Opinião

Bolsonaro, Trump e nós — a ilusão

4 novembro 2022 0:32

4 novembro 2022 0:32

Festejei a vitória de Lula não como o “mal menor”, mas como a vitória da democracia. Tal como nos EUA com o trumpismo, o Brasil tem um problema crónico com o bolsonarismo. Bolsonaro, um Presidente racista, misógino, homofóbico, rosto do ressentimento violento com a democracia, opositor da independência judicial e da liberdade de imprensa, facilitador da violência armada, corrupto, criminoso ambiental, negacionista da ciência, admirador de torturadores da ditadura (desde logo do torturador de Dilma), obteve 58 milhões de votos. Bolsonaro sabe disso, desprezou a vitória de Lula, não apelou à pacificação nem tão-pouco pediu para que parasse toda e qualquer contestação dos resultados eleitorais. É aqui que nos vem à memória o assalto ao Capitólio, horror que só foi possível porque o trumpismo é estrutural e é animado diariamente e porque as palavras não são apenas palavras, elas provocam ação. Mesmo que Trump e Bolsonaro desaparecessem, os seus fenómenos permanece­riam e os sósias que diariamente se preparam avançariam. O pesadelo é esse, é perceber que o ódio, a divisão entre os cidadãos da cidade, o racismo, a xenofobia, a homofobia e o machismo são apostas vencedoras destes novos fascismos. Está estudado que estes desvalores têm valor económico, nomeadamente nas redes sociais, pela “excitação” que geram, pelo que de valor económico a ganho político o salto é evidente. A defesa do Estado de direito, a recusa do populismo, a não-cedência em matéria de direitos humanos são uma obrigação absoluta dos democratas, porque estes fascismos são a definição da insegurança dos que mais precisam de segurança e de liberdade.