma humildade”.
O PAN também não poupou críticas ao PM. “Ficou claro que temos um Governo em serviços mínimos”, foram as primeiras palavras da deputada única do PAN. Em direto da Assembleia, Inês Sousa Real acusou António Costa de “irrealismo” e de apresentar medidas que ficam “aquém” das necessidades das “famílias e das empresas”. “Precisávamos de respostas para o futuro e infelizmente isso não aconteceu”. A deputada apontou ainda a “crise climática” como um dos temas que ficou fora das respostas do líder do PS.
TAP: PSD e IL acusam António Costa de “descartar responsabilidades”
Um dos temas quentes abordados na entrevista a António Costa foi o dossier da TAP. O primeiro-ministro defendeu que o programa de restruturação “está a ser executado” e que será fechado com a “venda da TAP”. Sobre o bónus previsto para a CEO da TAP – que pode chegar a dois milhões de euros, segundo o Correio da Manhã – Hugo Soares acusou António Costa de descartar responsabilidades. “Um primeiro-ministro trapalhão que não quis ter responsabilidade de nada”. Também Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da IL, acusa o PM de tentar “sacudir a água do capote” e passar as responsabilidades para a administração da companhia aérea. “Falou como se as responsabilidades fossem só da responsabilidade da TAP e não do Governo”. Já o PCP, através de António Filipe, lembrou que os “direitos dos trabalhadores” devem ser respeitados, o que não acontece quando surgem notícias como o bónus da TAP.
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