A Beleza das Pequenas Coisas

Geovani Martins: “O meu maior medo era passar a vida a servir alguém. Agora é ser preso. Moro numa favela, mas tenho medo é da polícia”

Ele é considerado a mais poderosa revelação da literatura brasileira nos últimos anos. Nascido e criado nas favelas cariocas, datilografou numa máquina de escrever o livro de contos “O Sol na Cabeça”, onde revela o entra e sai do narcotráfico no morro, a ameaça constante da polícia, os bandidos a assaltarem estrangeiros, as vidas quotidianas no limite com o balázio da pobreza prestes a estoirar-lhes a cabeça. Aos 26 anos, Geovani Martins prepara-se para ver a sua obra adaptada ao cinema e não é manso na crítica aos governantes do seu país. "Em 2019 a polícia carioca matou mais de 1200 pessoas. Não existe pena de morte no Brasil, mas ela é aprovada nas ruas pelos governantes. A literatura é a minha arma para criar novas narrativas e promover a empatia.” Uma conversa obrigatória para ouvir neste episódio do podcast "A Beleza das Pequenas Coisas"

Geovani Martins: “O meu maior medo era passar a vida a servir alguém. Agora é ser preso. Moro numa favela, mas tenho medo é da polícia”

Joana Beleza

Edição áudio

Geovani Martins: “O meu maior medo era passar a vida a servir alguém. Agora é ser preso. Moro numa favela, mas tenho medo é da polícia”

Tiago Miranda

Fotografia

Em tempos de desumanidade, de 'fakenews', de populismo, intolerância e ódio, as histórias contadas pelo jovem escritor brasileiro Geovani Martins são obrigatórias. Para experimentarmos um novo ponto de vista para certas realidades mais marginais, mais periféricas, das vidas dos invisíveis da 'cidade maravilhosa' cheia de encantos mil, mas a transbordar também de mil e uma injustiças, dramas, dores, tensões e contrastes.

É no seu livro de contos “O Sol na Cabeça”, a sua estreia na literatura acolhida com entusiasmo pela crítica, editado em Portugal pela Companhia das Letras, onde Geovani Martins conta a realidade que bem conhece. A de rapaz suburbano que nasceu e cresceu nas favelas da Rocinha e Barreira do Vasco e atualmente reside no problemático morro do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro. "Moro numa favela, mas pago 200 euros de condomínio para ter a certeza que a polícia não vai invadir a minha casa.” A tirada é irónica e revela a desconfiança que Geovani tem da polícia brasileira que segundo ele mata crianças, pessoas comuns e criminosos com o apoio dos governantes e do Presidente Bolsonaro.

Foi em 2018 que Geovani foi revelado pela Flup - Festa Literária das Periferias - e desde aí tem sido um caso sério de popularidade. Uma obra entretanto lançada em 10 países. A fazer lembrar o universo contado no livro e no filme "A Cidade de Deus" [de Fernando Meirelles], mas com menos violência e mais humanidade.

"Fiquei chapado [esmagado]", afirmou o escritor e músico Chico Buarque depois de ler esta obra. E talvez os ouvintes se sintam também assim, 'chapados' ou esmagados, com esta conversa franca e sem medos que Geovani teve neste episódio sobre o Brasil atual, "polarizado e lunático", e o amor à literatura, à música e à vida simples, e aos dias deitado na rede a saborear o pacificador som do oceano.

Isto e muito mais para ouvir neste podcast. Mais uma vez a edição áudio é de Joana Beleza. E a beleza deste genérico é uma criação original do músico Luís Severo. O belíssimo retrato é assinado por Tiago Miranda.

Mantemos o desafio a todos os ouvintes que enviem as suas opiniões, sugestões, histórias e comentários para abelezadaspequenascoisas@impresa.pt

Até para a semana, pratiquem a empatia e boas conversas!

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