Adeus Centeno, olá Álvaro? As polémicas recentes, a escolha do novo governador do Banco de Portugal e o que se ouve nos corredores do poder
Matilde Fieschi
Olá,
E obrigado por começar o dia connosco
As fotografias de Mário Centeno na cadeira de governador estarão prestes a ganhar lugar na própria casa, junto de imagens de infância e de outras recordações. O mandato à frente do BdP terminou no passado fim de semana e o novo governador deverá ser hoje conhecido. Centeno já sabe que sai, Álvaro Santos Pereira é o mais falado para governador do Banco de Portugal.
O atual economista-chefe da OCDE parece ser o nome que as alcatifas mais ouvem nos corredores do poder. Apesar de se dizer “muito feliz” na OCDE, pode estar prestes a fazer as malas e mudar-se para o banco central. O também ex-governante, recordado como ‘o Álvaro’ do governo de Passos Coelho e conhecido apreciador de pastéis de nata, será a escolha de Montenegro. O primeiro-ministro ainda ensaiou a possibilidade de "reconduzir o atual governador" do Banco de Portugal, frisando que "Centeno reúne todos os requisitos”, mas a hipótese terá caído. Já o sucessor terá cinco desafios pela frente.
Mário Centeno fica assim livre para outros voos, como a tensão dos últimos dias já fazia antever. Em causa estava agora o processo de construção do novo edifício do Banco de Portugal nos terrenos da antiga Feira Popular, em Lisboa, há muito anunciado. A dias da escolha do novo nome, o executivo quis explicações e decidiu pedir uma auditoria à Inspeção Geral de Finanças (IGF) sobre a decisão de investir numa nova sede, no valor de €192 milhões de euros.
O Banco de Portugal garante ter enviado ao Ministério das Finanças memorandos, auditorias e contratos sobre a compra da nova sede em Entrecampos. A comunicação entre o BdP e o ministério aconteceu de forma institucional e sem publicidade, mas foi agora conhecida depois de Miranda Sarmento alegar desconhecimento e ordenar a auditoria. As notícias sobre a construção de um novo espaço para albergar os trabalhadores do banco central não são novas, o anúncio da mudança tem mais de um ano e o próprio BdP deu conhecimento do contrato-promessa de compra venda no início de maio, mas ganharam peso nos últimos dias. A necessária mudança de instalações é um projeto antigo e que Centeno assumiu como prioridade durante o seu mandato.
Agora, com a nomeação de um novo governador, entraremos noutra fase. É tempo de se construir uma nova liderança no Banco de Portugal e os alicerces já estão feitos. Será Álvaro o novo governador? Ou ainda haverá espaço para surpresas? Quase um terço dos banqueiros centrais vêm dos Governos. As dúvidas desfazem-se dentro de horas, com o anúncio da decisão.
Depois de todos os nomes falados nos últimos dias, Montenegro estará a tratar dos acabamentos. Encontrar um governador para o Banco de Portugal também é obra.
Outras notícias
Trump avisado de que o seu nome surgia nos ficheiros Epstein. A procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi - traçamos-lhe o perfil -, alertou o Presidente Donald Trump de que o seu nome aparecia nos ficheiros relativos ao caso Jeffrey Epstein, durante uma reunião realizada na primavera, que contou também com a presença do vice-procurador, Todd Blanche. No seu primeiro ano no cargo, Bondi enfrenta uma prova de fogo com a revelação dos documentos secretos do processo de Jeffrey Epstein, condenado por exploração sexual de menores e com relações pessoais provadas com Donald Trump. Em fevereiro, Pamela Jo Bondi disse à Fox News que tinha a lista de clientes de Epstein “em cima” da mesa, mas o Departamento de Justiça e o FBI dizem que não há lista nenhuma. Em causa, a ligação de Trump ao financeiro morto, com um álbum de aniversário, cartas picantes e uma assinatura.
