Navalny em paradeiro desconhecido há mais de uma semana: equipa procura encontrar opositor russo “o mais rapidamente possível”
Alexei Navalny
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Principal opositor de Vladimir Putin está incontactável desde 5 de dezembro e não há informações sobre onde se encontra. Um dos membros da equipa que o apoia considera que o momento não é “coincidência” – aproximam-se eleições presidenciais na Rússia. Estados Unidos, União Europeia e Amnistia Internacional expressam preocupação com a situação, enquanto o Kremlin rejeita “qualquer interferência de quem quer que seja”
Desde 5 de dezembro que a equipa que apoia Alexei Navalny não sabe onde se encontra o principal opositor do Presidente russo. O antigo advogado, de 47 anos, terá sido transferido da colónia penal onde estava preso. O desconhecimento do paradeiro de Navalny ocorre pela mesma altura em que Vladimir Putin anunciou a candidatura às eleições presidenciais, marcadas para março do próximo ano.
No dia 8 de dezembro, os colaboradores do ativista anunciaram que não o conseguiam contactar há três dias, demonstrando preocupação com um “grave incidente de saúde” ocorrido na semana anterior, indicou Maria Pevchikh, presidente da Fundação Anticorrupção criada por Navalny. A porta-voz Kira Yarmysh disse que o ex-advogado teve de receber soro, após o que aparentou ser um “desmaio de fome”.
O antigo advogado deveria ter comparecido em tribunal na segunda-feira através de videoconferência, o que não aconteceu devido a “problemas de eletricidade”, de acordo com funcionários da prisão. No mesmo dia, a sua equipa anunciou que foi retirado da colónia penal onde se encontrava – a IK-6, em Melekhovo (235 quilómetros a leste de Moscovo) –, mas não sabe para onde foi.
Navalny tornou-se conhecido por fazer campanha contra a corrupção e organizar grandes protestos desfavoráveis ao Kremlin. Os assessores têm estado a preparar-se para uma transferência para uma colónia de “regime especial”, o grau mais severo do sistema prisional russo, depois da sua pena ter sido agravada em mais 19 anos de prisão em agosto, além dos 11 anos e meio que já cumpria.
“Ele pode estar em qualquer colónia de regime especial e há cerca de 30 por toda a Rússia. Vamos tentar ir a todas as colónias que existem e procurá-lo”, disse Kira Yarmysh à Reuters. A equipa tentou saber se Navalny foi transferido para um destes locais, a IK-7, o que foi negado pelos funcionários da instalação. O processo de transporte ferroviário de prisioneiros no vasto território russo pode demorar semanas, e é habitual que advogados e familiares não recebam quaisquer informações sobre a localização do indivíduo transferido até à chegada ao destino.
A porta-voz referiu também que a equipa está a planear uma campanha “anti-Putin”, a propósito das eleições que se avizinham, garantindo que o desaparecimento de Navalny não vai parar o esforço. “Neste momento, ele está completamente sozinho e está literalmente nas mãos de pessoas que já o tentaram matar. Não sabemos o que eles vão fazer. É por isso que é tão importante falar sobre ele e tentar encontrá-lo o mais rapidamente possível. Trata-se da sua vida, da sua saúde e segurança.”
Outro dos colaboradores de Navalny escreveu na rede social X (antigo Twitter) que o momento é “0% coincidência e 100% controlo político direto do Kremlin”. “Não é segredo para Putin quem é o seu principal opositor nestas ‘eleições’. E ele quer certificar-se de que a voz de Navalny não seja ouvida”, afirmou Leonid Volkov.
O Kremlin respondeu nesta terça-feira através de Dmitry Peskov. “Estamos a falar de um prisioneiro que foi considerado culpado nos termos da lei e que está a cumprir a sua pena. E aqui consideramos inaceitável e impossível qualquer interferência de quem quer que seja, incluindo os Estados Unidos”, disse o porta-voz russo.
Já o chefe da diplomacia europeia apontou que “os dirigentes políticos russos são responsáveis” pela “segurança e saúde” de Navalny na prisão, “pelo que terão de prestar contas”. “A União Europeia reitera o apelo à libertação imediata e incondicional do encarceramento por motivos políticos”, escreveu Josep Borrell na rede social X.
O diretor-adjunto da Amnistia Internacional para a Europa Oriental e Ásia Central também já reagiu. “Como se não bastasse a tentativa de envenenamento, a prisão e as condições desumanas da detenção, Alexei Navalny pode agora ter sido objeto de um desaparecimento forçado. O Kremlin, na sua vontade de reprimir os seus críticos, não se detém perante nada”, acusa Denis Krivosheev em comunicado.