19 agosto 2022 0:32
A solução é mais regulação dos instrumentos de atração de compradores, quando temos de desinchar a bolha, e o aumento da oferta pública de habitação. O que fazem tantos países europeus, despreocupados com o estigma do “socialismo”
19 agosto 2022 0:32
Há uns meses, o Parlamento chumbou propostas para revogar os vistos gold. O PS disse que é tempo de avaliação. Enquanto se avalia o que já sabemos, aconselho a consulta do último relatório do INE: mais de 10% das casas compradas em Portugal, em valor, são adquiridas por cidadãos estrangeiros — já lá vou —, muitos por causa de vistos gold e vantagens fiscais. Estes valores serão muito mais elevados em Lisboa, Porto e no Algarve. O preço médio de uma casa na Área Metropolitana de Lisboa aumentou 144% entre 2000 e 2019. No Grande Porto duplicou. E só nos últimos três anos cresceu ainda mais 30% no distrito de Lisboa e quase 40% no do Porto. Quanto ao salário médio, que tem de cobrir estes preços, não chegou a aumentar 50% desde 2000. As casas não são para bolsos portugueses e só os juros baixos, que chegaram ao fim, mitigavam os efeitos da bolha imobiliária. A brutal crise no acesso à habitação tem um efeito transversal. Ajuda à falta de trabalho em sectores como o turismo, com salários que não chegam para o preço absurdo das rendas nas imediações dos principais destinos. Há anos que Lisboa tem falta de professores porque não se consegue viver na capital. O mesmo acontece com polícias, enfermeiros e todo o tipo de profissões. É uma doença que afeta a economia, o rendimento disponível e os serviços públicos. É um problema estrutural que exige soluções estruturais.