Que voz é esta?

“O stress crónico é o grande problema dos nossos dias e o mindfulness é uma ferramenta de gestão de stress que vale a pena experimentar”

Mindfulness significa ‘atenção plena, aqui e agora’ e esse é o primeiro passo para meditar, uma prática que a investigação científica tem mostrado que é eficaz na redução do stress, mas também na depressão e outras patologias. Com dor crónica desde 2006, Ana Osório de Castro, psicóloga e formadora de mindfulness, explica como esta prática mudou a forma como encara a doença e a sua vida. Oiça aqui o podcast Que Voz é Esta? sobre saúde mental

“O stress crónico é o grande problema dos nossos dias e o mindfulness é uma ferramenta de gestão de stress que vale a pena experimentar”

Helena Bento

Jornalista

“O stress crónico é o grande problema dos nossos dias e o mindfulness é uma ferramenta de gestão de stress que vale a pena experimentar”

João Martins

Sonoplastia

“O stress crónico é o grande problema dos nossos dias e o mindfulness é uma ferramenta de gestão de stress que vale a pena experimentar”

João Carlos Santos

Fotojornalista

Além da prática clínica, Ana Osório de Castro facilita cursos de meditação e o reconhecido Programa de Redução de Stress Baseado em Mindfulness.
João Carlos Santos

Desde o aparecimento do primeiro programa de mindfulness, desenvolvido por Jon Kabat-Zinn e seus colaboradores no Center for Mindfulness da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, no final da década de 1970, esta prática com raízes em tradições budistas foi-se tornando cada vez mais popular no ocidente.

Manter a atenção centrada no presente, ganhando "consciência sobre as nossas sensações, sentimentos, emoções e pensamentos", é uma das capacidades que se pretende desenvolver através do mindfulness, mas há outras, como a "não-reatividade" e a capacidade de manter "um certo distanciamento" em relação aos próprios pensamentos, explica Ana Osório de Castro, psicóloga e professora qualificada do Programa de Redução de Stress baseado em Mindfulness pelo Centro de Mindfulness da Universidade de San Diego, na Califórnia.

"O mindfulness dá-nos espaço para pensarmos como vamos responder emocionalmente a cada situação, em vez de respondermos de uma forma impulsiva. Também permite que criemos um distanciamento entre os nossos pensamentos e aquilo que somos", explica a convidada do mais recente episódio do podcast "Que Voz é Esta?", sobre mindfulness e meditação.

"Na prática, diminuem os pensamentos ruminativos, que são pensamentos autocentrados, negativos e repetitivos. Não podemos deixar de sentir tristeza, por exemplo, mas o sofrimento que ela nos traz pode ser opcional, pode ser uma escolha."

O mindfulness traduz-se em exercícios que vão desde o foco na respiração e nas sensações que esta provoca, ao foco nas sensações do corpo. “Muitas vezes temos a impressão de não estar a sentir nada, mas não é verdade. Há muitas coisas a acontecer, como sensações de frio, calor, formigueiro, dor, desconforto, bem-estar.” A atenção também pode ser dirigida para sons e ruídos. "Quando se pratica meditação mindfulness, há zonas do cérebro que ficam menos ativadas, nomeadamente as que estão ligadas à memória e à antecipação do futuro." Por outro lado, diz, há outras cuja atividade aumenta, libertando-se neurotransmissores importantes na regulação do humor e na sensação de bem-estar.

"Na prática, diminuem os pensamentos ruminativos, que são pensamentos autocentrados, negativos e repetitivos. Não podemos deixar de sentir tristeza, por exemplo, mas o sofrimento que ela nos traz pode ser opcional, pode ser uma escolha."

A investigação científica tem mostrado que o mindfulness é eficaz na redução do stress, mas também na depressão - prevenindo o aparecimento de novos episódios depressivos em pessoas com um passado de doença - e outras patologias, segundo estudos realizados nos últimos anos. "Tanto na depressão como na ansiedade e adição está validada a eficácia do mindfulness", sublinha Ana Osório de Castro.

A utilização desta ferramenta na dor crónica tem sido igualmente estudada. O currículo do primeiro programa de redução de stress com base em mindfulness, do já referido Jon Kabat-Zinn, foi desenvolvido, aliás, a pensar nos desafios de lidar com a dor em ambiente clínico.

João Carlos Santos

Com dor crónica há 17 anos, causada por um distúrbio designado nevralgia do trigémeo, a nossa convidada descreve o impacto da doença na sua vida e como o mindfulness tem sido útil no alívio da dor. "Quando a dor é muito forte, não consigo falar e comer. Torna-se muito difícil suportá-la e, ao mesmo tempo, conviver com toda a ansiedade e pensamentos depressivos que traz. A dor pode surgir a qualquer momento e nunca irá realmente embora."

Ao início, fazia medicação mas, a dada altura, já tomava tantos fármacos diferentes que sentia "não ter grande qualidade de vida". Foi aí que decidiu experimentar a meditação, o yoga e o mindfulness, a par com “outras transformações” que fez na sua vida

“Essas práticas ajudaram-me a ter cada vez menos receio da dor. Quando ela se instala, já não é como se tivesse acontecido uma catástrofe. Aceito-a melhor. Tanto pode aparecer como não, mas aprendi a viver com essa incerteza. Sinto que aproveito mais a vida agora.”

A aceitação da dor ou de qualquer outro problema, circunstância ou facto é, aliás, uma das principais mais-valias do mindfulness, diz. "Ajuda-nos a dar a mão às nossas feridas ou a aspectos nossos de que não gostamos tanto."

Tiago Pereira Santos e João Carlos Santos

Lançado em maio, “Que voz é esta?” é um podcast do Expresso dedicado à saúde mental. Todas as semanas, as jornalistas Joana Pereira Bastos e Helena Bento dão voz a quem vive com ansiedade, depressão, fobia ou outros problemas de saúde mental, e ouvir os mais reputados especialistas nestas áreas. Sem estigma nem rodeios, falamos de doenças e sintomas, tratamentos e terapias, mas também de prevenção e das melhores estratégias para promover o bem-estar psicológico.

O podcast conta com o apoio científico de José Miguel Caldas de Almeida, psiquiatra e ex-coordenador nacional para a saúde mental.



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