Um dos principais opositores do regime russo, Alexei Navalny, foi condenado a 19 anos de prisão por “extremismo”. É a sua terceira e mais longa pena de prisão até agora. Condenado em 2022 a nove anos de prisão por fraude num processo que classificou como vingança política, estava desde junho a ser julgado à porta fechada por “extremismo”, no estabelecimento penitenciário IK-6 de Melekhovo, situado a 250 quilómetros a leste de Moscovo, onde se encontra a cumprir pena.
O opositor russo era desta vez acusado de ter criado uma “organização extremista”. O grupo que fundou, o Fundo Anticorrupção (FBK), já tinha sido encerrado pelas autoridades russas em 2021 por “extremismo”.
São 19 anos que se somam aos 11 que já tinha recebido por outros “crimes”, como fraude e corrupção, considerados, pelos advogados de Navalny e pelos seus apoiantes, como uma represália política. Navalny, noticia “The Washington Post”, foi condenado sob acusações de “criação de comunidade extremista”, “incitação ao extremismo”, “financiamento de extremismo”, “reabilitação da ideologia nazi”, “envolvimento de menores em atos perigosos” e ainda de “criação de organizações não-governamentais passíveis de violar os direitos dos cidadãos”.
O acusado já dissera, antes deste veredicto, esperar uma pena “longa, ao estilo estaliniano”, segundo mensagem divulgada pelos seus advogados e citada pelo jornal digital “Politico”. “A fórmula para calculá-la é simples: o que o procurador pediu menos 10-15%. A acusação pediu 20 anos, ser-me-ão dados 18 ou coisa semelhante”, declarou o mais conhecido opositor do Kremlin, sem errar por muito.
Nem os pais puderam assistir
O julgamento de Navalny aconteceu à porta fechada, numa prisão já de si inacessível ao público. A leitura da sentença, escreve “The Washington Post”, decorreu numa sala não identificada da Colónia Penal Número 6 na região de Vladimir. Os meios de comunicação social não puderem estar presentes, nem sequer os pais de Navalny foram autorizados a assistir à leitura da sentença, apenas tiveram acesso a uma parte do julgamento, no primeiro dia, através de uma ligação de vídeo.
Navalny sobreviveu a um envenenamento em agosto de 2020, segundo o Departamento de Estado dos EUA, por agentes de segurança russos. Regressou a Moscovo, após um período de recuperação na Alemanha, em janeiro de 2021. Foi imediatamente preso por alegadas quebras da sua liberdade condicional decretada num outro processo por fraude, igualmente considerado ilegítimo pelos seus advogados.
Na mesma mensagem em que classificou como “estaliniana” a sentença que esta sexta-feira se confirmou, Navalny anunciou que há outro processo a ser orquestrado contra si, por acusações que vão ainda mais longe, de “terrorismo”, que podem acrescentar uma década ao seu tempo na prisão, embora exista uma lei recente que visa limitar o tempo total de encarceramento a 30 anos.
“O principal objetivo é intimidar. A vós, não a mim. E digo mais: a vós especificamente, a vós, pessoalmente, que estais a ler estas linhas”, afirmou, dirigindo-se aos cidadãos russos que o seguem nas redes sociais. Alega que o caso está a ser impedido de passar na TV porque, se o cidadão comum pudesse testemunhar “uma sentença pesada por extremismo num caso sem vítimas nem consequências”, iria ficar do lado do acusado. “Por favor, pensem e percebam que, ao prender centenas, Putin está a tentar intimidar milhões”, disse Navalny na mesma mensagem.
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