Coronavírus

Vacina. Quem recebe primeiro, quando, onde, quanto tempo demora (e as dúvidas que sobram)

Vacina. Quem recebe primeiro, quando, onde, quanto tempo demora (e as dúvidas que sobram)
ANDRÉ KOSTERS / Lusa

Está apresentado o plano: a vacinação começa em janeiro e está destinada numa primeira fase a cerca de 950 mil pessoas - trata-se do primeiro grupo prioritário, que está explicado neste artigo. Até março, o trabalho cabe aos centros de saúde e é coordenado pelo Ministério da Saúde. O caminho é longo, avisa António Costa, tem de ser avaliado a conta-gotas mas é “bom saber que há uma luz”

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David Dinis

Diretor-adjunto

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Hélder Gomes

Jornalista

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Joana Ascensão

Jornalista

A vacina é "universal, facultativa, gratuita e distribuída a toda a população", garante o primeiro-ministro. Mas o caminho é "muito comprido e bastante penoso", porque os "22 milhões de vacinas não chegam num dia", avisou António Costa na fase final da apresentação do plano de vacinação, que decorreu esta quinta-feira.

É certo que as vacinas vão chegar a conta-gotas, mas o que Francisco Ramos, coordenador do plano de vacinação para a covid-19, assegura é que começam a chegar já em janeiro. Na primeira fase de vacinação, que se prevê decorrer até março, vão ser vacinadas 950 mil pessoas, que estão inseridas no primeiro grupo prioritário:

- pessoas com 50 ou mais anos que sofram de doenças cardíacas, coronárias, insuficiência renal e doenças respiratórias;
- utentes de lares e pessoas internadas em serviços de cuidados continuados, bem como os respetivos profissionais;
- profissionais de saúde envolvidos em cuidados de saúde e de segurança.

Numa segunda fase vão ser vacinadas pessoas com 65 e mais anos sem patologias e, num segundo grupo, pessoas que tenham entre 50 e 64 anos com patologias definidas. Para a terceira fase de vacinação, Francisco Ramos pede que se considere o resto da população.

Vacinação vai ser feita nos centros de saúde

A primeira fase de vacinação, que começa em janeiro e deve ir até março, segundo prevê Francisco Ramos, tem como pontos de vacinação os já habituais no país, ou seja, os centros de saúde. A escolha passa por aproveitar a experiência, os circuitos e as rotinas definidos e os profissionais já treinados para o efeito - que neste caso são os enfermeiros. São cerca de 1200 os pontos de vacinação e têm como missão vacinar cerca de 400 mil pessoas.

A exceção é feita para os lares e para os serviços de cuidados continuados, já que nesses dois casos os utentes são vacinados nos próprios locais, umas vezes pela própria equipa de enfermagem, outras vezes por uma equipa que vai ao local com esse propósito.

Cabe aos centros de saúde identificar os portugueses que, pelas suas características, pertencem ao primeiro grupo prioritário e, por isso, devem tomar a vacina nesta primeira fase. Depois têm de os encontrar e de os convocar à toma. "Sabendo que há um número razoável de portugueses que não utilizam os centros de saúde, haverá uma alternativa, através de declaração médica, para que tenham acesso à vacina", assegura o coordenador do plano de vacinação.

Para a segunda fase de vacinação, Francisco Ramos admite que pode haver necessidade de aumentar a rede de pontos de vacinação mas não se compromete, para já, a definir em que termos, até porque, antes disso, "temos de estar preocupados com a disponibilidade, assim como com o processo de administração".

Gestão vai ser centralizada pelo Ministério da Saúde

A gestão de todo o processo vai ser centralizada pelos serviços do Ministério da Saúde, com o apoio da Direção-Geral da Saúde e das forças armadas e de segurança. "Estamos a delinear todas as operações com o detalhe possível para sabermos o que vai acontecer até ao local de administração das vacinas. Suscitando questões de segurança, estamos a garantir a segurança de tudo", garantiu Franciso Ramos.

Também a comunicação está a ser preparada para que seja "muito ampla, para gerar confiança na população, para garantir a aplicação da vacina". Haverá, assim, um portal na internet onde vai estar toda a informação relevante, bem como linhas telefónicas de apoio à população em geral e aos profissionais de saúde.

E que vacinas? Europa encomendou seis diferentes

Tudo isto são planos muito efémeros. Basta uma das vacinas - ou várias - não merecer aprovação por parte da EMA (Agência Europeia do Medicamento) para terem de se refazer as contas do processo, mas, se o virmos como um barco em mar alto, é a União Europeia que vai ao leme, com os Estados-membros a ajudarem a remar. Do lado português vai a bordo o Infarmed - a Autoridade Nacional do Medicamento - a representar o Ministério da Saúde e a fazer a ponte entre as autoridades europeias e as nacionais, com vista a garantir a eficácia e a segurança das vacinas. Este é, de resto, o primeiro ponto fulcral desta fase, diz Rui Ivo, o presidente da entidade, bem como dar garantia do acesso em tempo útil e ao mesmo tempo por parte de todos os Estados-membros.

Neste momento existem seis acordos formulados com seis farmacêuticas para vacinas diferentes, uma vez que "houve a preocupação de ter um portefólio alargado de vacinas", reforça. A meio de agosto foi formulado um acordo com a farmacêutica Astra Zeneca, depois, em setembro, com a Sanofi and GSK e em outubro com o grupo Johnson & Johnson. Mais tarde foram formulados acordos com a Pfizer, com a Curevac e, a 25 de novembro, foi assinado o mais recente contrato, com a farmacêutica Moderna.

Até que o processo de vacinação esteja concluído, há que manter as regras sanitárias

Trata-se de “um momento da maior importância, no qual não nos podemos distrair”, advertiu Marta Temido, acrescentando que será necessário “continuar a acompanhar” o processo. Apesar de “todas as incertezas”, designadamente a fase de ensaios, os grupos etários e outros aspetos técnicos, “não nos podemos inibir de planear aquilo que será um dos instrumentos para continuar a enfrentar esta doença”, acrescentou a ministra da Saúde.

A disponibilização das vacinas tem de ser acompanhada “durante largos meses pelas demais regras”, como o uso de máscara, a etiqueta respiratória e o distanciamento físico, referiu ainda. A observação destas regras deve continuar enquanto “não se conseguir alcançar a imunidade”, especificou a governante.

António Costa é prudente nas certezas. Diz que "há um conjunto significativo de imponderáveis: não depende de nós a produção, o licenciamento. Se houver aí atraso, temos de readaptar o calendário". No entanto, fala na vacina como uma luz ao fundo de um "longuíssimo caminho" que deve levar pelo menos todo o ano de 2021 - ou eventualmente mais.

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