Bom dia,
Os líderes dos partidos que dispõem actualmente de representação parlamentar vão estar esta quinta-feira concentrados em diversos distritos do litoral. A campanha para as legislativas aproxima-se do fim e, à direita e à esquerda, os dois candidatos à vitória sobem o tom da dramatização necessária à conquista do voto útil, enquanto reforçam a aposta naqueles círculos eleitorais que têm melhores condições para abrir as portas ao sucesso.
Para Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, mas também para Rui Rocha e Mariana Mortágua, as iniciativas destinadas a conquistar eleitores ainda recalcitrantes vão decorrer no Porto, Braga, Aveiro e Coimbra. Interessados nos frutos que podem ser colhidos através da concentração do voto num distrito de elevada dimensão, CDU, Livre e PAN apostam em Lisboa, com Inês Sousa Real a fazer um derradeiro esforço também em Setúbal, onde o partido que agora lidera conseguiu eleger um deputado em 2019. André Ventura estará em Portimão, à pesca de um sucesso no Algarve que alguns palpites têm antecipado poder vir a ser retumbante.
Ontem, a AD prosseguiu com o desfile de ‘senadores’ das fileiras sociais-democratas e centristas, desta vez com a contribuição de Luís Marques Mendes. Mas o principal evento do dia foi o aparecimento de Rui Rio junto do (antigo) rival Luís Montenegro em Viana do Castelo. Falou-se de paz e de concordância, de convergência e de apoio à estratégia do líder laranja, palavras que, quando os protagonistas da unidade de 2024 tinham os papéis trocados, raras vezes tiveram expressão prática no interior do PSD. As sondagens mais recentes premeiam a moderação de Luís Montenegro: a AD sobe mais do que o PS, o Chega desce e os restantes partidos da esquerda parece não sofrerem danos com o voto útil.
Nos terrenos da direita, a tensão tem crescido. O líder do Chega escolheu Montenegro como principal alvo dos ataques e uma vitória eleitoral da coligação que integra o partido em que militou tem potencial para ser um pior cenário para os seus interesses políticos do que um novo sucesso do PS nas urnas. Rui Rocha tenta, na recta final, distanciar-se da AD e afirmar as diferenças entre a visão da Iniciativa Liberal e as propostas da coligação, depois de ter jogado numa aproximação prematura que terá ajudado a promover o voto útil à direita.
No PS, Pedro Nuno Santos mantém a periclitante navegação entre as referências elogiosas aos oito anos de governação de António Costa e a garantia de que é um ‘fazedor’ que não arrastará os pés, como, presume-se, terá feito o seu antecessor no comando dos socialistas. Nada disto impediu a campanha socialista de estar nesta quarta-feira recheada de governantes colados, e aparentemente unidos, a uma liderança que nem todos desejavam. O discurso permanece amarrado à perspectiva indigente que divide os eleitores entre santos do lado esquerdo e pecadores do lado direito. ‘Nós’, os socialistas e aliados, somos bons e virtuosos, ‘eles’, os que estão à direita do PS, vão trazer tempos sombrios ao país. A tecla favorita de Pedro Nuno Santos é aquela que toca a música infanto-juvenil do maniqueísmo.
GRANDES TEMAS
As eleições legislativas são um excelente pretexto para analisar a situação do país. Demografia, igualdade, contas públicas, ensino e saúde são alguns dos tópicos que o Expresso tem vindo a abordar na série ‘Grandes Temas’. Mas há muito mais, como o artigo que avalia o fraco desempenho da economia nacional, bem expresso no título: Portugal entre as 20 economias mais lentas no mundo. Veja tudo aqui.
PREC, CISÕES E CONFUSÕES
Quem viveu os tempos do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) corre o risco ficar um pouco melancólico. Quem apenas conhece dos livros de História esse período conturbado da fundação do regime democrático português ficará surpreendido. Em causa está este informado e divertido artigo sobre cisões, confusões, zangas e dissidências em minúsculos e irrelevantes partidos da extrema-esquerda, entre os quais alguns daqueles que acabaram por dar origem ao Bloco de Esquerda.
OUTRAS NOTÍCIAS
Amor, segredos e guerra na Ucrânia. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou formalmente um militar reformado por partilhar “informação classificada” sobre a guerra na Ucrânia através de uma plataforma de encontros amorosos.
Três mortos em ataque de rebeldes hutis. Autoridades norte-americanas confirmaram a morte de três marinheiros na sequência de um ataque dos hutis a um navio no Golfo de Aden e os Estados Unidos abateram dois drones no Iémen.
Houve “perversidade” e “desleixo”. O tribunal acolheu o recurso apresentado pelos familiares dos recrutas que morreram numa prova de um curso dos Comandos e decidiu condenar a penas de prisão os responsáveis que tinham sido anteriormente absolvidos.
Espanha proíbe a recolha de imagens da íris. A Agência Espanhola de Proteção de Dados impôs à Worldcoin a cessação imediata da recolha e processamento de dados biométricos. A empresa de criptomoedas arrisca uma multa que pode ser superior a 20 milhões de euros.
A corrida chegou ao fim para Nikki Haley. A ex-governadora da Carolina do Sul anunciou a desistência na tentativa de disputar a nomeação republicana para as eleições presidenciais deste ano nos Estados Unidos. Trump tem o caminho (ainda) mais livre.
