A Beleza das Pequenas Coisas

Francisco Louçã: “Há irritantes em Portugal que acham que as pessoas vivem melhor se tiverem menos, se o salário for pior”

O economista e professor universitário Francisco Louçã considera que se o país fosse agora a votos o BE dobraria o número de deputados, apesar de as sondagens indicarem queda de dois pontos, mas assume que a recuperação da fratura pelo chumbo do seu partido ao OE é lenta. Louçã, que foi fundador e coordenador do BE de 2005 a 2012 - ainda antes da “Geringonça” - apelida como “bacoco” o orgulho do Governo pelas contas certas, alerta que Costa está a coroar Ventura como o líder da direita e deixa recado: “Costa abre caminho para um Governo PSD-Chega.” Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça

Há um ano, Francisco Louçã foi entrevistado pelo Expresso e traçou um cenário de futuro onde não havia lugar para o otimismo. “O otimismo é um luxo a que não nos podemos dar”. Um ano depois, quando questionado nesta entrevista em podcast se está derrotista ou vê luzes de esperança, Louçã afirma:

“No final do século XIX, uma boa parte da intelectualidade portuguesa, como Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, juntavam-se num grupo a que chamavam “vencidos da vida”, que eram republicanos e socialistas que conviviam com o rei porque achavam que não havia nada a fazer, e desistiam de tudo. O pior que nos podia acontecer era ter uma geração de vencidos da vida agora no princípio do século XXI. Nada derrotará a vontade de quem queira fazer da democracia uma raiz do povo. Que é difícil? Cada vez mais. Pela forma como somos atrofiados nesta ideia de que Portugal tem que ser um cantinho à beira mar plantado, para os turistas virem passear e para nós estarmos de bandeja estendida à espera de uma gorjeta. Esta ideia não pode triunfar."

Sobre a recente sondagem do ICS-ISCTE para o Expresso e a SIC, que dá nota do tombo de popularidade do PS que perdeu a maioria absoluta nas intenções de voto e agora empata nos 30% com o PSD, Louçã declara:

“O dado mais impressivo é que dois terços das pessoas acham que o governo é “mau” ou “muito mau”. Isso já diz tudo sobre a sondagem. Resulta da expressão de um desgaste muito grande de um governo um ano depois, quando tinha maioria absoluta. A minha explicação é que é em parte por causa dessa maioria absoluta. Porque magnificou todos os problemas de arrogância, carreirismo e de substituição de personalidades. Mostrou um partido no governo como ele saber ser quando tem o poder absoluto.”

Neste mesmo episódio, Louçã comenta também esta nova queda de popularidade do Bloco que perde dois pontos deste Dezembro. É-lhe perguntado se o BE está a perder relevância e porque é que a esquerda à esquerda do PS não está a crescer com esta descida de popularidade do governo. E o antigo líder do Bloco responde:

“A esquerda sofreu a decisão difícil de não aceitar as condições que o PS colocou há um ano, e que levou ao choque do orçamento. Isso não teria que provocar eleições. As eleições foram um desígnio maquiavélico das jogadas estratégicas de Costa, que fez magníficamente o seu papel e triunfou, porque criou medo. Mas o facto é que a esquerda quis colocar o patamar de uma solução para o país nas respostas ao SNS, para a precariedade dos mais jovens e política de habitação. E nos três termos tinha razão. Há um ano estávamos a discutir se devia haver carreiras profissionais no SNS para que as urgências não falhasse. Não era isto necessário? Todos os dias sofremos esta degradação triste de não haver pediatras, ortopedistas, oftalmologistas, psiquiatras, ginecologistas, ou obstetras nos hospitais.”


Muitas outras questões são também lançadas neste podcast: A provável futura liderança de Mariana Mortágua no BE representará um virar de página no seu partido? E que esperança e saída a esquerda tem atualmente para dar às pessoas, perante o crescimento da extrema-direita e os perigosos exemplos de populistas que chegaram ao poder em vários países no mundo?

Depois de tantos anos na política ativa, ficou uma saudade? Ainda tem ambições políticas? Depois dessa experiência, ficaram muitos tabus?

E Louçã ainda nos dá música e lê um excerto do livro “Os anos”, da prémio Nobel da Literatura Annie Ernaux.

Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha. Os retratos são da autoria de José Fernandes. A sonoplastia deste podcast é de Salomé Rita

Voltamos para a semana com mais uma pessoa convidada. Até lá, já sabem: pratiquem a empatia, boas escutas e boas conversas!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: BMendonca@expresso.impresa.pt

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