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Opinião

Se até o Quinto Império não tinha departamento de proteção civil

Se até o Quinto Império não tinha departamento de proteção civil

Francisco Louçã

Economista, Professor Catedrático

Vive Lisboa em pânico, como se os marcianos tivessem desembarcado, mas é a repetição de cheias como em dezenas de anos. Faltou o milagre que, afinal, era só um projeto orçamentado e calendarizado e, claro, nunca concluído. Triste sina, esta de ter autarcas que sabem que podem enganar a sua cidade

Não passa um carro, a cidade entrou em pânico, as escolas meteram água e as crianças e adultos fecharam-se em casa. As autoridades, mais assustadas do que o povo que já viu muito disto, bombardeiam os telemóveis com mensagens apocalípticas, esbracejando uma diligência que faltou quando foi mais necessária e cuja exibição pretende ocultar anos de promessas calculistas e indiferença cínica sobre obras urgentes nunca concluídas ou sequer começadas.

Pela manhã pouco chove, depois das litradas da noite, mas sentimo-nos como se tivesse passado o maremoto de 1755. As televisões emitem em modo de catástrofe, como se Orson Welles tivesse voltado a anunciar a chegada dos marcianos e vamos espreitar a esquina para vermos os disparos dos raios da morte dos sanguinários ocupantes saídos da sua nave reluzente. E, apesar do espetáculo do medo, isto é mesmo uma cheia, pequenina aqui, enorme ali. As águas procuram a sua história e marcham pelos leitos de ribeiras entretanto sepultados em alcatrão, pelo que, sem surpresa, inundam caves e túneis. Como sempre fizeram.

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