A Beleza das Pequenas Coisas

Karol Conká: “Já vivi várias rejeições por ser mulher, preta, do sul do Brasil. Defendo-me do machismo e racismo sendo combativa!"

Em fevereiro de 2021, a rapper e compositora Karol Conká foi eliminada do “Big Brother Brasil” com uma rejeição recorde. Fora do programa, enfrentou o ódio e a agressividade de milhões de pessoas. Foi duro o tombo e, como sempre, a música salvou-a e ajudou-a a enfrentar “monstrinhos e feridas.” A propósito do novo álbum “Urucum”, Karol afirma ter abraçado a sua vulnerabilidade. “Ninguém merece ser reduzido aos erros. Todo o mundo erra. Se formos eliminar as pessoas que erram não sobrará uma pessoa.” Ouçam-na no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça

Este é o tempo em que as mulheres, as comunidades racializadas e a população LGBTQIA+ estão mais empoderadas e reclamam como nunca o seu lugar de fala, os seus direitos, as suas identidades e o fim da masculinidade tóxica, do racismo, da homofobia, da transfobia e do poder privilegiado do homem branco, cis, hetero.

Mas este é também o tempo das trincheiras, dos extremismos, das feridas abertas, das fogueiras virtuais, do ódio e do cancelamento. “Todos falam, ninguém ouve”.

A intolerância anda ao ritmo dos cliques e das partilhas virais de ‘memes’ nas redes sociais, um fogo que arde sem se ver, mas que queima e reduz a cinzas e silêncio sem piedade quem for parar ao paredão por um deslize, um erro, um momento menos feliz e que pode fazer tombar quem lá for parar.

Em fevereiro de 2021, a rapper, cantora e compositora brasileira Karol Conká foi eliminada do “Big Brother Brasil” com uma rejeição recorde. Fora do programa, enfrentou o julgamento implacável, o ódio e a agressividade de milhões de pessoas.

“O que gera entretenimento é o caos. Na edição do BB Brasil em que entrei fui considerada a maior vilã. Mas só estava a reagir aos meus monstrinhos e feridas. As coisas que nem eu sabia que tinha dentro de mim. Quando assisti depois ao meu comportamento na casa, não vi uma pessoa má, vi uma pessoa triste cometendo erros e defendendo-se”, afirma neste episódio.

Há muito que esta artista brasileira - que é também modelo, atriz, produtora e apresentadora - canta para cicatrizar feridas, mudar vidas e reclamar o poder e a voz da mulher negra no Brasil e no mundo contemporâneo. Depois de “Batuk Freak”, de 2013, e de Ambulante, de 2018, lançou este ano o álbum “Urucum”, e veio a Portugal para o apresentar no festival Iminente.

Urucum, nome de fruto usado pelos índios como protetor da pele contra o sol e contra picadas de insetos e nome de um disco de 11 faixas onde Karol expõe o que viu ao olhar para o avesso de si — mas também para dentro das engrenagens da máquina de ódio que se ergueu fora dela. Sem rancor, sem autocomiseração, sem vingança. O que mudou em si depois dos momentos difíceis em que o Brasil parecia estar de costas viradas para si? Qual foi a lição disso tudo? E o que se ganha depois de se perder quase tudo? Karol, ou Karoline dos Santos Oliveira, responde a isto e muito mais.

Uma conversa onde também se fala sobre o Brasil de hoje e os temas fraturantes que revisitam a sua História: o colonialismo, o racismo, a desigualdade social, a corrupção e a violência.

Num momento em que o Brasil decide se quer virar a página destes últimos anos difíceis e controversos ou manter quem está no poder, se vota em Lula ou Bolsonaro, Karol Conká diz o que pensa, em quem vai votar, e afirma que não alinha em extremismos e ódios.

Mas há muito mais para ouvir e descobrir neste episódio, como o momento em que Karol canta a capella um tema de Elza Soares, fala de sexualidade, prazer e amor, e partilha algumas das músicas que a animam.que a animam.

Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos desta vez são da autoria de Nuno Botelho. E a edição áudio deste podcast é do João Luís Amorim.

Voltamos para a semana, com mais uma pessoa convidada. Até lá escrevam-nos, comentem, ativem as notificações, partilhem, classifiquem o podcast e, já sabem, pratiquem a empatia e boas conversas!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: BMendonca@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas