Chega avança para novo congresso após chumbo dos estatutos pelo Constitucional
PAULO CUNHA/LUSA
Ventura fala em “flagrante injustiça face à generalidade dos partidos”. Conselho Nacional reúne-se em dezembro para definir regras da nova reunião magna, que deverá acontecer em janeiro
O Chega realizará um novo congresso “para fazer os ajustes e as mudanças necessárias” na sequência do chumbo dos estatutos do partido pelo Tribunal Constitucional (TC), noticiado pelo Expresso na sexta-feira. O anúncio foi feito pelo presidente do Chega, André Ventura, que reconheceu que “estas decisões consecutivas do TC perturbam e têm um impacto significativo na vida do partido”.
TC aponta “uma significativa concentração de poderes na figura do presidente do partido”
Após uma reunião da direção nacional na véspera, Ventura referiu esta quarta-feira, na sede nacional do partido, que o Conselho Nacional irá reunir-se a 10 de dezembro para definir “todas as regras” – e ainda o local e a data do congresso, que “previsivelmente” acontecerá em janeiro. “O Chega, cumpridor da lei e da Constituição, fará o que tem de ser feito”, sublinhou o líder, acrescentando, todavia, tratar-se de “uma flagrante injustiça face à generalidade dos partidos portugueses” e, em especial, ao Bloco de Esquerda e ao PCP, disse.
Tendo em conta a “mudança de paradigma” sinalizada pelo TC relativamente ao modo de funcionamento dos partidos, Ventura afirmou que o Chega irá pedir que os estatutos daqueles dois partidos “sejam vistos a esta luz”. Essa “mudança terá de ser levada até às últimas consequências”, sugeriu. O líder e deputado do Chega lembrou, ainda assim, que “em Portugal prevalece o princípio da autonomia da organização partidária” e que “são os partidos, e não o TC, que decidem como se organizam”.
Ventura voltou a manifestar a “surpresa” que o acórdão “mereceu” ao partido, uma vez que “as matérias agora vertidas não foram as mesmas sobre as quais foram pedidos esclarecimentos” pelo TC. Em novembro do ano passado, o Chega viu-se obrigado a realizar um novo congresso – no caso, em Viseu – para aprovar novos estatutos, agora chumbados. Esta decisão provoca “enorme confusão jurídica” e “incerteza” no partido, reconheceu, com estruturas como a juventude e a secretaria-geral que, não tendo sido “averbadas”, já estavam a funcionar. “É impossível gerir o partido sem qualquer previsibilidade jurídica”, rematou.
O acórdão faz reparos à “significativa concentração de poderes” no presidente do partido e aponta “problemas de transparência” e “restrição aos direitos fundamentais dos militantes”. Além de chumbarem os estatutos, os juízes do Palácio Ratton também não atenderam ao pedido de anotação do deputado Rui Paulo Sousa como secretário-geral. Isto porque “nos estatutos vigentes” – e não nos novos, que mereceram um arraso do TC – “não existe a figura” de secretário-geral. Um terceiro requerimento do Chega também ficou pelo caminho. O partido pedia para passar a ser notificado na morada da sua sede nacional, em Lisboa, mas este requerimento vinha assinado por Rui Paulo Sousa, “na qualidade de secretário-geral”. Ora, uma vez que o signatário “não ostenta a qualidade que invoca e não tem poderes de representação do partido, o pedido aí feito é ineficaz”, lê-se no acórdão.
A próxima reunião magna será “o quinto congresso em quatro anos”, lembrou Ventura. O líder disse ainda que o partido realiza “mais eleições diretas, em média anual, do que qualquer outro”, pelo que “falta de democracia é coisa de que o tribunal não pode acusar” o Chega.
Esta não foi a primeira vez que uma decisão vinda do Palácio Ratton desagradou e forçou mudanças importantes no Chega. Em setembro do ano passado, o TC deu razão ao Ministério Público e considerou ilegal a convocatória para o Congresso do partido em Évora em setembro de 2020. Em virtude disso, as alterações estatutárias introduzidas nesse congresso foram invalidadas, o Chega viu-se obrigado a convocar um congresso extraordinário e, em reação, Ventura anunciou a sua demissão da liderança do Chega, apresentando-se novamente como candidato. O Congresso extraordinário entretanto realizado foi o Congresso de Viseu, o mesmo que aprovou as alterações estatutárias agora chumbadas pelo TC.
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