1983: quando a crise e a Europa juntaram PS e PSD no Governo
A 4 de junho de 2023 completam-se 40 anos sobre a assinatura de um acordo de Governo entre PS e PSD que ficou para a história como Bloco Central. Cristina Figueiredo conversa com Daniel Proença de Carvalho, 81 anos, advogado, testemunha privilegiada de como se forjou esse acordo, e Francisco Assis, 58 anos, presidente do Conselho Económico e Social desde 2020, que sempre defendeu o diálogo entre os dois maiores partidos portugueses mas nem sempre foi bem entendido. Oiça aqui o Liberdade para Pensar, podcast que passa em revista os últimos 50 anos de notícias em Portugal e no mundo
O ano começa sob crise política, precipitada pela demissão do primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, após a derrota da coligação governamental (AD) nas autárquicas de dezembro. A 4 de fevereiro o Presidente da República, Ramalho Eanes, dissolve o parlamento e marca eleições antecipadas.
O ambiente de campanha eleitoral instala-se e só é tragicamente interrompido pelo assassínio, a 10 de abril, do dirigente palestiniano Issam Sartawi, quando entrava no hotel Montechoro, em Albufeira, para participar como observador convidado no congresso da Internacional Socialista. O assassino disparou 6 tiros e fugiu, a pé, sem que a polícia nada fizesse para o deter. O atentado seria depois reivindicado pela Organização extremista Abu Nidal.
O ainda primeiro-ministro Balsemão reage defendendo a criação de um serviço de informações da República. Algo que adquire ainda mais urgência em julho, após novo atentado terrorista, desta vez à embaixada da Turquia, em Lisboa, de que resultam sete mortos. A lei que daria origem ao SIS, tão falado por estes dias, seria aprovada em Conselho de Ministros em outubro de 1983.
A 25 de abril, numas eleições bastante participadas (78% dos inscritos exercem o seu direito de voto), o PS vence com 36%, o que lhe dá 101 deputados. O PSD fica em segundo, com pouco mais de 27% e 75 deputados. Na edição seguinte do Expresso a manchete confirma o que há muito se vinha adivinhando nos bastidores políticos: “Soares convida PSD a negociar Governo”. Estava em marcha o Bloco Central.
No mundo das artes, 1983 é o ano em que Zeca Afonso se despede dos palcos (começava a ficar afetado pela Esclerose Múltipla que o vitimou em 1987). É também um ano triste para os fãs de Tintin, que choram a morte do seu criador, Hergé, a 3 de março. Para os fãs portugueses de Julio Iglesias a vida também não corre bem: o Governo proíbe a atuação do cantor, prevista para setembro no estádio do Restelo, com o argumento de que a saída de 36 mil contos (o preço do espectáculo) para o exterior, numa altura de austeridade e em que estavam a ser pedidos tantos sacrifícios aos portugueses, podia ter “efeitos psicológicos negativos” na população.
50 anos de História: o que se tira das manchetes do Expresso para o debate que importa fazer hoje? Todas as semanas, ao longo de 2023, Ângela Silva, Cristina Figueiredo e Paulo Baldaia partem ano a ano com convidados especiais: políticos, economistas, artistas, figuras que marcam a sociedade portuguesa. Ao todo, 50 debates sobre 50 anos de Portugal. Sem dogmas, para pensar o mundo. Todas as sextas-feiras, com Liberdade para Pensar.
Cristina Campos, ex-presidente da Novartis Portugal e atual membro do Conselho de Administração da Freemácia