Foi na sala do apartamento do poeta Alberto Pimenta onde decorreu esta conversa que começou com a simples pergunta: “Para que serve a poesia?” A resposta surgiu logo pronta… não a comer, mas a ouvir. “A poesia serve sobretudo quem a faz. Porque fá-la por uma necessidade interior. Seja a poesia que nós apreciamos muito ou apreciamos pouco. Quem a fez tinha uma compulsão. A poesia faz-se por compulsão. Assim como o ‘serial killer’ mata por compulsão, é exatamente a mesma coisa. Quem consegue fazer poesia deve ficar feliz. E fica. (...) Apetece-me muitas vezes dizer que a poesia é contrabando. Porque o normal é a chatice da prosa, que tem as leis, tem as regras, tem o que se deve fazer. E tem-no de uma maneira complexa que obriga a interpretações. A prosa vem do latim “Prosus” que significa “sempre em frente”, “sempre avante”. Até chegar ao ponto onde quer. A poesia não, é sinuosa, faz contrabando de ideias e palavras. E eu tenho sido um grande contrabandista.”
Sobre o epíteto de “Homem Pikante” dado pelo realizador Edgar Pêra num filme sobre Pimenta, surgiu a questão ao homem agitador de consciências a quem também já chamaram ‘anjo irado’: considera-se um homem picante?
A resposta foi com o condimento da verdade: “Não sei se o Edgar Pêra ficará zangado comigo. Quem criou o epíteto foi o pequeno filho de Edgar Pêra, o Henrique, de 5 anos. Que ouviu o pai falar do Pimenta e disse ‘pai, esse é o homem picante’. E assim nasceu esse título com um jogo que é um perfeito ‘looping’, é um oito. Não me considero um homem picante. Sou um homem muito, muito trivial, picante poderá ser o que escrevo, poderá ser qualquer manifestação minha. Mas sou discreto e tenho necessidade de sê-lo. Faço performances, sim. Como naquela que estive sentado numa cadeirinha pequenina, no Chiado, com a placa “Homem Vende-se”.
Este é só um aperitivo do tanto que poderá ouvir neste episódio, onde Alberto chega a falar do sentido da vida, a presentear-nos com a leitura de dois poemas, as músicas que o acompanham, e terminando com um brinde com conhaque. “À vida.”
Desta vez, a edição áudio é da Joana Beleza. E o genérico desta temporada é uma criação original do músico Luís Severo.
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Voltamos para a semana. Até lá, pratiquem a empatia e boas conversas!
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