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Opinião

Os gatos-pingados e coitadinhos dos pobrezinhos

A caridadezinha é uma cultura presunçosa, que se evidenciou na tentativa pela CML de transformar uma crítica às condições que fazem a pobreza numa parada dos “mais vulneráveis”. Há quem garanta que a pobreza é uma espécie de “doença mental”, o que tudo permite

Há não muito tempo, um dos publicistas da extrema-direita explanou aqui no Expresso a sua teoria sobre a impreparação neurológica do cérebro dos pobres “para fazer escolhas racionais e pausadas”: “é cada vez mais claro que 'a cultura da pobreza' pode ser vista — em parte — como uma doença mental”, escreveu Henrique Raposo. Como “é cada vez mais claro”, ele fez o favor de explicar aos broncos a clamorosa evidência sobre esta doença mental (“em parte”), essa coisa dos pobres que é a sua “cultura da pobreza”. E fê-lo com abundância de pormenores: “O meu caro leitor tem andado muito stressado este ano, não tem? Então imagine como seria o seu cérebro se tivesse vivido não um mas 40 ou 50 anos 2020. Já imaginou? É esse o cérebro do pobre; é um cérebro mais impulsivo e irracional. Ou seja, o cérebro do pobre é parecido com o cérebro depressivo. A depressão elimina o passado e sobretudo o futuro, ficamos presos num vórtice que nos força a viver sempre o mesmo momento. A pessoa deprimida tem impulsos suicidas, porque acha que nunca mais sairá daquele presente eterno e doloroso. Porque é que o pobre compra um iPhone de 600 euros quando ganha 600 ou menos? Porque está preso num vórtice parecido, não concebe o futuro; neurologicamente, nem sequer está preparado para fazer escolhas racionais e pausadas. Esta neurobiologia da pobreza exige sensações imediatas: o álcool, a droga, o prazer do consumismo, a fast food”.

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