19 maio 2023 0:57
A PT deixou de ser quem mais investia em tecnologia e investigação, a Cimpor quase desapareceu, os CTT passaram de marca prestigiada a exemplo de incompetência, a ANA multiplicou as taxas, a EDP e a REN estão nas mãos da China
19 maio 2023 0:57
Sobre a privatização da TAP, feita por um Governo morto em benefício de quem usou dinheiro da companhia para a comprar, têm-se sabido coisas mais relevantes do que as intermináveis novelas que enchem os diretos da CPI. Mas institui-se que o escrutínio público ao que fica no Estado não é aplicável às privatizações. A dualidade de critérios ajuda a esconder o desastre que foram as últimas grandes privatizações. O país ficou sem controlo de sectores estratégicos como o da energia, perdeu dos maiores polos de inovação e investigação, capacidade de internacionalização e instrumentos para influenciar e regular áreas-chave da economia. Tudo em nome da rentabilização financeira de ativos.
Podemos começar por uma notícia recente, mas recorrente: os CTT voltaram a falhar os 22 indicadores de qualidade do serviço de correio universal. Em alguns, como o tempo de envio da correspondência não prioritária, ficaram 20 pontos aquém do estipulado no contrato de concessão. Numa década, passaram de marca prestigiada que garantia generosos dividendos ao Estado a exemplo de incompetência. Não é por dificuldades financeiras. No primeiro trimestre deste ano tiveram €16 milhões de lucro graças à fuga das altas taxas de juro para os Certificados de Aforro. No ano passado foram €36,4 milhões. Numa década, a empresa entregou aos acionistas €373 milhões em dividendos, 40% do que pagaram ao Estado. Como prémio por sermos um dos raros países com correios privados, o Estado perdeu receitas e os portugueses deixaram de receber cartas e encomendas a tempo e horas. Mas o dogma ideológico foi cumprido.