André Barata (parte 1): “Defendo o direito a um rendimento para todas as pessoas independentemente do trabalho”
O filósofo André Barata anda há muito a refletir sobre a importância de desacelerarmos. Em 2018 lançou o livro “E se Parássemos de Sobreviver? — Pequeno Livro para Pensar e Agir contra a Ditadura do Tempo”, editado pela Documenta. Este professor catedrático na Universidade da Beira Interior (UBI), a dirigir atualmente a Faculdade de Artes e Letras, defende que há uma aceleração artificial do tempo que vem desde a Revolução Industrial e que ganhou ainda mais força na era digital. Nestas suas reflexões considera que a sociedade deve “sair da armadilha da sobrevivência", que o rendimento das pessoas não deve depender do trabalho e que ainda há muito para descolonizar sobre o passado português. Ouçam-no aqui nesta primeira parte da conversa com Bernardo Mendonça
O tempo não pára, a máquina não pára, mas como podemos recuperar tempo para não descarrilarmos ou cairmos num imenso esgotamento?
É a partir desta tormenta e questão filosófica que arranca este podcast com o filósofo, professor e investigador André Barata que anda há muito a refletir sobre a importância de desacelerarmos. E se nos libertarmos da armadilha de sobreviver? Qual é o sentido da vida se não temos tempo para realmente viver?
Sobre isto mesmo, em 2018, Barata lançou o livro “E se parássemos de sobreviver? - pequeno livro para pensar e agir contra a ditadura do tempo”, editado pela Documenta.
Este professor catedrático na Universidade da Beira Interior (UBI), a dirigir atualmente a Faculdade de Artes e Letras, defende que há uma aceleração artificial do tempo que vem desde a revolução industrial e que ganhou ainda mais força na era digital.
Nesta conversa o filósofo dá conta de que a verdade e a democracia são duas grandes vítimas da ditadura do tempo, reflete sobre o futuro, a importância e desafios da criação de um Rendimento Básico Incondicional e descontrói os conceitos de boa tecnologia e alguns mitos em redor do trabalho assalariado.
Autor de inúmeros livros de ensaio, André Barata assinou recentemente “O desligamento do mundo e a questão do humano” e “Para viver em qualquer mundo, nós, os lugares e as coisas”, também da Documenta.
E nestes seus pensamentos André Barata considera que trabalhamos demais em tarefas que deviam ser mais entregues às máquinas, que vivemos desligados do mundo - seja na forma como tratamos os outros ou a natureza - e que neste mundo digital nunca houve tão grande desvalorização do discurso e do pensamento.
Na era do Chat GPT, o pensamento está a ser passado para as máquinas, que por sua vez vão mandar em nós? Como olha para o futuro da Inteligência Artificial quem se dedica à atividade de pensar? Esta são outras questões lançadas a André Barata neste episódio.
Sobre o passado colonial do país, André Barata chega a afirmar neste episódio:
“Ainda há muito para descolonizar sobre como interpretamos o passado. Não significa renegar ou apagar o passado, mas há muito que fazer. Talvez seja brutal dizer, mas basta pensarmos na letra do nosso hino nacional que ainda é uma herança de um tempo colonial. Tal como é assustador ver ainda manuais escolares que tratam o tráfico de escravos no século XV, XVI, ao lado do comércio de especiarias e do ouro, como se não merecesse uma reflexão e olhar crítico.”
André Barata começou desde cedo a ter um olhar político e cívico para o país e o mundo. Antes da universidade, participou na luta das PGA, que achava elitista, e com razão, depois na luta das propinas, que achava um passo atrás no que devíamos querer para uma universidade e, de novo, tinha razão.
Mais tarde, esteve envolvido em vários partidos de esquerda, foi dirigente do Livre, e tem sido rosto de várias causas, como a luta ambiental e o anti-racismo, e seguiu o caminho de uma participação cívica entre jornais, pequenos ensaios e textos maiores, que foram convergindo em livros, que são o que André Barata considera que tem de melhor a dar.
André Barata sente-se bem a ser uma voz pública, mesmo que a seu ver “relativamente marginal”. E tenta nos seus textos “devolver algum encantamento pelas coisas”. Dizem-lhe que esses seus textos falam de amor… ainda que pouco ou nada use a palavra. Será por pudor?
Barata conta aqui que adora dançar em festas para as quais o convidam. E guarda a memória “das vezes que dançou quase parado numa pista apinhada de pessoas”.
O filósofo tem como ambição pessoal envelhecer bem, sem pessoas zangadas consigo e é da opinião que “o mais revolucionário no nosso tempo é parar”. E deixa algumas pistas sobre como a sociedade pode acertar nesse caminho.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte deste episódio será lançada na manhã deste sábado. Boas escutas!