Submarino Titan: seis perguntas e respostas sobre a investigação à “implosão catastrófica”
OCEANGATE EXPEDITIONS/Reuters
Tentar recolher o maior número de destroços possível é uma das prioridades para procurar perceber o que se passou com o submersível que viajava até ao que resta do Titanic. E os corpos, poderão ser recuperados? E quem vai investigar, e como? O Expresso preparou um conjunto de perguntas e respostas sobre os próximos passos
A confirmação surgiu ao início da noite de quinta-feira: as cinco pessoas a bordo do Titan, submarino desaparecido no oceano Atlântico durante uma viagem aos destroços do Titanic que começou no domingo, morreram na sequência do que terá sido uma “implosão catastrófica” do veículo da empresa OceanGate.
Mas as questões sobre o que poderá justificar o que aconteceu ao submarino – que perdeu a comunicação uma hora e 45 minutos depois do início da viagem, a mais de 3000 metros de profundidade – permanecem e é certo que a investigação que se segue será complexa.
Que destroços foram encontrados?
Após mais de quatro dias de buscas com recurso a meios aéreos e navais, um veículo operado remotamente descobriu destroços do Titan, a aproximadamente 490 metros da proa do Titanic – que se encontra a 3800 metros de profundidade, depois de se ter afundado, em 1912. Os cinco fragmentos encontrados incluem o cone da cauda da embarcação e duas secções do casco de pressão.
Para que as autoridades possam apurar o que aconteceu, será fundamental recolher a maior quantidade possível de destroços, incluindo pedaços da fibra de carbono de que era feita parte da embarcação – que continha também aço com titânio e pesava cerca de dez toneladas.
O conjunto de destroços encontrado é “consistente” com uma “implosão catastrófica” do veículo, explicou o contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira dos Estados Unidos.
A Marinha dos Estados Unidos também indicou que uma análise dos seus dados acústicos detetou uma “anomalia consistente com uma implosão ou explosão” perto da localização do submersível quando este perdeu a comunicação.
Os corpos vão ser recuperados?
A Guarda Costeira dos Estados Unidos não consegue confirmar se será ou não capaz de localizar os corpos das vítimas. “Este é um ambiente incrivelmente implacável”, classificou o contra-almirante John Mauger.
Na viagem seguiam o fundador e diretor executivo da empresa, Stockton Rush, de 62 anos, o antigo mergulhador da Marinha francesa Paul-Henry Nargeolet (77), o empresário britânico Hamish Harding (58), o empresário paquistanês Shahzada Dawood (48) e o seu filho, Suleman (19).
Não se sabe qual a agência que irá liderar a investigação, pois não existe um protocolo para este tipo de incidentes com submersíveis. Além disso, John Mauger explicou que a situação é especialmente complexa porque o desastre ocorreu numa zona remota do oceano, com pessoas de diferentes nacionalidades.
Representantes dos países envolvidos têm-se reunido para debater como decorrerá a investigação. O objetivo passa por procurar confirmar a teoria da implosão, quando ocorreu e porquê.
As equipas médicas e as embarcações que trabalharam nas buscas têm vindo a ser desmobilizadas ao longo das últimas horas, mas alguns veículos de operação remota que atuam no fundo do mar vão, por enquanto, manter-se.
John Mauger, contra-almirante da Guarda Costeira dos Estados Unidos
Scott Eisen
Como é que o caso vai ser investigado?
Embora não exista caixa negra, pelo que não será possível acompanhar os últimos movimentos da embarcação, o processo de investigação não é muito diferente do de um acidente de avião, explicou à BBC o antigo comandante da Marinha Real britânica Ryan Ramsey.
Após a recolha de destroços, é necessário procurar a rutura na estrutura de fibra de carbono: cada peça será examinada ao microscópio, para analisar a direção dos filamentos, procurando rasgões que sugiram o local exato onde ocorreu a rutura.
Outra fonte potencial de informação sobre o que aconteceu são os hidrofones – microfones subaquáticos, que são usados por exemplo para escutar testes ilícitos de armas atómicas. Estes dispositivos ajudaram a concluir que o submarino argentino San Juan, desaparecido em 2017, tinha implodido.
Já tinham sido levantadas dúvidas sobre a segurança do Titan. O antigo diretor de operações da OceanGate David Lochridge defendeu em 2018 que os testes eram insuficientes. Foi despedido, o que envolveu um processo judicial cujo acordo não é conhecido. No mesmo ano, uma carta enviada à OceanGate pela Marine Technology Society alertava que a “abordagem experimental” da empresa poderia levar a “resultados negativos”.
Se a implosão tiver ocorrido devido a uma falha estrutural do submersível, o ponto crítico é saber se tal se deveu à falta de testes adequados. No entanto, a violência da implosão pode tornar muito difícil determinar a sequência dos acontecimentos. A fibra de carbono falha devido a “defeitos internos” na construção e as juntas entre a fibra e o titânio precisam de uma inspeção muito cuidadosa, salientou à BBC o professor do Imperial College Roderick A Smith.