Política

Quem são os cinco rostos do Livre?

Quem são os cinco rostos do Livre?
RODRIGO ANTUNES/LUSA

Joacine Katar Moreira enfrenta este sábado a direção do partido, que quer retirar a confiança política à deputada. Mas há outros protagonistas em jogo.

Joacine Katar Moreira

Quando se esperava que fosse o abono de família do partido e a prancha para a piscina dos grandes, a deputada única do Livre transformou-se, paradoxalmente, no grande alvo a abater. Desde o folhetim em torno do voto de abstenção sobre a Palestina, às dificuldades de comunicação com o grupo de contacto, passando pelas muitas polémicas e arrufos com a comunicação social, até ao corte definitivo com a direção do partido, aconteceu (quase) tudo em menos de três meses. Durante a campanha eleitoral, Joacine Katar Moreira jurou que vinha para “dar um pontapé no estaminé” e no status quo. Para já, o estaminé resumiu-se ao próprio partido.

A deputada enfrenta agora um congresso tenso que pode resultar na retirada da confiança política e consequente isolamento - a confirmar-se, Joacine deixará de ter o apoio do partido e tornar-se-á deputada não inscrita. Aconteça o que acontecer, já garantiu que não vai renunciar ao mandato e, pela primeira amostra que deixou quando subiu ao púlpito, não sairá sem dar luta. “Vocês usam o ódio de que tenho sido alvo para me tentarem afastar! Eu fui eleita democraticamente. Não vou renunciar para que as pessoas não se sintam defraudadas. Elegeram uma mulher negra que foi útil para a subvenção, tem de ser útil para vos defende.”

Rui Tavares

O pai-fundador do partido empenhou-se diretamente na eleição de Joacine, mas o distanciamento entre ambos é evidente. O projeto de uma “esquerda libertária, cosmopolita e ecológica” que pensou, pessoalizou-se em torno da figura da deputada, que vai repetindo que representa uma “força antifascista, antirascista, feminista radical”.

Quando interveio este sábado, não fez qualquer esforço para defender Joacine e limitou-se a defender que decisão sobre a deputada devia passar para a próxima Assembleia. “Os próximos órgãos saberão concluir esta questão, porque o Livre tem o dever de defender os seus princípios com firmeza e de ter a consciência tranquila por o ter feito da forma mais justa, mais transparente e mais humana para todas as pessoas envolvidas nesta questão”.

Num auto-imposto recato desde outubro, Rui Tavares vai afastar-se ainda mais depois deste congresso, uma vez que o ex-eurodeputado vai dar aulas na Universidade de Massachusetts e participar em atividades do Centro de Estudos Europeus da Universidade de Harvard (EUA) neste semestre. Ainda assim, continuará a trabalhar à distância com o partido e apresenta neste congresso uma moção a defender a necessidade de reconciliar o partido com os seus valores fundacionais: a ideia de uma esquerda, europeísta e ecológica.

MIGUEL A. LOPES / LUSA

Ricardo Sá Fernandes

Advogado, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de António Guterres e membro do Conselho de Jurisdição do Livre, Ricardo Sá Fernandes tem tentado ser o fiel da balança entre Joacine Katar Moreira e o grupo de contacto que dirige o partido.

Foi isso mesmo que fez este sábado. “Acho que esta rutura pode ser o suicídio do Livre. Tenho muita pena que o partido possa morrer assim. Este é um partido jovem, de gente excelente. Espero que hoje possa sair daqui um sobressalto democrático, cívico, de bom senso”, apelou.

marcos borga

Carlos Teixeira

Em teoria, seria ele a assumir o lugar o deputado se Joacine aceitasse renunciar ao mandato, algo que não deve acontecer. Discreto, não manifestou publicamente qualquer posição sobre crise entre a direção do partido e a deputada.

Fundador e dirigente do Livre, Carlos Teixeira concorreu às legislativas a 6 de outubro no segundo lugar das listas do Livre por Lisboa. É mestre em biologia da conservação e doutor em Ciências da Terra e da Vida e em Engenharia do Ambiente, o que o torna o herdeiro natural da tal esquerda verde que Tavares imaginou.

Pedro Mendonça

É um dos principais membros do grupo de contacto do Livre e uma espécie de sombra de Joacine Katar Moreira - foi, por exemplo, o ponta de lança, uma figura tutelar escolhida pela direção do partido nas reuniões em Belém ou com o Bloco de Esquerda.

Quando tomou a palavra, este sábado, não fez uma única referência à deputada, garantiu que o partido estava vivo e reconheceu que os “últimos meses não têm sido fáceis”.

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