O 715.º dia de Guerra na Ucrânia ficou marcado pela polémica conversa entre o Presidente da Rússia, Vladimir Putin e o antigo jornalista da Fox News, Tucker Carlson. Durante mais de duas horas, numa entrevista partilhada pelo antigo jornalista na rede social X (antigo Twitter), Putin mostrou-se sorridente, prestável, calmo e aproveitou para se fazer passar por alguém aberto ao diálogo.
No início desta semana, Tucker Carlson, conhecido simpatizante do ex-Presidente Donald Trump, já tinha anunciado que se encontrava em Moscovo para entrevistar o Presidente russo. Os motivos? “Porque é o nosso trabalho. Estamos no jornalismo. O nosso dever é informar as pessoas”, afirmou na rede social X.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, justificou a decisão de Putin em ceder a entrevista a Tucker Carlson com a posição assumida pelo antigo jornalista americano, que “não é de forma alguma pró-Rússia e não é pró-ucraniano. Em vez disso, é pró-americano.” Segundo Peskov, Carlson afasta-se dos restantes meios de comunicação ocidentais que tendem a assumir uma ”uma posição unilateral”.
Durante a entrevista em que Putin “disse o que quis, como quis”, vários analistas anotaram “a visão distorcida” que o Presidente russo tem do mundo e principalmente do impacto que as decisões russas têm tido no decorrer da guerra. Putin afirmou que uma derrota russa na Ucrânia seria “impossível”, afastou a possibilidade de invadir a Polónia ou a Letónia e deu a entender que queria que tivessem deixado a Rússia entrar na NATO após a queda da URSS – uma possibilidade que chegou pelo menos a ser debatida publicamente no início do século e do primeiro mandato de Putin como Presidente.
As críticas à entrevista não tardaram a chegar dos EUA e da Europa. Na Ucrânia, foi considerada como "mais um fracasso" da propaganda russa e o chefe do Serviço de Informações do Ministério da Defesa, Andrei Yusov, acusou Putin de querer "influenciar" o "mundo livre"." Aqui está um louco a falar de geopolítica e de disparates, Direito internacional, História e decidir que nação deve existir e qual não deve. Tudo isto é, obviamente, uma ilusão", afirmou.
Para a Comissão Europeia, a posição que Vladimir Putin assumiu durante a entrevista é apenas “mais do mesmo”. "Não encontrámos nada de novo naquela entrevista, repetiu mentiras antigas, distorções, manipulações e mostrou uma grande hostilidade para com o Ocidente, que não é novo", disse a porta-voz da Comissão Nabila Massrali.
No mesmo dia, o ministro da Defesa da Dinamarca, Troels Lund Poulsen, alertou para um possível ataque da Rússia contra países membros da NATO. Relembrou ainda que se antes se falava apenas na vontade que Moscovo tinha em atacar esses países, agora a maior preocupação é que Moscovo pode, de facto, ter capacidade para levar esses ataques avante.
Na rede social X, Guy Verhofstadt, antigo primeiro-ministro belga e atual membro do Parlamento Europeu, deixou claro que a entrevista terá consequências e que "os EUA sofrerão amanhã por tê-lo colocado a disseminar mentiras, sem contestação e sem filtro.”
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, condecorou Valeri Zaluzhni, que ocupava o cargo de chefe das Forças Armadas, como Herói da Ucrânia. Após a demissão de Zaluzhni, Zelensky foi alvo de várias críticas por parte da oposição e vários analistas veem riscos para o país nesta decisão.
⇒ Oleksandr Syrsky, nomeado como novo comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, afirmou que, para garantir a vitória é preciso um “aperfeiçoamento” do exército. Na primeira mensagem pública desde que assumiu o novo cargo, Syrsky disse que limitar a perda de vidas humanas é uma prioridade e "a distribuição e entrega rápida e racional de tudo o que é necessário às unidades de combate tem sido e continua a ser a principal tarefa da logística militar".
⇒ Ainda esta sexta-feira, Volodymyr Zelensky destituiu o o "número dois" das Forças Armadas da Ucrânia. Syrsky propôs o nome do major-general Anatoly Bargilevich para substituir Serhiy Shaptala. As mais recentes remodelações na estrutura militar da Ucrânia também abrangeram “os adjuntos do chefe de estado-maior”, segundo Zelensky.
⇒ A Rússia disse, esta sexta-feira, ter neutralizado 19 drones ucranianos “nas regiões de Kursk (dois), Briansk (cinco), Orel (quatro), Krasnodar (dois) e sobre o mar Negro (seis)”, num ataque que visava infraestruturas energéticas mas, aparentemente, sem registo de vitimas.
Pode rever tudo o que aconteceu no 715.º dia de guerra aqui.
Texto de Mariana Jerónimo, editado por João Pedro Barros