Guerra na Ucrânia

Rússia prepara-se para lançar satélite iraniano com capacidades sem precedentes para fazer espionagem no Médio Oriente e na Ucrânia

O lançamento está programado para terça-feira
O lançamento está programado para terça-feira
KIRILL KUDRYAVTSEV

O satélite é dotado de capacidades sem precedentes. De acordo com autoridades da segurança e defesa ocidentais, a Rússia terá dito a Teerão que, antes de o Irão o usar no Médio Oriente, precisará da tecnologia para captar alvos militares na Ucrânia

A Rússia prepara-se para lançar um satélite iraniano de monitorização remota em órbita na próxima terça-feira. Esta tecnologia aumentará largamente a capacidade do Irão de espionar alvos no Médio Oriente. No entanto, ainda antes disso, o satélite auxiliará os esforços de guerra de Moscovo na Ucrânia, de acordo com autoridades ocidentais na área da segurança citadas pelo jornal "The Washington Post".

A informação da data do lançamento foi confirmada pelos dois países, duas semanas depois de Vladimir Putin ter visitado Teerão. “Em cooperação com a Rússia, o satélite Khayyam será lançado na próxima semana, a partir da estação espacial Baikonur, no Cazaquistão, pela operadora de satélites Soyuz”, revelou a agência espacial iraniana nesta quarta-feira.

Os objetivos oficiais do lançamento deste satélite, batizado em homenagem ao poeta, matemático e astrónomo persa dos séculos XI e XII Omar Caiam, são “monitorizar as fronteiras do país”, aumentar a produtividade agrícola e fazer o acompanhamento e observação dos recursos hídricos e desastres naturais, acrescentou a agência espacial.

A Corporação Espacial Estatal da Rússia, Roscosmos, confirmou que o lançamento está programado para terça-feira, depois de uma negociação que se prolonga há quatro anos. "Um foguete Soyuz 2.1B está programado para ser lançado do Cosmódromo de Baikonur a 9 de agosto de 2022, de forma a colocar em órbita o dispositivo de monitorização remota, encomendado pela República Islâmica do Irão”, pode ler-se no comunicado divulgado pela corporação. O dispositivo Khayyam foi projetado e produzido por empresas que fazem parte da corporação estatal Roscosmos, conforme foi divulgado.

O anúncio do lançamento surge pouco tempo depois da visita de Putin ao Irão, a 19 de julho, quando o chefe de Estado russo se encontrou com o presidente Ebrahim Raisi e o líder supremo do Irão, Ali Khamenei. Ali Khamenei pediu, nessa circunstância, em conversa com Putin, o fortalecimento da “cooperação de longo prazo” com a Rússia.

A agência de notícias estatal iraniana IRNA adianta que o satélite é dotado de capacidades sem precedentes, como uma alta precisão de imagem, que o torna apto a captar a superfície da Terra em diferentes espectros visuais e fotografar instalações estratégicas em Israel e no Golfo Pérsico. A Rússia colocará o satélite no espaço, mas este será guiado e controlado a partir de estações terrestres no Irão, segundo a IRNA.

De acordo com autoridades ocidentais, Moscovo fará uso do satélite para já. A Rússia terá dito a Teerão que precisará do dispositivo durante, pelo menos, os próximos meses, para aumentar a vigilância dos alvos militares na Ucrânia.

Khayyam não será o primeiro satélite iraniano a ser lançado para o espaço pela Rússia. Em outubro de 2005, o satélite Sina-1, do Irão, cujos objetivos eram estudar e observar a Terra, foi enviado a partir do cosmódromo de Plesetsk, na Rússia.

Em junho de 2021, Putin rejeitou as alegações, patentes na imprensa norte-americana, de que a Rússia estaria pronta para entregar um sistema avançado de satélites ao Irão que melhoraria as suas capacidades de espionagem.

O Irão insiste que o programa espacial se destina apenas a fins civis e de defesa, e que não viola o acordo nuclear de 2015, entre o Irão e as potências mundiais, nem qualquer outro acordo internacional.

Os receios do Ocidente quanto ao Irão e à capacidade russa de espionagem

Os governos ocidentais temem, no entanto, que os sistemas de lançamento de satélites incorporem tecnologias compatíveis ​​com as usadas em mísseis balísticos capazes de lançar uma ogiva nuclear, algo que o Irão sempre negou querer construir.

O Irão colocou com sucesso o seu primeiro satélite militar em órbita em abril de 2020, o que mereceu uma forte repreensão por parte dos Estados Unidos da América. Em março, a Guarda Revolucionária, o braço ideológico das Forças Armadas do Irão, anunciou que tinha conseguido colocar em órbita um “satélite de reconhecimento” militar, o Nour-2.

Em julho, autoridades norte-americanas revelaram que o Irão iria fornecer à Rússia centenas de drones para efeitos de monitorização e vigilância, uma vez que Moscovo se debate com as dificuldades de acesso a alta tecnologia, face às sanções aplicadas pelo Ocidente.

De acordo com a CNN, a Marinha Russa recebeu, no início do mês de julho, o submarino mais longo do mundo, que deverá estabelecer, segundo as autoridades ocidentais, uma plataforma para espionagem e, possivelmente, armas nucleares. Os especialistas dizem que o Belgorod é uma versão modificada dos submarinos russos de mísseis guiados Oscar II, e que foi projetado para ser mais longo, com o objetivo de eventualmente acomodar os primeiros torpedos com armas nucleares do mundo e equipamentos para atividade dos serviços secretos. Se o Belgorod puder adicionar com sucesso essas novas capacidades à frota russa, poderá, na próxima década, preparar o cenário para um regresso à Guerra Fria arquitetada nos oceano, com submarinos norte-americanos e russos a captarem informação e dados sensíveis.

Com mais de 184 metros, o Belgorod é o submarino mais longo no oceano, mais comprido até do que os submarinos de mísseis balísticos e guiados da classe Ohio da Marinha dos EUA, que têm 171 metros.

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