Orbán desafia UE com novo oleoduto russo. Viktor Orbán está a reforçar laços energéticos com Moscovo e Belgrado, anunciando um oleoduto para importar petróleo russo e contornar a Ucrânia. O projeto surge quando Bruxelas prepara o fim do gás russo até 2027. Com eleições à porta e popularidade em queda, Orbán resiste a sanções que encarecem energia e tenta unir países dependentes de Moscovo para travar medidas europeias.
Como eram vendidas as barracas no Talude. São por enquanto duas as denúncias de moradores que compraram barracas por €2 mil no Bairro do Talude Militar de Loures, e o Expresso conta todos os detalhes sobre os ‘negócios'. A notícia surge depois de os presidentes dos maiores municípios da Área Metropolitana de Lisboa se reunirem no início da semana para exigir mais apoio em habitação, segurança e transportes e de Ricardo Leão denunciar a situação da venda de barracas, em direto na SIC Notícias. O autarca de Loures acusou ainda o Movimento Vida Justa de manipular moradores do Bairro do Talude durante despejos e disse que famílias “estão na rua porque querem”. No mesmo encontro, Moedas defendeu mais poderes para polícias municipais e três autarquias assumiram a vontade de gerir a linha ferroviária.
Frases
“Nunca houve tantos meios no transporte de doentes. Muitas vezes o problema não é o helicóptero”
Nuno Melo, ministro da Defesa, retomando a questão da utilização de helicópteros militares e aludindo aos ‘problemas’ identificados nos heliportos.
“Não sei como mais se pode dizer isto, além de pessoas que morrem de fome em massa. E isto é causado pelo homem”
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre a situação humanitária em Gaza.
Podcasts
Dia da sobrecarga no planeta: estamos a gastar água, árvores e peixes por conta de um futuro que, assim, pode nem chegar. O planeta começa hoje a gastar por conta de futuras gerações que terão de pagar tudo isto com juros. Gastando o que produzimos e parte do que temos na poupança, um dia ficaremos sem ela. No Expresso da Manhã, Paulo Baldaia conversa com Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista Zero e professor da Universidade Nova de Lisboa.
“Demiti-me para ter aulas com Dalai Lama. Gostei tanto de Dharamshala que tenho medo de voltar, foram dos meses mais felizes da minha vida.” Nasceu em agosto de 1983, em Espinho. Economista, deputado e ex-presidente da Iniciativa Liberal, cresceu no seio de uma família operária. A paixão pela matemática surge como um dos motores do seu percurso académico e profissional. Carlos Guimarães Pinto é o convidado do novo episódio do Geração 80, com Francisco Pedro Balsemão.
O que eu ando a ler
“O Misterioso Sr. Nakamoto”, de Benjamin Wallace (Self)
Na verdade ainda não o li, mas bastou ver o título para que o livro de Benjamin Wallace despertasse o meu interesse. Cruzando tecnologia, economia e suspense, trata-se de uma investigação sobre a identidade de Satoshi Nakamoto, que em 2008 publicou o documento que deu origem à Bitcoin. Com uma fortuna estimada em mais de 100 mil milhões de dólares, Nakamoto permanece um enigma.
O que eu ando a ver
“Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa
Estreou-se em Veneza, passou pelo Porto/Post/Doc e chegou há pouco - mas com estrondo - à Netflix. É que “Apocalipse nos Trópicos” documenta a ascensão da extrema-direita no Brasil impulsionada pelo crescimento evangélico. Ao longo de 1h50, Petra investiga como a fé evangélica, antes desconhecida para a realizadora, molda a política, ameaçando a separação entre Igreja e Estado e refletindo tensões sociais e democráticas no país.
Desde a crise política de 2016 até a invasão do Congresso, passando pela eleição de Bolsonaro, “Apocalipse nos Trópicos” é uma oportunidade para rever a história recente do Brasil. Até porque, não raras vezes, a religião e as tendências políticas ultrapassam fronteiras.
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