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Um nome para a História

Um nome para a História

José Cardoso

Editor Adjunto

Margaret Keenan. É este o nome que vai ficar para a História como a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19. Foi no Reino Unido, esta terça-feira, dia em que começou o primeiro programa de vacinação num país europeu (o Reino Unido não precisou de luz verde da Agência Europeia do Medicamento porque já não faz parte da União Europeia, a autorização foi dada pelo regulador nacional). Margaret Keenan, mais conhecida pelo diminutivo Maggie, uma britânica que faz na próxima semana 91 anos, foi a primeira a recebê-la, às 6h31, num hospital de Coventry. “É o melhor presente de aniversário antecipado que eu poderia desejar, pois agora significa que posso passar tempo com a minha família e amigos no próximo ano, depois de ter estado sozinha quase um ano”. Até ao fim do ano espera-se que sejam vacinadas no Reino Unido cerca de 4 milhões de pessoas.

Por cá, as primeiras vacinas, do mesmo laboratório das que começaram agora a ser inoculadas no Reino Unido, chegam em janeiro. AQUI pode ver como está o plano (quem a recebe primeiro, quando, onde, etc.) Além das da Pfizer, Portugal vai receber outros cinco tipos diferentes de vacinas, de outros tantos fabricantes. Se quiser saber tudo o que é possível saber até agora sobre cada uma delas leia ESTE TEXTO.

Mas enquanto não chegam, os tempos são de confinamento, porque é preciso não baixar a guarda nesta quadra propícia à manifestação de afetos, como alertam autoridades e instituições nacionais e internacionais. O Estado de Emergência foi prolongado por mais 15 dias (e deverá voltar a sê-lo depois por outros 15, até ao início de janeiro) e desde as zero horas desta quarta-feira, são 113 os concelhos do país com mais restrições, 35 dos quais estão em risco extremo. Pode verificar AQUI qual a situação em que se encontra o seu.

OUTRAS NOTÍCIAS
A partir de hoje e até ao fim da semana vão estar na agenda três importantes negociações. E todas elas passam por Bruxelas: sobre a TAP, sobre o pós-Brexit e sobre os fundos europeus.


BAIXOS VOOS
O plano de reestruturação da companhia aérea portuguesa tem de ser entregue em Bruxelas até esta quinta-feira. O Governo teve ontem à noite uma reunião extraordinária para discutir e aprovar o plano a apresentar à União Europeia. Redução da frota (de 105 para 88 aviões), cerca de dois milhares de despedimentos, cortes na massa salarial (25%) e pelo menos mais 1.600 milhões de euros de financiamento público até 2024 é o que está em cima da mesa. Pode ouvir AQUI em que ponto estão as coisas, no podcast Expresso da Manhã, que publicámos há pouco.

JANGADA DE PEDRA
Se a jangada de Saramago se separava da Europa e se afastava dela, a do sr. Boris Johnson sempre esteve fisicamente separada – mas o afastamento político e institucional do continente está difícil. As negociações ações entre o Reino Unido e a União Europeia sobre a regulação das relações entre as duas partes a partir de 1 de janeiro estão na reta final – e no impasse. É para tentar desencalhá-lo que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai esta quarta-feira à noite a Bruxelas para se reunir com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. São sobretudo duas as questões que estão a emperrar o acordo final, como pode verificar AQUI.

DIREITOS POR LINHAS TORTAS
Outra negociação que continua mal parada – que está ainda mais mal parada - é a do orçamento comunitário. Há mais um Conselho Europeu agendado para quinta e sexta-feira, para tentar encontrar uma saída para o veto imposto pela Polónia e pela Hungria ao orçamento plurianual da UE (2012-2027) e ao fundo de recuperação por causa da pandemia. A União Europeia quer fazer depender a distribuição dos dinheiros ao respeito pelo Estado de Direito, algo que naquelas dois países tem deixado muito a desejar.

Ao contrário do Brexit, onde se espera que o encontro Johnson-Von der Leyen desbloqueie o que falta desbloquear, em relação aos fundos europeus as coisas parecem mais complicadas, como indiciam as declarações que o primeiro-ministro polaco fez esta terça-feira: “Pode acontecer que seja necessária uma cimeira adicional, estamos a preparar-nos para mais meses de conversações e de negociações. Naturalmente, também estamos preparados para um possível orçamento provisório”.

A CAMINHO DE BELÉM
Não, apesar de se aproximar o Natal, não se trata da reevocação dos Reis Magos –mas sim das eleições presidenciais, cujas cenas do próximo capítulo podem ser vistas este sábado, dia em que o CDS decide se apoia ou não Marcelo Rebelo de Sousa, que anunciou esta segunda-feira a recandidatura à Presidência da República. O caminho para Belém termina a 24 de janeiro, dia das eleições.