António-Pedro Vasconcelos (1939-2024). “Homem de polémicas e combates, desde a organização do encontro de cineastas nas Caldas da Rainha, em 1975, a primeira iniciativa de gente do sector intelectual no combate ao gonçalvismo, à recente pugna pela manutenção da TAP na posse do Estado”, escreve Jorge Leitão Ramos.
Titã e a origem da vida na Terra. O estudo da atmosfera deste satélite de Saturno pode servir como um “laboratório para compreender as reações químicas que geram complexidade nas moléculas, algumas delas relacionadas com a vida na Terra”, afirma o astrofísico Rafael Silva.
Uma notícia bizarra. Um homem de 62 anos recebeu 217 vacinas contra o SARS-CoV-2 num período de 29 meses. Investigadores garantem que não sofreu “quaisquer efeitos secundários”, nem mostrou “sinais” de ter sido infetado com o vírus que provoca a covid-19.
Sporting 1-1 Atalanta. Os leões marcaram primeiro, mas a equipa italiana conseguiu empatar e adiar a decisão sobre quem passa aos quartos-de-final da Liga Europa para o jogo da segunda mão, em Bergamo.
PODCASTS
Expresso da Manhã. O que muda na Europa se Trump for eleito nos Estados Unidos? Responde Raquel Vaz Pinto.
Lei da Paridade. Inês Domingos, candidata a deputada pela Aliança Democrática, responde sobre a lei do aborto e as propostas para a igualdade de oportunidades e de género.
A Próxima Vaga. À medida que a inteligência artificial continua a evoluir, é preciso garantir que seja desenvolvida e implementada de forma responsável. Maria do Céu Patrão Neves e o padre Afonso Seixas Nunes debatem o tema sob a moderação de Francisco Pinto Balsemão.
Bloco Central. Especial eleições ao vivo: Pedro Marques Lopes acredita na vitória do PS vs Pedro Siza Vieira diz que está tudo em aberto.
Geração 80. “Falta transição geracional. Jovens também emigram porque não têm acesso à tomada de decisão, não se sentem importantes". Alexandre Meireles, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários, conversa com Francisco Pedro Balsemão.
FRASES
“Este homem [Luís Montenegro] não é um radical, não é impulsivo, está no centro, é um exemplo do que deve ser um primeiro-ministro”, Luís Marques Mendes
“Nós também queremos reduzir impostos, mas a quem trabalha, e queremos proteger quem trabalhou uma vida inteira”, Pedro Nuno Santos
"Nós estamos aqui bem perto do aeroporto do Porto e aqui sabe-se exatamente como a descrição da TAP como investimento estratégico é totalmente falaciosa”, Rui Rocha
“Se o Chega vencer as legislativas no próximo domingo, no 25 de Abril de 2024 quero dizer-vos: o sr, Presidente do Brasil, Lula Inácio da Silva, não vai entrar em Portugal”, André Ventura
O QUE EU ANDO A LER
Na transição entre os séculos XVIII e XIX, a cidade alemã de Jena acolheu um grupo de intelectuais brilhantes. Entusiasmados com a Revolução Francesa, chocados com o Grande Terror e desiludidos quando Napoleão decidiu atribuir-se o título de imperador, estes filósofos, escritores, poetas e dramaturgos concentraram-se naquela cidade onde, sob a referência comum da figura tutelar de Goethe, debateram ideias e produziram algumas das obras mais relevantes e muito do pensamento mais inovador do período.
Andrea Wulf, que já escreveu uma absorvente biografia do geógrafo, investigador e aventureiro Alexander von Humboldt, um dos elementos do ‘Círculo de Jena’, conta a história deste invulgar conjunto de cérebros em “Rebeldes Magníficos, Os Primeiros Românticos e a Invenção do Eu”. A pesquisa de Wulf não deixa nada de fora, desde os animados serões transformados em ‘tempestades mentais’, às tragédias, rivalidades e invejas que acabaram por destruir um grupo notável, mas de forma alguma imune aos aspectos mais mesquinhos da natureza humana.
O QUE EU ANDO A OUVIR
“Testament”, Fire!. Oitavo álbum do trio composto pelo saxofonista Mats Gustafsson, o contrabaixista Johan Berthling e o baterista Andreas Werling. A música foi gravada ao vivo em estúdio, com o recurso a equipamento analógico e a dispensa de qualquer artifício de produção. A secção rítmica é robusta e sustenta as investidas cruas do saxofone.
“Compassion”, Vijay Iyer. Um dos mais relevantes pianistas das três últimas décadas regressa com o segundo álbum gravado com a contrabaixista Linda May Han Oh e o baterista Tyshawn Sorey. É um trio consistente e bem oleado, que nesta gravação executa temas que, em geral, se mostram mais luminosos do que aquilo que tem marcado a obra de Iyer.
“Foca”, Foca. Esta superbanda reúne o guitarrista André Fernandes, o pianista Mário Laginha, o saxofonista José Pedro Coelho, o contrabaixista João Hasselberg e o baterista João Pereira, cinco músicos notáveis no jazz que se faz em Portugal. Neste álbum, o quinteto desenvolve música melódica e cativante. ‘Morsa’, tema de Laginha, é um dos momentos altos.
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