Joacine Katar Moreira: “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha”

Deputada do Livre garante que o partido que a elegeu não lhe tem dado apoio. Caso do voto sobre a Palestina põe e nu as divergências de parte a parte
Deputada do Livre garante que o partido que a elegeu não lhe tem dado apoio. Caso do voto sobre a Palestina põe e nu as divergências de parte a parte
A relação entre Joacine Katar Moreira e a estrutura do partido que a elegeu nas últimas legislativas está, aparentemente, fria. O episódio do voto sobre a Palestina na última sexta-feira, no Parlamento, em que a deputada se absteve, pôs a nu o mal-estar de parte a parte.
Este domingo, em entrevista ao Observador, Joacine Katar Moreira fez algumas revelações: “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direção quer ensinar-me a ser política”. E acrescentou que o apoio que teve ao longo da campanha só chegou “de quem não era do partido”.
A deputada revelou ainda que “mesmo antes da campanha eleitoral” a “falta de apoio” já era visível. E que na noite das eleições ficou incomodada com a direção que, antes de ser conhecida a eleição da deputada, festejavam a atribuição da subvenção partidária. Joacine Katar Moreira lamentou que a prioridade dos líderes do Livre tenha sido festejar a subvenção e não aguardar para saber se conseguiriam eleger algum deputado.
Sobre o caso do voto de sexta-feira, a direção do Livre assegurou que nunca foi pedido pelo gabinete de Joacine Katar Moreira qualquer apoio específico no voto sobre a Palestina e que a deputada e assessores foram avisados antes de emitir o comunicado da manhã deste sábado.
Em declarações à agência Lusa, Pedro Nunes Rodrigues, membro do Grupo de Contacto do Livre, a direção do partido, reagiu assim ao comunicado deste sábado da deputada única do Livre, Joacine Katar Moreira, que garantiu que a abstenção no voto sobre a Palestina não se deveu a "um descaso desta grave situação", mas "à dificuldade de comunicação" com a direção, mostrando-se surpreendida com a posição do partido.
"A dificuldade de comunicação passa também por ela, para o gabinete dela uma vez que nunca se dirigiu aos restantes membros da direção a pedir uma ajuda naquele voto específico. Foi-nos enviado o guião de votações, como nos é enviado todas as semanas, mas na semana passada nós também não nos pronunciamos sobre todas as votações e no entanto não houve nenhuma situação destas de haver uma falha de comunicação", contrapôs.
Segundo este membro do Grupo de Contacto, como "não foi pedido nenhum acompanhamento específico" para o voto de condenação proposto pelo PCP sobre a "nova agressão israelita a Gaza", o órgão executivo do partido não o deu, apesar de ter recebido "por três vezes o guião de votações".
"Por exemplo, houve um voto [na mesma sexta-feira] sobre a Amazónia, apresentado pelo PAN, ao qual o gabinete pediu apoio, nós enviamos ao gabinete a nossa posição, a posição que achávamos ser a mais correta e, portanto, nesse caso nós respondemos ao pedido específico", comparou.
Questionado sobre o facto de a deputada única do Livre dizer que foi surpreendida pelo comunicado da direção desta manhã, Pedro Nunes Rodrigues começou por responder que "o Grupo de Contacto funciona de forma colegial e, portanto, as decisões e todo o tipo de atividade política funciona por maioria com os membros que estão presentes nas discussões".
"Hoje de manhã, antes sequer de escrevermos o comunicado, informamos a deputada e o gabinete da deputada, os assessores da deputada, que iríamos emitir um comunicado, uma tomada de posição sobre a votação daquele voto de condenação. Cerca de 40 minutos depois publicamos o comunicado, ainda tivemos que o escrever, naquele período de tempo não recebemos também nenhum contacto por parte da Joacine sobre qual era o teor do comunicado ou quando é que o íamos publicar", disse, contrariando assim a ideia de surpresa.
Pedro Nunes Rodrigues fez ainda questão de deixar claro que "aquilo que está acordado entre a direção do partido e o gabinete da deputada é que quando há dúvidas sobre um voto específico, o grupo de contacto apoia na argumentação sobre a votação num sentido ou no outro".
"Nós não nos pronunciamos sobre todos os votos até porque o Livre não tem sentido de voto obrigatório. Claro que esperamos que os votos sejam dentro daquilo que é o nosso programa eleitoral, a nossa declaração de princípios, ou seja, todos os documentos alguma vez produzidos no Livre", acrescentou.
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