CARREGAR NO BOTÃO
Uma polémica que está há semanas ao lume, umas vezes mais quente, outras mais em banho-Maria, é a da morte do cidadão ucraniano Ihor Homenyuk às mãos de funcionários do Serviço de Estrngeiros e Fronteiras nas instalações deste serviço no aeroporto de Lisboa. O PSD voltou agora a reavivar as chamas, pela voz do deputado Duarte Marques, que exigiu ao ministro da Administração Interna que mude a direção do SEF ou se demita. “Este episódio do botão é não só anedótico, como também irresponsável, não passando de uma tentativa de tapar o sol com a peneira", disse o deputado, referindo-se ao anúncio pelo Governo de que vai ser instalado um “botão de pânico” nas instalações do SEF, não vá algum cidadão estrangeiro querer pedir ajuda para que o salvem da… polícia de fronteiras.

ASSIM NÃO JOGO!
Há atitudes que marcam mas cujas consequências práticas para mudar regras e comportamentos não passam muitas vezes de fogachos que depressa se apagam. No caso do racismo no futebol, uma dessas situações aconteceu há seis anos com o brasileiro Dani Alves, a quem um espectador atirou uma banana. O futebolista teve uma atitude desconcertante: apanhou-a, descascou-a e comeu-a. A inédita reação do futebolista foi vista como uma resposta à altura a quem quis chamar-lhe macaco e a foto da situação apareceu em jornais por todo o mundo. Mas o jogo (Barcelona-Villarreal) seguiu, o campeonato (espanhol) também - e os insultos depressa voltaram aos estádios. Esta terça-feira a reação a um alegado insulto racista foi mais drástica, não envolvendo um, nem dois, nem três, mas todos os jogadores – não de uma equipa, mas das duas que se defrontavam, que a meio da primeira parte decidiram sair de campo depois de um dos árbitros ter chamado “preto” ao treinador-adjunto de uma das equipas. E atenção: não foi num jogo de terceira categoria, mas na partida entre o PSG e o Basaksehir, a contar para a Liga dos Campeões. Pedagógico. O jogo deve ser retomado ao fim desta tarde.

FRASES
"Este episódio do botão é não só anedótico, como também irresponsável, não passando de uma tentativa de tapar o sol com a peneira"
Duarte Marques, deputado do PSD, que exigiu ao ministro da Administração Interna que mude a direção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ou se demita

“O novo governo vai encontrar nas bancadas da oposição muitos membros do anterior e alguns deputados socialistas deveres furibundos"
Mota Amaral, presidente honorário do PSD Açores, região de que foi presidente entre 1976 e 1995, sobre a discussão e aprovação do programa do novo Executivo açoriano, que vai decorrer entre hoje e sexta-feira

“Para o vírus, não existe Natal nem Ano Novo”
Ordem dos Médicos, num alerta aos portugueses

“Só estranhei que Marcelo Rebelo de Sousa não tivesse anunciado a recandidatura na Autoeuropa, junto a António Costa”
André Ventura, líder do Chega

O QUE ANDO A LER

E se as autoridades da Saúde recomendassem o uso de tabaco no tratamento da covid-19? A hipótese é mais do que absurda. Mas, ressalvadas as devidas distâncias e circunstâncias, foi exatamente esse produto que médicos holandeses “receitaram” em meados do século XVII aos seus concidadãos como principal “medicamento” contra a pandemia que se registava por essa altura – a da varíola, que só na Europa matou mais de meio milhão de pessoas.

Esta e outras revelações estão num livro, já com uns bons anos, que já fui buscar duas ou três vezes à estante para relembrar ou esclarecer isto ou aquilo. Agora voltei a “pescá-lo”, a pretexto das juras de um amigo de que é desta que deixa mesmo de fumar.

A obra chama-se “Tobbaco” e é a história de como uma planta originária do continente americano seduziu e conquistou o mundo. Introduzida na Europa depois da descoberta da América por Cristóvão Colombo, a planta esteve na origem de guerras, de revoluções, de tratados, de acordos, de tudo e mais alguma coisa. Ou não tivesse chegado a ser considerada tão valiosa como ouro e as suas sementes e modo de cultivo guardados como segredo de Estado.

E, também nesta(s) história(s) da História, Portugal teve um papel de primeiro plano, quer no comércio do produto quer enquanto possuidor das cobiçadas sementes e detentor do know how para as fazer germinar e medrar.

Um dos principais episódios que o atestam contados no livro é a negociação que o embaixador de França em Portugal entre 1559 e 1561, Jean Nicot (sim, é do nome dele que deriva a palavra nicotina), teve com as autoridades com vista ao casamento de D. Sebastião, de 15 anos, com Margarida de Valois, de 16, filha do rei Henrique II de França. Dos arranjos casamenteiros fez parte o fornecimento de sementes de tabaco pelo reputado botânico português Damião de Gois, que Jean Nicot começou por fazer crescer nos jardins da embaixada.

Foi aliás Nicot que, intrigado pelos efeitos do tabaco que lhe foram mostrados por Damião de Góis, enviou algumas folhas à rainha Catarina de Médicis, na esperança de lhe curar as enxaquecas. E, por estas e por outras, foi sobretudo ele que popularizou o uso do tabaco na Europa.

O Expresso Curto fica por aqui e o caro leitor por ficar por AQUI, por ALI, por ACOLÁ ou vá até ALÉM. Fique bem.

(O texto foi retificado às 12h de dia 10-12-2020. O futebolista que comeu uma banana em campo não foi o italiano Mario Balotelli, mas sim o brasileiro Dani Alves)

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jcardoso@expresso.impresa.pt

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