“Nunca é tarde para fazer um novo amigo”: Alegria de Viver quer criar comunidades em que ninguém se sente sozinho
Na primeira quarta-feira do mês celebram-se os aniversariantes do mês anterior
Alegria de Viver
Em Belém, um programa dedicado aos maiores de 65 anos proporciona um conjunto de atividades que se traduzem em “rotinas” para estabelecer laços e melhorar a qualidade de vida. A iniciativa, que visa construir “comunidades intergeracionais e de interajuda” em Lisboa, chegará brevemente à zona da Ajuda
“Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz”, lê-se n’O Principezinho. É mais ou menos o que acontece com Cidália Santos: a cada primeiro dia da semana, começa a contagem decrescente para quarta-feira, dia das atividades da Alegria de Viver. “Estamos sempre a pensar qual é o dia a seguir em que vamos estar juntos.”
Aos 78 anos, Cidália é uma das 100 pessoas com mais de 65 inscritas no programa que une a associação à Junta de Freguesia de Belém. A Alegria de Viver nasceu há dois anos “com o grande objetivo de combater a solidão não desejada das pessoas mais velhas”, conta ao Expresso a diretora executiva, Mariana Carreira. A ideia é “criar comunidades mais solidárias, inclusivas, participativas, onde nunca é tarde para fazer um novo amigo” e promover “uma melhoria de qualidade de vida, conforto e momentos de alegria”.
Para desenvolver estas “comunidades intergeracionais e de interajuda”, o trabalho passa por “rotinas” – todas as quartas-feiras há uma atividade. Na primeira do mês, o chá reúne os participantes à mesa: para conversarem e conviverem, enquanto recordam o mês anterior, celebram os aniversariantes desse período e antecipam o que se avizinha. As seguintes quartas-feiras são dedicadas ao “bem viver” – com workshops com a presença de especialistas, desde a PSP, médicos ou nutricionistas, para “dar ferramentas para um envelhecimento ativo e saudável” – ou à cultura, com excursões e visitas a exposições ou museus. Na última, a pista de dança abre-se para o baile.
“Em todas estas atividades, procuramos ter sempre pessoas mais novas. Porque um dos grandes objetivos da Alegria de Viver é a intergeracionalidade”, indica a responsável. É por isso também que está a ser preparado um projeto com o agrupamento de escolas do Restelo, com o intuito de “combater o idadismo” junto das gerações mais novas e de as ajudar a “preparar para uma vida longa e para uma longevidade com qualidade”.
Entre tudo isto, Cidália não consegue escolher o que prefere. Certo é que, desde há quase dois anos, quando decidiu experimentar integrar o grupo por incentivo de um casal amigo, nunca mais parou. “Vim um dia ver e claro que já não saí de cá. A pessoa sente-se bem aqui. Tratam-nos como sendo nós princesas e príncipes”, resume. A juntar ao conjunto de música a que pertence, relata satisfeita como tem o tempo “praticamente todo ocupado”. “Tempo e cabeça.”
Mas há mais. “Sei que não estou sozinha. Tenho alguém que, se precisar, ligo e está do outro lado ou vem ter comigo. É um apoio que temos. Isto faz toda a diferença nas nossas idades”, realça a septuagenária. A equipa da associação – que inclui uma assistente social – contacta frequentemente os 100 participantes. “Todos os dias enviamos um desafio, que pode ser para promover bem-estar físico, social ou emocional. Pode ser tão simples como ‘hoje vou telefonar a um amigo com quem não falo há muito tempo’ ou ‘hoje vou caminhar dez minutos’”, exemplifica Mariana Carreira. “Através destes contactos de muita proximidade e destas rotinas, cria-se um sentimento de pertença. Se precisarem de alguma ajuda, estamos cá para fazer pontes.”
A casa onde se situa a sede da associação funciona como “ponto de encontro”, mas para quem tem mobilidade reduzida ou está doente, há também a possibilidade de receber visitas ao domicílio, além de que a associação procura ainda o contributo de voluntários – são 20 atualmente. E, até ao final do ano, o âmbito de ação será alargado, com a chegada à freguesia da Ajuda.
“Depois da Ajuda, o sentido mais lógico seria avançar para Alcântara. Estamos a ver com a Câmara Municipal em que juntas faria sentido avançarmos”, refere a diretora executiva. Por agora, a “receita” já é prescrita no centro de saúde: o projeto integra a Rede de Prescrição Social, que procura responder a necessidades sociais e emocionais através de serviços e recursos que existem na comunidade.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.