28 agosto 2022 15:11
Exposição do coração de D. Pedro IV, no Porto, antes de partir para o Brasil
rui duarte silva
Muitos monarcas foram sepultados sem coração. Há relíquias reais por todo o país, mas as da Rainha Santa são as únicas regularmente expostas
28 agosto 2022 15:11
Joana Santos, diretora do Museu do Patriarcado de Lisboa, não tem dúvidas. “Até ao século XIX, era uma prática comum os reis deixarem o coração em espaços sagrados nas cidades importantes das suas vidas.” O caso de D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil não é raro para os historiadores e, muito menos, exemplar único. “Há uma ideia romântica por detrás de tudo isto”, a que se segue um estranho fascínio pelas relíquias reais que suscita um entusiasmo inusitado junto do público em geral, como se viu no fim de semana passado quando milhares de pessoas acorreram à Igreja da Lapa, no Porto, para ver o coração de D. Pedro antes de partir para o Brasil. “Organizamos visitas guiadas sobre enterramentos e são, sem dúvida, aquelas que atraem mais gente ao museu”, diz a responsável pelo Mosteiro de São Vicente de Fora, que inclui um panteão dos Patriarcas e outro de alguns dos monarcas portugueses.
D. João VI, pai do Imperador e primeiro rei do Brasil, está em São Vicente de Fora, num túmulo condizente com a sua condição de rei. Mas, numa capela lateral e encerrado numa pequena urna, jaz o coração deste rei, que partiu para o Brasil em fuga aos franceses ainda como príncipe regente. Uma prática “normal” na época e um procedimento habitual porque “todos os corpos eram mumificados e, nesse processo, tinham de ser retirados todos os órgãos internos”, explica Joana Santos. As vísceras, por serem reais, não podiam ser desprezadas ou maltratadas e a solução encontrada foi sempre a de as depositar — devidamente preservadas em formol — em túmulos à parte, colocados num espaço igualmente sagrado e condigno, para que repousassem finalmente em paz.
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