O voto é sempre útil, mesmo quando parece desperdiçado

“O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor” - a frase é da Madre Teresa de Calcutá. E, salvo as devidas distâncias, pode ser aplicada a cada voto: “O meu voto é um gota no meio do oceano, Mas, sem ele, a democracia será menor.” Não é só o resultado do partido A ou B que será menor, é a democracia. Sempre votei. Ainda sou do tempo em que nos íamos recensear à Junta de Freguesia e lembro-me bem da importância que senti no momento Sempre votei, mesmo quando não consegui escolher e decidi votar em branco. Haverá voto mais inútil do que um voto em branco?

Como seria de esperar e até estava a tardar, o apelo ao chamado “voto útil” chegou à campanha com Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro a lembrarem que é que o seu partido/coligação vença para que possa formar governo. Até agora, à esquerda havia todo como que um pacto de não agressão, mas há uma luta que faz de mansinho e que o apelo de Pedro Nuno Santos e de Carlos César veio tornar mais clara. E com os partidos à sua esquerda, seja o Bloco, seja o PCP, a dizerem que útil é votar neles porque são quem pode forçar o PS a governar. melhor.

Também à direita, ou melhor, entre a direita que se diz disposta a entendimentos, a conversa era amigável, até o líder da AD vir apelar ao voto útil, o que levou Rui Rocha a acusá-lo de chantagem (como Joana Mortágua também haveria de acusar o PS) e de “arrastar os pés” numa das reformas em que os liberais mais insistem: a criação de um círculo nacional de compensação, que valorize os votos desperdiçados, ou seja os votos que, em cada círculo eleitoral, não chegam para eleger deputados. Entre a esquerda e a direita, ou ora à esquerda (na República), ora à direita (na Madeira) está o PAN, que também defende o círculo de compensação e luta contra o voto útil.

Afinal o que é isto de voto útil ou desperdiçado? Aqui pode perceber melhor os conceitos e ver como, ao longo dos anos, 8 milhões de votos foram “desperdiçados”, ou seja não serviram para eleger deputados. Nos círculos maiores, como Lisboa e Porto, a questão quase que não se coloca, porque quase todos os partidos podem eleger, mas em círculos pequenos como Portalegre ou Beja, só um ou dois partidos é que conseguem eleger deputados. Um círculo de compensação - como existe nos Açores - serviria para dar mais sentido a todos esses votos “desperdiçados” e tornaria o sistema ainda mais proporcional, mas como aqui explica o Luís Aguiar-Conraria poderia dificultar as soluções de governabilidade. Daí que PS e PSD não sejam favoráveis.

Esta segunda-feira de campanha foi assim, com apelos ao voto útil e acusações de chantagem, mas também com uma proposta do PS para os professores aposentados e com acusações e insinuações várias deixadas por André Ventura.