Japão vai proibir os turistas de acederem ao bairro das geishas, em Quioto
Alex Ho
Em 2019, tinha sido proibido tirar fotografias a geishas. Agora, com o forte crescimento do turismo, a Câmara Municipal de Quioto decidiu proibir o acesso às ruas privadas do bairro onde trabalham estas mulheres
A partir de abril, os turistas vão deixar de poder visitar o bairro de Gion, onde se situam as casas de chá onde trabalham as famosas geishas, noticia a agência ‘The Associated Press’ (AP). Uma decisão tomada devido ao excesso de turismo na zona e também para proteger estas mulheres de turistas que as assediam.
As geishas são artistas profissionais treinadas para entreter clientes através de várias artes tradicionais, incluindo dança e música. São uma parte icónica da cultura japonesa, reconhecíveis pelos seus quimonos, cara pintada de branco e penteados elaborados.
A entrada nos restaurantes e casas de chá onde estas artistas atuam será limitado às geishas, clientes e residentes do bairro, segundo o jornal ‘South China Morning Post’. Só a principal rua do bairro, Hanamikoji, permanecerá aberta aos turistas.
O bairro “não é um parque temático”, defendeu Isokazu Ota, um funcionário da câmara, citado pela AP. Serão colocados sinais a avisar os turistas de que não podem caminhar nas “ruas privadas” e que haverá uma multa de 10.000 yens (cerca de 62 euros), em caso de transgressão. “Não queremos fazer isto, mas estamos desesperados”, disse.
O bairro é frequentemente visitado por turistas que têm comportamentos incómodos, ao ignorarem os sinais que pedem para manterem a distância ou para não tentarem tocar nos quimonos das mulheres. Há também queixas de turistas que invadem propriedade privada.
Muitos visitantes aguardam nas ruas longos períodos de tempo, na esperança de ver uma geisha para lhes tirarem fotografias, embora isso seja proibido desde 2019. “Eles colocaram sinais há alguns anos a dizer que era proibido fotografar as geishas, mas não existe sustentação legal e toda a gente os ignora”, diz Peter Macintosh, autor canadiano a viver na cidade desde 1993 e especialista sobre esta tradição japonesa, citado pelo ‘South China Morning Post’.
“O excesso de turismo não tem apenas a ver com grandes multidões, tem a ver com a falta de consciência cultural, que é uma grande parte do problema aqui”, explica James Mundy, um agente de viagens, citado pelo jornal 'The Telegraph'. Alguns turistas interessados em tirar uma foto de uma geisha possuem “falta de compreensão em torno da cultura e da etiqueta”.
As restrições aplicadas em Quioto não são únicas, outros locais do Japão também aplicaram limitações ao turismo. Quem quiser subir o Monte Fuji, por exemplo, terá de pagar 2.000 ienes (aproximadamente 12 euros). A taxa foi aplicada devido ao facto de os visitantes deixarem lixo na montanha, além de o congestionamento de pessoas poder provocar acidentes. O número de turistas diário também será limitado a partir de junho, de acordo com o jornal ‘The Guardian’.
Desde o fim das restrições da pandemia e devido também ao enfraquecimento da moeda, o iene, o turismo no Japão tem crescido. Em janeiro deste ano, o número de turistas estrangeiros no Japão aumentou quase 80%, o que corresponde a cerca de 2,69 milhões de visitantes, o mesmo nível registado no mesmo mês de 2019. Prevê-se que o número de turistas, em 2024, supere o recorde de 31,88 milhões registado em 2019, segundo a agência noticiosa ‘Reuters’.