Ásia

China com meta de crescimento de 5%, vai aumentar gastos militares em 7,2%: os ecos da Assembleia Popular Nacional

Xi Jinping, presidente da China, com Li Keqiang, primeiro-ministro chinês.
Xi Jinping, presidente da China, com Li Keqiang, primeiro-ministro chinês.
Lintao Zhang/GETTY

Na sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou uma nova meta de crescimento do PIB para recuperar a economia depois da pandemia e um (novo) aumento com gastos militares do país

O Governo chinês estabeleceu como meta para este ano um crescimento económico de “cerca de 5%”, num relatório divulgado antes do arranque da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo do país, que decorre durante dez dias.

A nova meta ficou abaixo da do ano passado, de cerca de 5,5%, no ano em que a política ‘zero casos’ de covid-19 deprimiu a atividade económica e resultou num crescimento de 3% da economia chinesa, o segundo ritmo mais lento em 40 anos.

O anúncio, feito pelo primeiro-ministro cessante, Li Keqiang, veio acompanhado de um objetivo concreto: estabilizar a economia. “Devemos priorizar a recuperação e expansão do consumo [interno]”, disse Li, num discurso proferido no Grande Palácio do Povo, junto à praça de Tiananmen, em Pequim, perante os cerca de três mil delegados da Assembleia Popular Nacional (APN).

Neste evento esperam mudanças estruturais do presidente Xi Jinping no governo, como uma reformulação da pasta das finanças e da tecnologia. É da respetiva posição na hierarquia do Partido Comunista Chinês (PCC) que advém o poder dos líderes chineses. A APN vai assim preencher os cargos dos órgãos do Estado.

Segundo o analista Adam Ni, que publica o China Neican, um boletim informativo sobre assuntos do país asiático, o líder chinês, Xi Jinping, vai obter um terceiro mandato como chefe de Estado, após ter obtido, em outubro passado, um terceiro mandato inédito como secretário-geral do Partido Comunista.

O primeiro ministro Li Keqiang vai ser substituído por Li Qiang, o anterior secretário do Partido Comunista em Xangai, a ‘capital’ económica da China, que entretanto foi promovido a número dois da organização, no 20.º Congresso.

Também da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN) surgiu o anúncio de um aumento em 7,2% com despesas militares, disse o primeiro-ministro Li Keqiang.

Trata-se do oitavo ano consecutivo de aumentos percentuais de um dígito, no que é agora o segundo maior orçamento militar do mundo.

A China gastou 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) nas suas Forças Armadas, em 2021, de acordo com o Banco Mundial. Em comparação, os Estados Unidos, que mantêm diferentes sistemas de alianças no exterior, gastaram 3,5%.

A China já estabeleceu uma base militar em Djibuti, no Corno de África, e está a modernizar a Base Naval de Ream, no Camboja, que lhe pode dar pelo menos uma presença semipermanente no Golfo da Tailândia, de frente para o disputado mar do Sul da China.

O esforço de modernização gerou preocupações entre os Estados Unidos e aliados, que temem que a China invada Taiwan. Pequim reivindica o território, que funciona como uma entidade política soberana, como uma província sua, que deve ser reunificada à força, caso seja necessário.

Isto suscitou a realização de várias vendas de armas para a ilha, incluindo sistemas terrestres, mísseis de defesa aérea e caças F-16. A ilha alargou recentemente o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano e está a revitalizar as suas próprias indústrias de defesa, incluindo a construção de submarinos, pela primeira vez.

Sobre Taiwan, Li Keqiang disse que o governo seguiu a "política geral do Partido [Comunista] para a nova era" e prometeu "lutar resolutamente contra o separatismo e a interferência [estrangeira]".

As tensões têm aumentado com os EUA também devido à militarização de ilhas no mar do Sul da China, que Pequim reivindica praticamente na sua totalidade, e, mais recentemente, o abate de um alegado balão de espionagem chinês na costa leste dos EUA.

A enorme capacidade industrial da China e os enormes gastos da Rússia em projéteis de artilharia e outros materiais na sua guerra contra a Ucrânia levantaram preocupações de que Pequim possa fornecer assistência militar a Moscovo.

Numa resposta por escrito a perguntas da agência Lusa, o Governo chinês negou esta semana que tenciona fornecer armas à Rússia.

"A China não vai realizar qualquer venda militar a partes beligerantes ou para áreas em conflito", afirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático. Pequim "teve sempre uma atitude prudente e responsável" na exportação de armas e equipamento militar, acrescentou.

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