Vivemos tempos de guerra, de ódio, de intolerância, de violência. E a arte e o teatro também podem ajudar a combater essas bizarrias. A partir do texto Orlando, de Virginia Woolf, Cláudia Lucas Chéu construiu uma narrativa que mistura a ficção da autora britânica com fragmentos da realidade contemporânea e dá voz e corpo a um novo Orlando, para refletir sobre as questões de género, orientação sexual (e suas discriminações) e a importância do amor, do respeito, da empatia, da diversidade. Com produção do Teatro Nacional XXI, encenação de Albano Jerónimo e 11 intérpretes em palco, “Orlando” é, acima de tudo, uma travessia até à verdade e uma celebração e um grito de revolta da comunidade LGBTQIA+ que certamente não deixará ninguém indiferente. “Neste espetáculo, voltei a encontrar uma simplicidade na forma de estar, de estar disponível para o presente, a vulnerabilidade, a exposição, que custa muito, mas que é absolutamente libertador.”
Enquanto feminista e humanista, Cláudia Lucas Chéu é de lutas e de causas, e sabe bem o poder transformador que um texto, um poema ou apenas uma palavra tem para rebentar com muros, silêncios, vergonhas, machismos, racismos, homofobias, transfobias e outros preconceitos e agressões tais. Cláudia não é autora de pieguices, molezas, floreados, gatos fofinhos ou coisas bonitas e suaves para soar bem e colocar um ‘like’ sem compromisso.
Exemplo disso é a obra poética que acaba de lançar, “Ode Triumphal à Cona”, leitura obrigatória para todas as pessoas, que é um manifesto feminista com humor, sentido crítico e ironia no ponto certo. “Sou muito contra a boa educação na arte. Gosto do que é mal-educado, do que não faz parte da norma, e de lhe dar outros significados”, afirma a autora. E chega a revelar ainda a importância vital que a literatura e a escrita tem para si: “A escrita salvou-me em determinados momentos maus. Estava tão triste e desacreditada de tudo que escrever me trouxe de volta a mim e à vida.”
Sobre o seu olhar para o mundo e para as outras pessoas, Cláudia revela: “O que me atrai é a beleza da imperfeição. É a jarra lindíssima e preciosa que tem uma falha. Assim é com as pessoas. Gosto de pessoas imperfeitas e vulneráveis e não das de verniz.”
A autora fala ainda da relação cúmplice com a filha Francisca e do feedback positivo que tem recebido desde que revelou publicamente a relação com a fotógrafa Mag Rodrigues e de como isso tem ajudado algumas pessoas a conviver melhor com a sua identidade e orientação sexual. “Depois de assumir a relação com a minha namorada, houve pessoas que me disseram ter ganho força para se mostrarem como são. Isso é mais rico do que qualquer prémio que um dia possa receber.”
A autora lê dois poemas: um seu, outro de Álvaro de Campos e revela algumas das músicas que a acompanham.
Como sabem, o genérico desta nova temporada é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos são da autoria de António Pedro Ferreira. E, como habitualmente, a edição áudio deste podcast é de João Luís Amorim.
Voltamos para a semana, com mais uma pessoa convidada. Até lá escrevam-nos, comentem, classifiquem o podcast e, já sabem, pratiquem a empatia e boas conversas!
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: oemaildobernardomendonca@gmail.com