Rafael Morais: “Quero ser um ator e uma pessoa em vertigem. Quero explorar os limites, correr riscos. Prefiro falhar seguindo o instinto”
No grande ecrã dá vida ao pintor modernista Amadeo de Souza-Cardoso, no filme biográfico “Amadeo”, realizado por Vicente Alves do Ó. Mas Rafael já provou ser camaleão. Foi brilhante a interpretar ‘Joca’, um pequeno traficante cadastrado, em “Sangue do Meu Sangue”, de João Canijo, ou enquanto irmão apaixonado pela irmã no filme “Como Desenhar Um Círculo Perfeito”, de Marco Martins - que lhe valeram nomeações para os Globos de Ouro. Na Netflix deu que falar nas séries “White Lines” e “Glória”, entra agora em “Rabo de Peixe”, e poderá ser visto noutros filmes em breve. O futuro é dele: “Gosto do cinema que vira o espelho, que incomoda, provoca e abana.” Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça
A câmara gosta dele. Mas ele também gosta da câmara. Particularmente quando se trata da “subtileza” do cinema. Rafael Morais tem um carisma e uma densidade que enche o grande ecrã e não deixa ninguém indiferente. Porque há no seu olhar uma melancolia, um mistério ou escuridão que ele empresta às suas personagens, e que o cinema capta sem nunca o deslindar.
Foi essa sombra e uma certa singularidade que o realizador Vicente Alves do Ó percebeu em Rafael Morais, logo no primeiro casting que lhe fez, que o levou a escolhê-lo para interpretar o pintor modernista Amadeo de Souza-Cardoso, no filme biográfico “Amadeo”, atualmente em cartaz nos cinemas.
Rafael é bastante credível e luminoso enquanto Amadeo - o pintor minhoto nascido numa família burguesa, que chegou a fazer parte da elite artística parisiense no início do século XX - retrato agora num filme belíssimo, com imagens que parecem autênticas pinturas e que merece ser visto nos cinemas. E partilha com a personagem o mesmo desassossego e inquietude. “Vivo em constante desassossego. Nunca estou satisfeito com o que tenho. Quero tentar viver a vida ao máximo.”, conta nesta conversa em podcast.
Mas Rafael já provou ser um camaleão, capaz de representar muitas outras vidas. E se é convincente no corpo de Amadeo, foi igualmente brilhante a interpretar Joca, um pequeno traficante cadastrado, em “Sangue do Meu Sangue”, de João Canijo, ou enquanto irmão apaixonado pela sua irmã no filme “Como Desenhar Um Círculo Perfeito”, de Marco Martins - filmes que lhe valeram duas nomeações para os Globos de Ouro.
Mas antes do ator, nasceu o espectador. Foi logo na adolescência que Rafael ganhou fascínio pelo cinema, e até uma obsessão, ao ponto de faltar a várias aulas para visitar o videoclube do bairro onde investia boa parte do dinheiro dos almoços. Um escape que ele e o seu irmão encontraram após o divórcio dos pais, conta o ator neste podcast.
Aos 15 anos, Rafael mudou-se da Covilhã para Lisboa, para estudar na Escola Profissional de Teatro de Cascais (TEC). Aí percebeu que havia muitos mais jovens como ele, com o mesmo sonho, a mesma obsessão. E antes mesmo de terminar o curso, Rafael estreou-se no cinema com o filme “Um Amor de Perdição”, de Mário Barroso.
Na mesma semana em que terminou o curso de teatro, Rafael comprou o bilhete para Los Angeles para ir atrás do grande sonho. Foi com uma bolsa da GDA que estudou na conceituada escola de representação “Stella Adler Academy”, em LA, onde viveu de forma intermitente durante 12 anos, e onde realizou o seu primeiro filme, a curta “You Are the Blood” (Seleccionada para o festival IndieLisboa e NewFilmMakers em LA). Foi também lá que adotou Luna, o seu cão e “amor da sua vida”.
A verdade é que Rafael tem feito do seu sonho, uma realidade. Foram vários os filmes e séries em que entrou. Recentemente puderam vê-lo na série da Netflix “White Lines”, a interpretar a versão jovem da personagem Boxer, também representada por Nuno Lopes, e integrou o elenco da série “Glória”, de Tiago Guedes, que foi a primeira produção original portuguesa da Netflix.
No início da pandemia, quando o mundo se fechou em casa, Rafael Morais decidiu regressar a Portugal e, desde então, tem participado em inúmeros projetos europeus de televisão e cinema. É o caso do filme “A Cup of Coffee and New Shoes On”, de Gentian Koçi, onde com o seu irmão gémeo Édgar Morais, teve de aprender linguagem gestual para interpretar uma história de dois irmãos surdos com uma doença degenerativa, numa co-produção entre a Albania, Portugal, Grécia e Kosovo. Filme esse que foi o escolhido como candidato oficial da Albânia para os Óscars.
Por esses papéis, Rafael e Edgar foram elogiados pela crítica internacional - como é o caso da americana ”Variety” que considerou estas interpretações como “umas das melhores do ano”. Quando questionado sobre o que significa para si o cinema, responde que “é a vida”. Para depois acrescentar: “Apercebo-me que os momentos em que fui mais feliz na vida foi a representar num estúdio de cinema. É mais fácil viver num ‘set’ do que na vida real.”
Vale a pena referir ainda outras produções em que Rafael entrou recentemente, como o filme “Pátria”, de Bruno Gascon; os filmes “Mal Viver” e “Viver Mal” de João Canijo; a série de TV "Madrugada Suja", para a RTP, e a série “Rabo de Peixe”, para a Netflix. Rafael integra ainda o próximo filme de Vicente Alves do Ó, “Malcriado”, e acaba de terminar a rodagem da próxima longa-metragem, de Pedro Cabeleira. É obra!
Recorde-se uma das cenas emblemáticas do filme Amadeo, em que a enorme atriz Eunice Munõz, que faz de avó de Amadeo, chega a dizer ao seu neto: “Andas muito desassossegado, Amadeo”. Poderíamos repetir esta mesma fala …para o Rafael. “Quero provocar a minha audácia e ousadia. Prefiro falhar seguindo o meu instinto. Não me interessa jogar pelo seguro”
Neste episódio em podcast, o ator chega a ler um texto da dramaturga inglesa Sarah Kane e revela algumas das músicas que o acompanham. E ainda recebe uma pergunta surpresa. Isto e muito mais para ouvir.
Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos são da autoria do Nuno Fox. A sonoplastia deste podcast é de João Martins.
Este podcast regressa na próxima semana com outra pessoa convidada. Até lá, pratiquem a empatia e boas conversas!
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes