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A Terra acordou às cinco da manhã

A Terra acordou às cinco da manhã

João Cândido da Silva

Coordenador do Expresso Online

Bom dia,

Milhares de habitantes de Portugal tiveram o descanso interrompido na madrugada desta segunda-feira. Pouco depois das cinco da manhã, a terra tremeu. O sismo terá atingido o nível de 5,3 na escala de Richter, segundo os dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, mas outras entidades estimaram intensidades diferentes. O Centro de Sismologia Euro-Mediterrânico mencionou um impacto de 5,9 e o Serviço Geológico dos Estados Unidos calculou uma intensidade de 5,4.

Pormenores técnicos à parte, é certo que o abalo, classificado como “moderado”, foi sentido numa larga extensão do país. O epicentro situou-se 70 quilómetros a sudoeste de Sesimbra, no Oceano Atlântico, as regiões de Lisboa e Setúbal sofreram as maiores repercussões, mas há testemunhos de se terem produzido efeitos em zonas distantes como Viseu e Gaia.

A comoção patente no elevado fluxo de comentários que rapidamente chegou às redes sociais não teve correspondência em matéria de consequências graves para pessoas e bens. A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) afirma que não há registo de vítimas ou de danos significativos, embora tenha recebido numerosas chamadas telefónicas de cidadãos em busca de informação e de recomendações, oriundas de uma faixa de território situada entre o Alentejo e Coimbra.

Num ‘briefing’ com a imprensa, André Fernandes, comandante nacional da ANPC, revelou terem sido sentidas três réplicas, com valores de 1,2, 1,1 e 0,9 na escala de Richter, algo que pode ocorrer durante vários anos. O responsável qualificou a situação como “perfeitamente normal” e acrescentou que o sismo não justifica a aprovação de ”planos especiais”, já que este procedimento só é desencadeado no caso de os abalos superarem uma intensidade de 6,1.

Fenómenos como o tremor de terra que esta segunda-feira atingiu Portugal não podem ser previstos, mas não são inesperados. O país está localizado numa zona de perigo de actividade sísmica e Lisboa e o Algarve são as regiões mais expostas, precisamente aquelas que, em 1755, foram mais massacradas pela tragédia que ficou registada na memória colectiva dos portugueses. Nesta entrevista, que o Expresso agora recupera, Mário Lopes, professor e investigador no Instituto Superior Técnico, explicava as razões para estes riscos e deixava o alerta: “um dia, a sorte acaba”.

Não é possível eliminar a probabilidade de ocorrer um sismo grave ou prever quando irá acontecer, mas convém saber o que fazer. “Baixar, proteger e aguardar” é o essencial das recomendações da iniciativa A Terra Treme. Sobre a prevenção, passa, no essencial, pela qualidade de construção dos edifícios, mas os peritos nesta matéria suscitam dúvidas e críticas. Mónica Amaral Ferreira, também investigadora no Técnico, dá o exemplo dos estabelecimentos de saúde: “Os sismos não matam, o que mata são as construções. Há 20 anos que se alertam governos e continuamos a construir hospitais sem proteção”.

O Expresso lançou um ‘liveblog’ destinado a acompanhar todos os desenvolvimentos relacionados com o sismo desta madrugada. Pode encontrá-lo aqui para se manter informado.

OUTRAS NOTÍCIAS
Em busca de tréguas. As negociações para um cessar-fogo em Gaza e libertação dos reféns israelitas que se encontram nas mãos do Hamas prosseguem esta segunda-feira no Cairo. Neste domingo, Israel travou um ataque em grande escala perpetrado pelo Hezbollah a partir do sul do Líbano.

Pavel Durov detido em Paris. A justiça francesa acusa o dono da Telegram de promover uma insuficiente política de moderação dos conteúdos publicados na aplicação, mas a detenção levanta questões como a da liberdade de expressão na Internet.

“Sou eu quem vocês procuram”. Cidadão sírio, 26 anos, confessou o ataque à faca que matou três pessoas e feriu outras oito na cidade alemã de Solingen. Admitiu ser militante do Estado Islâmico. Quem é Issa Al Hassan?

Notas sobre o Ensino Superior. Há 23 cursos onde só entraram estudantes com notas acima de 18 valores e no topo está Engenharia Aeroespacial na Universidade do Porto, um curso recém-criado, agora com 30 alunos.

A literatura como arma. Nos primeiros seis meses de 2024 abriram 50 novas livrarias na Ucrânia. Desde o início da guerra, nasceram 19 editoras. Em Lutsk, artistas refletem sobre cultura e a história do país. Reportagem de Ana França.

Ucrânia avança em Kursk. Volodymyr Zelensky reivindicou "avanços" na região fronteiriça russa de Kursk, “de um a três quilómetros”, e o controlo de duas novas localidades.

Sucesso na canoagem. Nos Mundiais de distâncias não olímpicas no Uzbequistão, Portugal ganhou, num só dia, cinco medalhas. A última foi conquistada por Fernando Pimenta, capaz de subir ao pódio três vezes em poucas horas.

FRASES
“Com negociações ou sem negociações, acho que o PS vai viabilizar o OE com a sua abstenção. E, se o fizer, ganhará credibilidade", Luís Marques Mendes

“Passar legislação que ‘revoga’ a ‘lei’ da oferta e da procura é como passar legislação que revoga a lei da gravidade”, Luís Cabral

Na última semana, Luís Montenegro no Pontal e Kamala Harris na Carolina do Norte e em Chicago propuseram políticas económicas tão más que é preciso dizê-lo logo”, Ricardo Reis

“As notícias dos media portugueses sobre um estudo que falava em como era fácil e barato taxar os 0,5% mais ricos, deixando intocada 99,5% da população, não foram mais do que veículos de uma peça propagandística preparada por ativistas do Tax Justice Network”, Luís Aguiar-Conraria

PODCASTS
Expresso da Manhã”. Podem e devem as aplicações de saúde ser comparticipadas pelo Estado? Paulo Baldaia conversa com Marta Passadouro.

O CEO é o limite”. Alexandra Machado, presidente executiva da Girl Move Academy, diz a Cátia Mateus saber o que é “estar sozinha, sentada nas mesas de decisão”.

“O Mundo a Seus Pés”. Rescaldo de uma convenção democrata “destinada a mobilizar todo o partido e a convencer eleitorado indeciso”, com a análise de Nuno Gouveia

Decisão América”. Kamala Harris na companhia dos Obama e de Oprah: “Esta foi uma semana de união para os democratas. Os vários discursos foram inspiradores”. A opinião de Germano Almeida

O QUE EU ANDO A OUVIR
Celebration, Volume 1”, Wayne Shorter. O lendário saxofonista e compositor morreu há pouco mais de um ano, mas tudo indica que deixou nos arquivos uma vasta obra que está a começar a ser divulgada. Esta é a primeira peça a saltar para a luz do dia, um concerto gravado em 2014 com o brilhante quarteto que acompanhou Shorter desde o dealbar dos anos 2000. Cada um dos elementos da banda tem espaço para dar largas à criatividade e ajudar a reinventar (e a celebrar) temas do saxofonista, entre os quais alguns inéditos.

Free Celebration”, João Lencastre. Mais uma celebração, mas, neste caso, da música inovadora que foi legada por nomes como Thelonious Monk, Herbie Nichols e Ornette Coleman. O baterista João Lencastre empreende um desafio arrojado na companhia de Ricardo Toscano, no saxofone alto, Pedro Branco, na guitarra, João Bernardo, nos teclados, Nelson Cascais, no contrabaixo, e João Pereira, na bateria. O resultado da inspiração deste sexteto é música arrebatadora, desafiante e desassossegada.

Fractal”, Samuel Lercher Trio. É o terceiro álbum do pianista originário de França, que se fixou em Portugal. Com André Rosinha no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria, o trio lança-se na interpretação das composições de Lercher, que cruzam influências clássicas, jazz e aromas lusos que terão origem no interesse do músico pelo fado. No segundo disco gravado por esta banda, a coesão e bom entendimento entre os seus elementos são evidentes. A música é fresca e revigorante.

"Come Down Here", Luis Vicente Trio. O trompetista que lidera esta gravação é um músico intenso em cada nota que arranca, irrequieto, inventivo, vigoroso e um notável comunicador de emoções. Entre o jazz contemporâneo e a livre improvisação, Luís Vicente conta com os parceiros certos para libertar a música doce e selvagem que a banda vai congeminando. É o segundo álbum gravado com Gonçalo Almeida, no contrabaixo, e Pedro Melo Alves, na bateria e percussão.

E é tudo. Acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz, consulte as sugestões do Boa Cama Boa Mesa e tenha um excelente dia.


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