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Que voz é esta?

Anorexia: o que leva as pessoas a não comer e a “lutar contra o próprio corpo e destruí-lo”?

Dulce Bouça, psiquiatra, e Susana Llanos, a quem foi diagnosticada uma anorexia aos 13 anos.
Dulce Bouça, psiquiatra, e Susana Llanos, a quem foi diagnosticada uma anorexia aos 13 anos.
NUNO FOX

A investigação sobre as causas da anorexia tem feito progressos nos últimos anos. Dulce Bouça, psiquiatra especializada nas doenças do comportamento alimentar, explica que os doentes têm uma “fragilidade" numa função cerebral que permite ao ser humano ter noção dos limites, formas e funcionamento do corpo. “Todos nós conseguimos mais ou menos detetar sinais de alerta ou sentir dor, mas as pessoas com anorexia têm esta função num limiar muito baixo. Fazem dietas ou exercício permanente porque estão continuamente à procura de perceber como funciona o seu corpo.” Oiça aqui o novo episódio do podcast do Expresso dedicado à saúde mental, com as explicações de Dulce Bouça e o testemunho de Susana Llanos, 48 anos e diagnosticada com anorexia aos 13

A anorexia é a doença psiquiátrica que mais mata. Entre 5% a 10% dos doentes morrem, uns devido a complicações médicas graves, por estarem subnutridos, outros porque se suicidam. A doença tem um impacto devastador na vida das pessoas. Afeta a saúde psicológica e física, e afeta as relações, fechando os doentes numa espécie de casulo, onde se debatem, totalmente solitários, com questões inimagináveis para os outros - é uma “prisão”.

Susana Llanos, 48 anos e natural de Lisboa, foi diagnosticada pela primeira vez com anorexia aos 13 anos, quando praticava ginástica de competição. Já em adulta, foi internada três vezes, mas só recentemente recuperou da doença.

No quarto episódio do podcast “Que Voz é Esta?”, dedicado às perturbações do comportamento alimentar, Susana descreve o impacto da doença na sua vida. “A minha rotina diária era acordar, pesar e comer o mínimo essencial: meia fatia de pão. Tinha pavor de beber água. Uma pessoa com anorexia pesa-se 599 vezes por dia. E beber um copo de água significava que, se me fosse pesar logo a seguir, o meu peso teria aumentado 100 gramas. Portanto, eu não bebia, eu molhava os lábios. O medo de ver os números na balança era aterrador. A minha cabeça não funcionava, não conseguia ler um livro, apenas estar em frente à televisão, mas sem conseguir prestar atenção. Tornei-me um vegetal. E afastei-me de toda a gente.”


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