Mariana Mortágua: “Os 125 euros acontecem uma vez. É quase como se tivéssemos um país de mão estendida à espera de um apoio do Governo”
Nos últimos nove anos, Mariana Mortágua tornou-se uma das figuras políticas portuguesas mais relevantes, desde a participação na comissão de inquérito ao BES a questionar os então ‘Donos Disto Tudo’. Depois da ‘geringonça’ e do grande tombo das últimas eleições, que fez o Bloco de Esquerda passar de 19 para cinco deputados, Mariana não se arrepende do chumbo ao Orçamento do Estado. “Um partido que se deixa vergar não é útil.” E ainda revela outros lados de si, além da política. Ouçam-na no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça
Mariana Mortágua deu logo nas vistas na comissão de inquérito ao BES/GES ao encostar à parede o banqueiro e na altura “Dono Disto Tudo” Ricardo Salgado e o gestor de telecomunicações e menino querido dos prémios de inovação Zeinal Balva, expondo os alegados esquemas e crimes de corrupção e fragilidades de gestão. A verdade é que estes casos estenderam-se demasiado no tempo e alguns ainda estão na Justiça. E quem são agora os novos “Donos Disto Tudo”? Tudo muda para tudo ficar na mesma?
Sobre a deputada do BE alguém chegou mesmo a dizer “Quando atira, atira a matar!”. E atinge os peixes graúdos da banca e da gestão e os seus opositores políticos, com argumentos bem preparados e críticas contundentes.
Mariana Mortágua, economista de formação, chegou ao parlamento para substituir Ana Drago, interrompendo o doutoramento que fazia em Londres, e deu a cara por um novo imposto imobiliário, o “imposto Mortágua”. Depois foi um dos rostos da Geringonça, quando António Costa fez um acordo com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista. Neste podcast Mariana Mortágua faz o balanço desses tempos em que o BE deixou de ser um partido de protesto para ser um partido de poder.
Terá sido uma das razões para o resultado nestas últimas eleições? Se soubesse o que sabe hoje teria vetado este novo Orçamento do Estado? Já terão feito uma reflexão profunda?
“Fomos fazendo essa reflexão. Temos de falar com honestidade sobre vitórias e derrotas. É muito raro que um partido mais pequeno que apoia no parlamento outro grande partido saia em ganho no fim desse ciclo. Normalmente os partidos mais pequenos saem em perda. Sabíamos disso. É histórico. Porque os grandes partidos que estão a governar têm a capacidade de absorver os ganhos, e tendem a estrangular e a ficar com os louros do que de bom foi negociado ou até imposto por partidos mais pequenos. O BE sabia que ao fazer uma maioria parlamentar e ao apoiar o governo em 2015 correria um risco e era um processo difícil. Assim como sabíamos que haveria um preço a pagar por rompermos e votarmos contra o orçamento. Quer isto dizer que qualquer destas decisões tenha sido errada? Eu acho que não.”
A verdade é que o BE passou de 19 para 5 deputados na Assembleia da República. E houve quem lhe tenha chamado o novo partido do táxi na AR. Qual o futuro do BE? E de Mortágua? Recorde-se que Francisco Louçã chegou a afirmar há 5 anos em entrevista ao Expresso que um dia Mariana Mortágua viria a ser Ministra das Finanças. Neste episódio, Mariana comenta o oráculo de Louçã e não poupa críticas ao governo de António Costa, agora com maioria absoluta.
“Este governo de Costa está a abdicar de uma série de aprendizagens que foi fazendo, sobretudo no tempo da troika, e está a justificar a ideia de um empobrecimento inevitável com a narrativa das contas públicas e dívida. E sabe que isso tem alguma aceitação, porque o medo leva à aceitação deste tipo de políticas, mas que não salvam ou resolvem a vida a ninguém”, afirma a deputada neste podcast.
Autora das obras “Isto é um Assalto” ou “A Dívida Dura - Portugal na Crise do Euro”, esta última assinada com Francisco Louçã, Mariana Mortágua acaba de lançar um novo livro a que chamou “No Sonho Selvagem do Alquimista”, pela editora Tinta da China. Há algo de alquímico no desaparecimento de milhões das empresas e dos bancos fazendo com que sejam os contribuintes a pagar por isso? Mariana responde a isto e muito mais.
Apesar de considerada uma das figuras mais duras da política, quem conhece Mariana Mortágua de perto considera-a uma tipa porreira, acessível, que despe a capa de durona nos corredores da Assembleia da República e que é capaz de se sentar nas escadas junto a um jornalista a comer bolachas, enquanto lhe explica generosamente de forma informal algumas questões económicas mais complexas. E é precisamente por aqui que começa esta conversa. E termina com música, cerveja, séries e… jogos de tabuleiro.
Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos desta vez são da autoria de Nuno Fox. E a edição áudio deste podcast é do João Martins.
Voltamos para a semana, com mais uma pessoa convidada. Até lá escrevam-nos, comentem, ativem as notificações, partilhem, classifiquem o podcast e, já sabem, pratiquem a empatia e boas conversas!
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